Reforma da previdência é debatida na Comissão do Trabalho
Representantes de sindicatos e associações de fiscais de contribuições previdenciárias criticaram, nesta terça-feira ...
03/06/1998 - 06:31Reforma da previdência é debatida na Comissão do Trabalho
Representantes de sindicatos e associações de fiscais de contribuições previdenciárias criticaram, nesta terça-feira (2/6), a reforma da previdência social, que tramita em 2º turno no Congresso, em Brasília. Eles participaram de reunião da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, juntamente com representantes do INSS, que defenderam a proposta do governo. A votação da reforma pode ser concluída ainda esta semana. Lobby - Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias, Severino Cavalcanti de Souza, o que está por trás da proposta do governo é a privatização do sistema e a submissão ao lobby das seguradoras. "A reforma foi encaminhada ao Congresso sem discussão com a sociedade, gerando um clima de terror e desconfiança", disse. A conseqüência, segundo ele, foram as aposentadorias precoces: 2,5 milhões no sistema geral de previdência (INSS) e mais de 120 mil aposentadorias no serviço público. Segundo o texto que tramita agora em 2º turno, prevaleceu a idade mínima apenas para as regras de transição: aposentadoria aos 53 anos de idade para homens e aos 48 anos de idade para mulheres. A proposta também estabelece redutores nos valores da aposentadoria para o funcionalismo público, dependendo do tempo de serviço prestado. Isenções a entidades são alvo de críticas Cavalcanti de Souza criticou ainda as sucessivas anistias concedidas pelo Executivo a empresas que não recolheram suas contribuições, além das isenções a entidades filantrópicas. "A Golden Cross enquadra-se neste grupo, e o governo não faz nada para mudar este quadro", destacou. Segundo o chefe da Divisão de Fiscalização do INSS, Márcio Soares Pereira, chega a R$ 2,5 bilhões a perda anual decorrente das isenções concedidas a essas entidades. "Se isso fosse resolvido, teríamos um acréscimo de 5% na receita previdenciária", informou Pereira. Defasagem - O presidente da Associação Nacional dos Fiscais, que tem mais de 10 mil associados no país, lembrou também a diminuição do número de profissionais encarregados de garantir o aumento da arrecadação do INSS. Em 1974, havia 7 mil profissionais para fiscalizar 500 mil empresas. Em 1998, apenas 4 mil pessoas têm que averiguar as contas de 3,5 milhões de firmas. Segundo o superintendente do INSS em Minas, Afonso Ligório de Faria, no nível médio - que corresponde a 70% da força de trabalho da Previdência Social - há 1,2 mil cargos vagos atualmente. Má administração e uso indevido de recursos criaram problema Para o superintendente do INSS em Minas, houve erros estratégicos na administração da previdência no Brasil: a falta de visão do futuro e o uso indevido dos recursos, na época em que o número de contribuintes (ativos) era maior do que o de pessoal beneficiado (inativo). "O dinheiro foi utilizado para capitalizar empresas estatais, construir Brasília e a ponte Rio/Niterói", destacou. Segundo Severino Cavalcanti de Souza, o governo "deve" à Previdência mais de R$ 60 bilhões, de 1960 até a década atual. Déficit - Segundo Afonso Ligório de Faria, a despesa atual da Previdência é de R$ 90 bilhões (somando INSS e setor público). No caso do sistema geral, a arrecadação anual é de R$ 44 bilhões, contra uma despesa de R$ 48 bilhões. Quando o assunto é o serviço público, no entanto, o problema é maior, segundo Faria, porque não se criou um Fundo de Aposentadoria. Nova proposta de reforma já foi anunciada pelo governo A representante da Federação Nacional dos Fiscais Previdenciários, Juliana de Araújo Alves, lembrou, ainda, a proposta de tramitação de uma nova reforma. Nela, quem ganhar até R$ 600,00 terá um regime geral de previdência; quem receber de R$ 600,00 a R$ 1,2 mil terá uma previdência complmentar compulsória, com contribuições individuais administradas por fundos de pensão, públicos ou privados; e, acima deste valor, a previdência será apenas privada. Segundo Juliana Alves, ao passar a previdência social do sistema de repartição para o de capitalização individual, o governo deixará um passivo de R$ 2 trilhões. Alertou, ainda, para o fato de que, na previdência privada, a taxa de administração pode variar de 3% sobre o saldo da aplicação, até 12% nos depósitos. Sua rentabilidade é de 6% ao ano mais IGPM - similar à da poupança, segundo Juliana Alves. Falaram também o presidente da Associação dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias em Minas, Marcos Barbonáglia da Silva, e o presidente do Sindicato dos Fiscais no Estado, Robson Couto - que criticaram a proposta do governo. Perguntas - Todos os convidados responderam as indagações dos deputados Carlos Pimenta (PSDB), que defendeu o esclarecimento das dúvidas da população; Adelmo Carneiro Leão (PT), que criticou a forma pela qual a reforma está sendo feita, com "autoritarismo e sem justiça social"; e Anivaldo Coelho (PT), que destacou a oposição entre as opiniões de governo e sindicalistas. Presenças - O debate desta terça foi solicitado em requerimento do deputado Olinto Godinho (PTB), presidente da Comissão do Trabalho. Compareceram à reunião os deputados Carlos Pimenta (PSDB), que a presidiu, Adelmo Carneiro Leão (PT), Wilson Trópia (PFL) e Anivaldo Coelho (PT), além dos seguintes convidados: o superintendente estadual do INSS em Minas Gerais, Afonso Ligório de Faria; o chefe da Divisão de Fiscalização do instituto, Márcio Soares; o presidente da Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias, Severino Souza; a representante da Federação Nacional dos Fiscais Previdenciários, Juliana de Araújo Alves; o presidente da Associação dos Fiscais em Minas Gerais, Marcos Barbonáglia; e o presidente do Sindicato dos Fiscais em Minas Gerais, Robson Couto.
Responsável pela informação: Fabiana Oliveira - GCS - 031-2907800