Proposta de unificação de Tribunais é debatida com convidados
"A Justiça Militar é uma justiça especializada e existe para ordenar a vida militar. Não é resquício da ditadura, não...
03/06/1998 - 06:31Proposta de unificação de Tribunais é debatida com convidados
"A Justiça Militar é uma justiça especializada e existe para ordenar a vida militar. Não é resquício da ditadura, não é corporativista e, em Minas Gerais, a condenação de oficiais e praças acontece em maior número do que em todos os Estados onde não há tribunais especializados para os militares". Com esses argumentos, o juiz-coronel da PM Jair Cançado Coutinho defendeu sua posição contrária à extinção do Tribunal de Justiça Militar, do qual é o atual presidente. Juntamente com outros convidados, ele participou ontem (02) da reunião da Comissão Especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição 52/98, do deputado Durval Ângelo (PT), que trata da unificação dos Tribunais de Alçada e de Justiça do Estado de Minas Gerais e da transformação do Tribunal de Justiça Militar em Conselhos de Justiça Militar, que seriam órgãos do Poder Judiciário. A extinção do Tribunal de Justiça Militar e sua tranformação em Conselhos de Justiça foi abertamente defendida pelo presidente da Amagis, juiz Elpídio Donizete Nunes, assim como a unificação dos Tribunais de Alçada e de Justiça. Segundo ele, que também participou da reunião, não há razão para a existência de um forum especial para os militares, e a análise das especificadades inerentes à carreira militar e à filosofia da corporação seriam perfeitamente atendidas pelos Conselhos, quando do julgamento de algum processo. Os demais convidados da reunião da Comissão Especial foram todos unânimes em defender a unificação dos Tribunais de Alçada e de Justiça, sem, contudo, particularizarem a questão da Justiça Militar. O presidente do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, juiz José Antonino Baía Borges, ressaltou que a única diferença relevante entre os dois tribunais é no tocante à carreira dos magistrados, já que as competências jurisdicionias são idênticas. Ele lembrou, inclusive, que em dezembro de 1996, em uma reunião com a participação de todos os juízes, o Tribunal de Alçada aprovou uma manifestação unânime favorável à unificação dos Tribunais. Desembargador destaca aspectos da experiência gaúcha O 3º vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, desembargador Tael João Selistre, participou da reunião para relatar a experiência de seu Estado na unificação dos Tribunais, aprovada no ano passado pela Assembléia gaúcha através de emenda à Constituição, e regulamentada posteriormente em lei ordinária. O desembargador disse que, no âmbito do Tribunal de Justiça, a aprovação da proposta de extinção do Tribunal de Alçada foi apertada, com 13 votos a favor e 12 contra. Ele próprio era contrário mas hoje declara-se totalmente favorável à unificação. "O Tribunal de Alçada perdeu sua razão de ser. Foi criado para desafogar o Tribunal de Justiça, é célere, mas gera muitas dúvidas de competência", afirmou. Segundo Tael Selistre, vários aspectos devem ser observados pela Assembléia de Minas durante a apreciação da matéria, para que alguns equívocos cometidos na experiência gaúcha sejam evitados. Ele defende por exemplo, que a mudança seja feita através de projeto de lei de iniciativa do Tribunal de Justiça, que pode ser mais abrangente e tratar de aspectos da carreira, por exemplo, o que uma emenda do Legislativo não pode fazer, já que um Poder não pode legislar sobre a carreira e os quadros de outro Poder. Ele destacou as questões pertinentes à mudança de denominação e de criação de cargos e falou também sobre aspectos dos planos de carreira - tanto de juízes e desembargadores quanto de funcionários dos dois Tribunais; das atribuições dos desembargadores e dos critérios que devem ser adotados na atribuição e distribuição das competâncias do Tribunal resultante da unificação. No Rio Grande do Sul, a unificação não atingiu o Tribunal de Justiça Militar, que foi mantido, mas beneficiou os juízes militares, uma vez que, por terem equiparação salarial com os juízes do tribunal de Alçada, passaram a ter equiparação com os desembargadores. Unificação torna Justiça mais eficiente Outra veemente defesa da unificação dos Tribunais de Alçada e de Justiça foi feita pelo vice-presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, Reinaldo Ximenes Carneiro, para quem "a PEC 52 é a melhor proposta para uma prestação de serviços jurisdicionais mais eficiente e eficaz". Ele apresentou uma série de razões para defender a mudança: racionalização de serviços e de custos, unidade de comando, eliminação de conflitos de competência, dentre outros, o que, para ele, resultarão na modernização e agilidade efetivas da Justiça. Segundo ele, a magistratura brasileira sempre trabalhou no sentido da unificação dos tribunais de segunda instância. Ele disse apenas não entender porque o Tribunal de Justiça de Minas Gerais ainda não se manifestou. Também os presidentes da OAB/MG, Marcelo Leonardo, e da Associação Mineira do Ministério Público, Olavo Antônio de Morais Freire, defenderam a unificação dos Tribunais - sem, contudo, falarem sobre a Justiça Militar. Marcelo Leonardo ressaltou que "é preciso convencer a corte a aderir à idéia". Presidente do TJMG será novamente convidados Foi aprovado requerimento do deputado Ambrósio Pinto (PTB) solicitando que o desembargador Lúcio Urbano, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, seja novamente convidado a participar de reunião da Comissão Especial para debater a Proposta de Emenda. Ele foi convidado para a reunião de ontem mas não compareceu, não enviou representante e nem justificou sua ausência. A requerimento do deputado Tarcísio Henriques (PSDB) também será reiterado o convite para debater a proposta ao presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Sálvio Figueiredo, que justificou sua ausência alegando compromisso assumido no exterior. Outro requerimento aprovado, do deputado Durval Ângelo (PT), convida para discutir a proposta reprsentantes do Sindicato dos Servidores da Justiça de 2ª Instância - a presidente da entidade, Edilene das Graças Andrade, junatmente com outros representantes, acompanhou toda a reunião. O Sindicato reúne cerca de três mil funcionários dos Tribunais de Justiça, de Justiça Militar e de Alçada do Estado de Minas Gerais. Presenças - Participaram da reunião da Comissão Especial o deputado Sebastião Costa (PFL), seu presidente; Ambrósio Pinto (PTB), relator da matéria; Durval Ângelo (PT), autor da PEC, Tarcísio Henriques (PSDB) e Jorge Hannas (PFL), além de todos os convidados citados.
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