Atingidos por barragens apresentam proposta à Alemg
A regulamentação do artigo 194 da Constituição mineira, que responsabiliza o Estado pela promoção de um plano de assi...
15/06/1998 - 19:04Atingidos por barragens apresentam proposta à Alemg
A regulamentação do artigo 194 da Constituição mineira, que responsabiliza o Estado pela promoção de um plano de assistência social às populações de áreas inundadas por reservatórios, encabeça a lista de reivindicações das famílias de áreas atingidas por barragens, encaminhada ontem ao deputado Ivo José (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente. O documento foi entregue durante audiência pública da Comissão, convocada para debater o impacto sobre a população ribeirinha e o meio ambiente, por obras de construção de barragens. Participaram da reunião, representantes de várias entidades ligadas a movimentos de atingidos por barragens e de órgãos públicos envolvidos com o problema, como a Cemig e a Fundação do Meio Ambiente (Feam). O representante da Comissão Pastoral da Terra, Ricardo Ferreira Ribeiro, advertiu que as obras de construção de barragens estão trazendo mais problemas que soluções para as regiões onde estão instaladas. As famílias das áreas inundadas estão recebendo indenizações insuficientes para repor seus bens e, muitas vezes, não são nem capazes de negociar novos valores. "Eles nem sabem calcular o valor de seus bens, acumulados ao longo de várias gerações e com valor apenas de uso - disse ele -, pois nunca pensaram em dispor desse patrimônio". Impacto econômico - Outro problema provocado pelas obras é a desarticulação das atividades produtivas da região, especialmente no período da mudança, agravando a situação de miséria das famílias não proprietárias e de pequenos produtores. Diante desse quadro, que hoje ameaça perto de 10 mil pessoas em Minas Gerais e já atingiu, nos últimos 30 anos, mais de 1 milhão em todo o Brasil, é que os movimentos dos atingidos por barragens estão reivindicando a regulamentação do artigo 164 da Constituição do Estado. Falando em nome dessas famílias, Ricardo Ribeiro defendeu que o projeto de regulamentação inclua, como condição obrigatória para início da instalação do reservatório, o reassentamento das famílias atingidas. "Isso é o mínimo que deveria ser feito" - frisou o representante da Pastoral da Terra, propondo que as famílias sejam transferidas para áreas vizinhas à que moravam, de preferência no mesmo município, para que não percam seus laços familiares e culturais e tendo ainda garantida as obras de infra-estrutura dos novos povoamentos. Os movimentos reivindicam ainda que, durante a fase de mudança, as famílias atingidas recebam um salário, já que suas atividades produtivas estarão suspensas e, depois de reinstaladas, recebam assistência técnica e recursos subsidiados para que possam reconstruir suas plantações. Licença prévia - Os representantes das famílias atingidas por barragens propuseram ainda uma série de emendas à deliberações do Conselho de Política Ambiental (Copam), ligado à Feam, e que tratam das licenças prévia, de instalação e de operação para novos barramentos. O professor da Universidade Federal de Viçosa e representante do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas pelas Barragens, Franklin Daniel Rothmam, defendeu que as audiências públicas, realizadas hoje entre os empreendedores e as comunidades atingidas por barramentos, se tornem obrigatórias, através de lei estadual. Os movimentos propõem ainda que o Copam aumente de 45 para 90 dias o prazo que as comunidades têm para convocar a audiência pública, contados a partir do início do processo de pedido de licença prévia, junto ao Conselho. Defendem ainda que o próprio Copam deve comunicar as comunidades sobre o início do processo, já que a sua divulgação no Diário Oficial é insuficiente para dar essa publicidade, e orientá-las sobre a possibilidade da convocação das audiências públicas. Franklin Rothmam destacou que o acesso à informação, seja do processo de tramitação dos pedidos de licença, seja sobre o conteúdo dos Estudos de Impacto Ambiental e dos Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-Rima), é muito difícil, principalmente para as populações rurais, comprometendo assim a sua compreensão sobre os fatos que irão ocorrer com a instalação das barragens. O representante da Feam, José Cláudio Junqueira falou que o processo de liberação das licenças prévias é ainda recente e são poucas as barragens já instaladas no Estado que cumpriram essa tramitação. Mas ele reconheceu que é esse o momento mais importante para ser trabalhado pela comunidade. Depois que a licença prévia é concedida, é difícil interromper o processo de instalação da barragem. As obras - O representante da Cemig, chefe do Departamento de Meio Ambiente, Jaimes Gomes Pitt Simpson, falou sobre as obras de Igarapava e Irapé, afirmando que mesmo não estando ainda previstas pela Copam, a empresa promoveu reuniões públicas com as comunidades atingidas por Igarapava para analisar os impactos econômicos e sociais das obras. Sobre Irapé, Simpson afirmou que o processo está suspenso, em função da decisão do governo federal que anulou todas as concessões autorizadas anteriormente à aprovação da nova Lei de Concessão. As discussões sobre a barragem de Irapé voltaram à estaca zero, depois de quase 40 reuniões da Cemig com as comunidades da região atingida. O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Ivo José, destacou a importância da continuidade dessa discussão sobre o impacto sócio-econômico das obras de barramento e adiantou que a Comissão irá analisar as reivindicações das famílias atingidas e dar encaminhamento às reformulações legislativas que se fizerem necessárias. Participaram ainda da reunião os deputados Antônio Roberto (PMDB), Wilson Trópia (PV) e Geraldo Rezende (PMDB).
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