Teleconferência discute plano de saúde

A polêmica questão dos planos e seguros de saúde foi amplamente discutida na manhã desta quarta-feira (15/04), no Ple...

15/04/1998 - 10:03

Teleconferência discute plano de saúde



     A polêmica questão dos planos e seguros de saúde foi amplamente discutida

na manhã  desta quarta-feira  (15/04), no  Plenário da Assembléia Legislativa,

com a presença de representantes do setor, com transmissão ao vivo para todo o

Estado, por meio de satélite, acessado por antena parabólica.

      A teleconferência  "Planos e  Seguros Privados  de Assistência  à Saúde"

promovida  pela   Assembléia,  por   solicitação  da  Comissão  de  Defesa  do

Consumidor, despertou  grande interesse,  uma vez que pelo menos 40 milhões de

pessoas fazem  parte de  planos de  saúde -  que movimentam  em torno de R$ 17

bilhões de reais por ano em todo o país.

      Conflitos -  O presidente  da Assembléia, deputado Romeu Queiroz (PSDB),

abriu a teleconferência dizendo que o Legislativo mineiro é sensível à questão

da saúde. Ressaltou que a Alemg está alerta quanto aos conflitos que abarrotam

os órgãos  de defesa  do consumidor,  com milhares  de reclamações  contra  os

planos de saúde.

     Ele destacou que os planos de saúde e as empresas de seguro-saúde exercem

assistência suplementar,  aliviando o  SUS. Mas  lembrou a inexistência de uma

legislação adequada,  capaz  de  apontar,  com  clareza,  a  solução  para  os

conflitos de  interesse entre os usuários e as empresas prestadoras de serviço

de saúde.

    Senador relata tramitação de projeto sobre planos de saúde

     Também participou  da teleconferência o senador Sebastião Rocha (PTB/PA),

relator do  Projeto de  Lei (PL) 93/93, do senador Iran Saraiva, que trata dos

planos de  saúde. Segundo  o parlamentar,  o projeto  original tinha apenas um

artigo, que  proibia qualquer exclusão, pelos planos de saúde, da cobertura de

doenças.

     Enviado à  Câmara dos Deputados, o projeto recebeu 36 novos artigos e foi

modificado inteiramente  através de  um substitutivo.  De volta  ao Senado,  o

texto do  projeto não  poderá mais  sofrer mudanças  - apenas receber pequenos

cortes.

     Lobby - Sebastião Rocha afirmou, ainda, que há grandes interesses e muito

lobby em  torno  do  projeto  -  e  uma  certa  tendência  em  arquivá-lo.  Há



parlamentares  que  defendem  a  sua  substituição  por  outra  proposta  mais

abrangente, o que demandará mais alguns anos para a regulamentação da matéria.

    Projeto modificado também tem pontos positivos

     Para o  senador, a  despeito das inúmeras alterações, o projeto apresenta

pontos positivos,  como carência  de seis  meses e  de 10 meses para partos, e

reajustes por  faixa etária.  Protege o  usuário do plano, ao fazer constar do

contrato o percentual de reajuste; proíbe o reajuste para usuários acima de 60

anos, quando estes tiverem contribuído para o plano por mais de 10 anos.

      Prevê cobertura para doenças pré-existentes, como Aids e câncer, além de

cobertura para  transplantes e  próteses  cirúrgicas.  Protege  aposentados  e

demitidos, que  poderão continuar  pagando as  mensalidades e  permanecer  nos

planos.

     O senador  defendeu, ainda,  a vigência  de um plano-padrão para todos os

operadores; a  inserção de  planos parciais, como ambulatoriais, hospitalares,

obstétricos e  planos odontológicos;  e o  fim dos  planos mínimos,  que estão

longe de atender ao usuário.

    Representante das empresas rebate críticas

     Outro debatedor,  Horácio Navarro  Cata Preta, representante da Federação

Nacional das  Empresas de  Seguros  Privados  e  de  Capitalização  (Fenaseg),

explicou a dinâmica dos contratos, alegando que "se muitos pagam pouco, poucos

poderão utilizar  dos planos".  Ele defendeu o rateio das despesas entre todos

os participantes dos planos através do regime de pré-pagamentos.

      Unimed  -  O  diretor-presidente  da  Unimed,  Emerson  Fidélis  Campos,

condenou os  planos de saúde parciais - como os ambulatoriais -, que limitam a

participação do  usuário. Na  condição de  presidente da  Unimed,  rebateu  as

críticas feitas  aos planos,  delcarando que  "o médico  jamais poderá recusar

medicação ao paciente, mesmo que o plano não cubra esta medicação".

     Instituto de Defesa do Consumidor critica omissão dos governos

     O consultor  jurídico do  Instituto Brasileiro  de Defesa  do  Consumidor

(Idec), Josué  de Oliveira Rios, criticou a ineficiência dos planos. Para ele,

um serviço  de relevância  pública tão  grande  como  a  saúde  não  pode  ser

oferecido pelas  empresas sem  que haja,  antes,  regulamentação  própria.  "A



situação vivida hoje é o retrato do desprezo e da omissão de governos e homens

públicos para com  a saúde do povo brasileiro", concluiu.

     Rios disse também que as empresas invadiram o mercado, aproveitando-se da

descrença dos  usuários quanto  ao atendimento  prestado pelo Sistema Único de

Saúde (SUS).  "O que  ocorre atualmente  no Brasil  é uma nítida chantagem das

empresas, em razão do descaso do poder público para com a saúde", acrescentou.

     Para Ministério da Justiça, é preciso regulamentar o setor

     Para a inspetora regional do Ministério da Justiça em Minas Gerais, Stael

Cristian Riani,  há uma  grande necessidade de se regulamentar o setor, porque

os contratos  atuais não  refletem a  harmonia que  deveria  existir  entre  o

consumidor usuário  e as empresas mantenedoras do planos de saúde. Stael disse

também que  os contratos  não são  redigidos de  forma  clara,  confundindo  o

consumidor, que não consegue entender direito o que está comprando.

    Deputado critica mau atendimento no setor público

     O deputado  Geraldo Nascimento  (PT), presidente da Comissão de Defesa do

Consumidor, encerrou  a fase de debates criticando o descaso do governo, o mau

atendimento  do  setor  público  de  saúde  e  as  filas  quilométricas.  Para

Nascimento, a  indústria dos  planos de  saúde só  tem crescido porque a saúde

pública, tanto no plano federal quanto estadual, está um caos.

      Dúvidas -  A coordenação da teleconferência recebeu muitos telefonemas e

perguntas  através  do  fax,  além  da  participação  direta  de  interessados

presentes às discussões. As principais dúvidas dos telespectadores foram sobre

a cobertura para doenças pré-existentes e a questão dos reajustes de contratos

por faixa etária.

Responsável pela informação: Eustaquio Marques - 031-2907800