Incra diz que vai vistoriar áreas de conflito no Rio Doce
O superintendente regional do Incra, Aílson Silveira Machado, garantiu, nesta quarta-feira (6/5), que o órgão fará, n...
07/05/1998 - 02:43Incra diz que vai vistoriar áreas de conflito no Rio Doce
O superintendente regional do Incra, Aílson Silveira Machado, garantiu,
nesta quarta-feira (6/5), que o órgão fará, nos próximos 60 dias, vistoria
técnica nas áreas da Acesita, na região da Fazenda Confinamento, em Periquito
(Vale do Rio Doce). A vistoria é o primeiro passo para tentar resolver o
conflito no local, onde estão acampadas 300 famílias de sem-terra que
reivindicam assentamento. A garantia foi dada em reunião da Comissão de
Política Agropecuária e Agroindustrial, convocada a requerimento do deputado
Marcos Helênio (PT) para tentar resolver o problema.
Ocupação - As famílias, que tinham ocupado a Fazenda Confinamento, estão
atualmente às margens da BR-381, depois da reintegração de posse requerida
pela Acesita Energética e determinada pela Justiça. A Fazenda Confinamento,
onde existe plantio de eucalipto, faz parte de uma área de 20 mil hectares
pertencente à Acesita e é considerada produtiva. Além dela, há terras não-
agricultáveis - mas próprias para pecuária - que a companhia se dispõe a
colocar à venda. Segundo Aílson Machado, o Incra pode, em casos graves,
adquirir terras. O impasse, no entanto, continua.
Negociação está emperrada entre Acesita, MST, Incra e governo
Na reunião desta quarta, o presidente da Acesita, Rubem Teodoro da Costa,
disse que a companhia está disposta a negociar, mas lembrou que o valor de
mercado das terras está acima do que o Estado pode pagar. Dependendo das
benfeitorias e das condições favoráveis do meio ambiente, o preço do hectare
pode chegar a R$ 1 mil. Para comprar as terras, o Incra precisa, antes, fazer
um levantamento da relação custo-benefício de cada família a ser assentada,
informou Aílson Machado.
Conflito - "Não tínhamos intenção de atravancar o processo, mas fomos
traídos com a invasão da área no meio das negociações", disse o presidente da
Acesita, referindo-se ao MST. O coordenador do Movimento dos Sem-Terra,
Brasilino Moreira da Silva, replicou que os trabalhadores rurais não pretendem
sair da região. "É mais fácil colocarmos veneno nos eucaliptos para abaixar
seu preço, do que saírmos da beira da estrada", ameaçou. Silva propôs ainda à
Acesita que as famílias e a empresa utilizem conjuntamente a área da Fazenda
Confinamento, caso o processo de negociação seja bem-sucedido. O presidente da
companhia disse, no entanto, que a proposta é inviável, pois o corte de
eucalipto é feito com máquinas pesadas e é uma operação que se repete três
vezes em 21 anos.
Cora recebe críticas. Cadastramento das famílias tem impedimentos
Os representantes do MST e da Acesita criticaram ainda a atuação da
Comissão Operacional da Reforma Agrária (Cora), que teria, segundo eles, se
ausentado das negociações. A Comissão é ligada ao governo do Estado e
encarregada de intermediar o processo de reforma agrária em Minas. O
secretário da Cora, James Eustáquio Barbosa Ladeia, convidado a participar da
reunião, não compareceu.
Cadastramento - Indagado pelo deputado Marcos Helênio (PT) e pelo
coordenador do MST, o superintendente do Incra disse que um cadastramento das
famílias acampadas na região do Rio Doce só poderia ocorrer após a
desapropriação de terras. O caso em questão refere-se, no entanto, a
aquisições e não a desapropriações. "O que podemos fazer é encaminhar os nomes
das pessoas acampadas para o Programa Comunidade Solidária, a fim de liberar
cestas básicas para as famílias", acrescentou.
Os deputados Marcos Helênio (PT) e Ivo José (PT) cobraram, por outro
lado, a resolução urgente do conflito, a fim de evitar novos problemas. A
Assembléia será avisada com antecedência sobre a vistoria que o Incra fará nas
áreas da Acesita.
Requerimento - Aprovado, ainda, requerimento do deputado Paulo Piau
(PFL), solicitando a realização de reunião conjunta da Comissão de Política
Agropecuária e Agroindustrial com a de Educação, Cultura, Ciência e
Tecnologia, para ouvir a pesquisadora visitante da Epamig, Mitzi Brandão. Ela
falará sobre as novas fronteiras de produtividade no cerrado mineiro.
Compareceram à reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL) e Maria
José Haueisen (PT), que a presidiram, Marcos Helênio (PT), Ivo José (PT) e
José Henrique (PMDB).
Responsável pela informação: Fabiana Oliveira - GCS - 031-2907800