Comissão inicia análise dos arquivos do Dops
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia que investiga a destinação dos arquivos do extinto Departamento de ...
01/04/1998 - 02:12Comissão inicia análise dos arquivos do Dops
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia que investiga a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) fará, hoje (01/04), às 16 horas, nova visita ao Instituto de Identificação da Secretaria de Estado de Segurança Pública. Os deputados vão iniciar a análise dos documentos contidos nos microfilmes que foram lacrados naquele Instituto, na última semana, e que supostamente pertenciam aos arquivos do Dops. Na reunião de ontem (31/03), o presidente da CPI, deputado Carlos Pimenta (PSDB), leu correspondência enviada pelo diretor do Instituto de Identificação comunicando que, juntamente com os arquivos que pertenceram ao Dops, foram também lacrados documentos da Secretaria de Segurança Pública, o que reforça a necessidade da presença dos deputados da CPI, para conferir o conteúdo do material. O trabalho será feito por técnicos do setor de documentação da Assembléia, do Arquivo Público Mineiro e do próprio Instituto de Identificação. Memória - Ainda na reunião de ontem, os deputados ouviram o depoimento do cientista político e professor da UFMG, Michel Marie Le Ven, ex-preso político. Ele destacou o trabalho da CPI no sentido de resgatar uma "documentação importante para restituir a memória política do País". Segundo ele, "um povo não se faz sem memória, sem palavra e sem tradição" e por isso é importante buscar uma "reconciliação com o passado, para que as pessoas possam viver melhor". Para Le Ven, o trabalho é fundamental para que a sociedade tenha condições de impedir "atos de loucura" como os acontecidos após o golpe militar de 1964. "Um país não pode eleger inimigos internos, tal como fazem hoje com os meninos de rua, com o viciado em drogas ou com os sem-terra", disse ele. "Naquela época, muitos homens se tornaram violentos e histéricos em nome do anticomunismo", prosseguiu. O professor falou da necessidade do perdão, não do esquecimento, ao manifestar sua preocupação também com as pessoas que cometeram atos de tortura. "É preciso que eles tenham ocasião de pedir desculpas e de dizer que perderam a cabeça. Fico pensando o que foi feito da cabeça daqueles meninos, que ainda freqüentavam o Colégio Militar, depois de ver tanta loucura". Depoimentos somam mais de 250 horas Na fase de debates, ao responder questionamento do deputado Ivair Nogueira (PDT), o cientista político relatou episódios de sua prisão e disse desconhecer o destino dos processos e dos inquéritos (IPM) a que ele respondeu no período da repressão. Disse ter interesse em conhecer o conteúdo desses documentos já que, segundo recorda, seus depoimentos somam mais de 250 horas. O professor defendeu a abertura completa dos arquivos do Dops por considerá-los "decorrentes de um ato político e, portanto, público". Lembrou que os acontecimentos aconteceram há cerca de 30 anos e que a sociedade tem direito a essas informações, ainda que se questione o risco de ferir a privacidade das pessoas que estão vivas. Michel Le Ven acredita, ainda, na existência de outros arquivos, pertencentes ao SNI e às demais polícias que atuaram na repressão. Requerimento - O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) propôs a participação de técnicos da Universidade Federal de Minas Gerais no trabalho de investigação dos arquivos. Também apresentou requerimento convidando para a próxima reunião da Comissão, no dia 7 de abril, às 10 horas, os ex-presos políticos Afonso Celso Lana e Antônio Fernando Marques de Aguiar, além de um representante do Movimento Tortura Nunca Mais. Nesse mesmo dia, serão ouvidos também o titular da Coordenação-Geral de Segurança Pública (Coseg), Alexandre Carrão, e o delegado Ariovaldo da Hora e Silva. Presenças - Participaram da reunião os deputados Carlos Pimenta (PSDB), presidente da CPI; Ivair Nogueira (PDT), Adelmo Carneiro Leão (PT) e Wilson Pires (PFL).
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