Santos Moreira ouve denúncias de tortura e morte em Ipatinga
O secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, e o delegado regional do Vale do Aço, Luís Inácio Gomes de Barros,...
15/06/1998 - 19:03Santos Moreira ouve denúncias de tortura e morte em Ipatinga
O secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, e o delegado regional do Vale do Aço, Luís Inácio Gomes de Barros, participaram nesta quarta-feira (22/05) de audiência pública da Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais, presidida pelo deputado João Leite (PSDB). A reunião, solicitada pelo deputado Ivo José (PT), que teve a finalidade de discutir denúncias de torturas praticadas por policiais civis e militares em delegacias de polícia do Vale do Aço, foi marcada pelos depoimentos de um menor e de um preso albergado ameaçado de morte e pela troca de acusações e pedidos de desculpas entre o delegado e o padre Luís Carlos de Castro, que preside a Comissão de Direitos Humanos de Ipatinga. O padre Castro apresentou um dossiê com mais de uma dezena de casos que vão de abuso de autoridade, prisão ilegal e constrangimento a extermínio de sentenciados. Os casos não apurados, segundo o padre, vem ocorrendo desde 1988. Estavam presentes o menor I.M.S.J., 15 anos, mencionado no dossiê por ter sofrido tortura, e o preso albergado José Geraldo Martins dos Santos, ameaçado de morte por policiais militares. Depois de ouvir a leitura do dossiê, o secretário Santos Moreira disse que a polícia mineira está orientada atualmente para realizar investigações e não para obter confissão através de violência. "Mesmo sendo difícil fazer segurança pública com recursos técnicos e humanos defasados, queremos ter uma polícia cidadã, disse o Secretário. Acrescentou que os índices de violência policial no governo Eduardo Azeredo foram reduzidos em 85% e garantiu que a tortura está erradicada como prática policial em Minas, pois ele não aceita pressão sobre o cidadão, "que tem o direito de negar o delito, cabendo a polícia provar o contrário." Lembrando que o Vale do Aço é uma região historicamente marcada pela violência, o secretário afirmou que parte dos crimes referidos no dossiê da Comissão de Direitos Humanos de Ipatinga não estão apurados, são misteriosos, mas afastou possibilidade de envolvimento de policiais. Por fim, o Secretário de Segurança disse que quer trabalhar lado a lado com os grupos de direitos humanos. "Queremos todos como protagonistas, não como antagonistas", frisou o Secretário. O delegado Luís Inácio detalhou a situação de cada processo sobre os casos enumerados pelo Pe. Castro, abstendo-se de comentar os casos que envolviam policiais militares. No caso do menor I.M.S.J, o delegado disse que o rapaz teria agredido o detetive Antoninho Fagundes, que revidou e foi punido por isso. Acrescentou que o menor tem uma folha policial que inclui agressões ao pai, "que ficou entrevado", e à mãe. O delegado disse ainda que está sendo reformado o sistema prisional de Ipatinga, para atender melhor aos detentos. O Pe. Castro criticou as observações do delegado, afirmando que a reforma no presídio não modificará a situação das prisões ilegais e denunciou a recusa da polícia de Ipatinga em receber a Comissão de Direitos Humanos, referindo-se à proposta do Secretário de eliminar a relação de antagonismo com as entidades. Disse ainda que ficava constrangido com o fato de o delegado "condenar um adolescente publicamente". O delegado Luís Inácio tomou as críticas do padre Castro como ataque pessoal e reagiu dizendo que o padre não tinha moral, porque fora expulso da cidade de Cláudio por viver maritalmente com uma mulher. O presidente João Leite interferiu, pedindo serenidade aos presentes. O padre disse que suas críticas não eram à pessoa do delegado, que, por sua vez, deixou de apresentar outras denúncias contra o padre. O Secretário Santos Moreira foi poupado da situação de "antagonismo" por ter-se ausentado momentaneamente da reunião. O menor I.M.S.J. negou a acusação de agressão ao detetive Antoninho Fagundes, com o argumento de que estava algemado e assentado no momento em que o detetive o teria agredido, juntamente com outra pessoa a que referiu como "Dr. Renato". Acrescentou que o detetive chegou a ameaçar sua irmã grávida de nove meses. No momento mais dramático, o menor alegou que não podia ser responsabilizado pela paralisia do pai. "Ele sofreu um derrame, mas "não trouxeram aqui as ocorrências do meu pai espancando minha mãe e meus irmãos", disse. O preso albergado José Geraldo Martins dos Santos disse que presenciou o espancamento do menor pelo detetive e por isso está ameaçado de morte. José Geraldo disse que presenciou várias vezes, na cadeia, a chegada de menores molhados, tarde da noite, pois os policiais esperavam o delegado sair para levá-los até uma lagoa onde sofriam a tortura conhecida por "afogamento". Ele disse também que vai pedir ao juiz autorização para não dormir na casa de albergue, enquanto as ameaças continuarem. " Não vou dar a minha vida de graça", acrescentou. Martins denunciou ainda que policiais de Ipatinga se julgam no direito de agredi-lo. "Ontem tomei um tapa na orelha. Outro dia um policial desceu do carro com dois revólveres e me ofereceu um para trocar tiros com ele, dizendo que ia me matar", declarou. O vereador Robison Ayres, que preside o Grudo de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Ipatinga, disse que o crime cometido não descredencia a pessoa para se defender ou defender as idéias em que acredita. "Isso vale para o Padre Castro e para os jovens que cometeram delitos e aqui estão", exemplificou. Disse que a defesa dos direitos não pode ser confundida com defesa da impunidade. "Mas também não podemos, em nome da punição ou da proteção da sociedade, justificar atos de violência de autoridade", sentenciou. O delegado Luís Inácio disse que não aceita espancamento e que pediu a prisão de vários policiais na região por crimes diversos. "Não passamos a mão na cabeça de policiais corruptos e violentos", concluiu. A Comissão aprovou requerimentos do deputado Ivo José, solicitando o envio do dossiê da Comissão de Direitos Humanos de Ipatinga à PMMG, com pedido de resposta por escrito às denúncias, e outro, que solicita cópia dos documentos apresnetados pelo delegado Luís Inácio Gomes de Barros. Participaram dos debates os deputados Hely Tarquínio (PSDB), Antônio Roberto (PMDB), Marcelo Gonçalves (PDT), Paulo Schettino (PTB) e Carlos Pimenta (PL). Pareceres A Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais aprovou, ainda, parecer do deputado Antônio Roberto, pela rejeição do PL nº 693/96, do deputado Marcos Helênio (PT), que veda a restrição de acesso a edifícios de qualquer natureza, em virtude de raça e cor ou condição social. Foi aprovado também requerimento do deputado João Leite solicita ao Ministério Público intervenção no município de Pirapora, por não cumprimento de dispositivos constitucionais por parte da Prefeitura Municipal.
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