Entidade sugere ampliar abrangência de dois projetos
Ampliar e aprofundar a abrangência dos dois projetos. Essa foi a reivindicação dos participantes da audiência pública...
30/04/1998 - 06:46Entidade sugere ampliar abrangência de dois projetos
Ampliar e aprofundar a abrangência dos dois projetos. Essa foi a reivindicação dos participantes da audiência pública, realizada ontem pela Comissão de Direitos Humanos, para discutir dois projetos de lei que tratam de garantir o acesso do público aos arquivos do Dops e indenizações para vítimas da tortura durante o regime militar. O primeiro é o PL 309/95, do deputado João Batista de Oliveira (PDT), que assegura o livre acesso dos cidadãos aos documentos do Dops, no período de 1964 a 1985, e o PL 1.424/97, da deputada Maria José Haueisen (PT), que determina o pagamento de indenizações às vítimas de torturas praticadas no Dops. A presidente do Movimento Tortura Nunca Mais, Helena Greco, propôs não se especifique, no projeto da deputada, o local onde as pessoas foram torturadas. Ela argumentou que os militantes políticos, presos durante o regime militar, foram levados não apenas para o Dops, mas também para as celas da Furtos e Roubos, para o Depósito da Lagoinha, da penitenciária feminina e, até, para casas particulares, na periferia da cidade. "Assim - ponderou Helena Greco - o projeto da deputada Maria José Haueisen não deveria determinar o local da tortura ou, então, especificar todos os outros espaços onde essa ação foi praticada". A inclusão, entre os beneficiários com direito a indenização, ainda que de forma proporcional, de todos os militantes políticos prejudicados pela ação repressiva do Estado, durante o regime militar, foi outra reivindicação dos membros do Movimento Tortura Nunca Mais. Carmela Pezzutti defendeu que não apenas os familiares dos mortos e desaparecidos deveriam receber essa indenização, mas todas as vítimas da repressão política. "Os militantes exilados - exemplificou Carmela Pezzutti - tiveram de interromper seus projetos na área acadêmica, profissional e, às vezes, até pessoal e, alguns, não conseguiram reconstruir essa trajetória lá fora e nem depois de retornar ao país". Lembrou ainda que muitos dos que ficaram, ou aqueles que depois retornaram ao país, foram sistematicamente perseguidos, não conseguindo mais se estabilizar num emprego". Projetos poderão ter uma tramitação mais lenta Heloisa Greco, também do Movimento Tortura Nunca Mais, defendeu ainda a inclusão, no projeto do deputado João Batista de Oliveira, que trata da liberação dos arquivos do Dops, das fichas armazendas pela Coordenação Geral de Segurança (Coseg), já que está ficando claro, a partir dos trabalhos da CPI do Dops, que essa Coordenação também mantém um arquivo com informações sobre militantes políticos investigados durante o regime militar. Os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT) e Ivair Nogueira (PDT) propuseram, durante a reunião, que os dois projetos tramitem de forma mais lenta, aguardando, desta forma, a conclusão dos trabalhos da CPI do Dops. "A CPI - argumentou Adelmo Leão - está apurando novas informações que complementam as leituras que tínhamos deste período e que, agora, poderão ser incorporadas às duas proposições, aperfeiçoando-as e enriquecendo-as". Os participantes consideraram os dois projetos muito importantes, principalmente para resgatar parte da cidadania daqueles que tiveram uma atuação política marcante, durante o regime militar e, por isso, foram perseguidos e prejudicados na sua condição de cidadãos. "Com a aprovação desses projetos - frisou ainda Heloisa Greco - estaremos também resgatando um momento importante da nossa história que ainda não conta com uma versão definitiva". Presenças - A reunião foi presidida pelo deputado João Leite (PSDB) e teve a participação dos deputados Ivair Nogueira (PDT), João Batista de Oliveira (PDT) e Durval Ângelo (PT). Empresário faz relato sobre a sua história O empresrio Marco Antônio Meyer falou, durante a reunião, sobre a sua experiência pessoal, reivindicando uma indenização pelos repetidos prejuízos que sofreu na sua vida profissional, em função de perseguições políticas. Ele foi baleado, quando chegava em sua casa, durante o período mais pesado da repressão. "Fiquei inseguro - disse ele - e por isso, me vi obrigado a optar pela clandestinidade. Depois fui para o Rio de Janeiro, fui preso, e torturado. Por isso acho justo reivindicar uma indenização". Meyer argumentou ainda que os militares que estiveram envolvidos na captura e até na tortura de presos políticos, hoje estão aposentados e recebendo polpudas pensões. "Por que nós, que fomos exilados, perseguidos, não vamos ter esse direito?" Marco Antônio Meyer relatou para os membros da Comissão que, em meados de 1968, apesar de ser estudante e ter uma atuação no movimento estudantil, estava, junto com seu irmão, montando uma empresa. "Nosso tio foi o responsável pela implantação da Garoto no Espírito Santo e íamos repetir essa experiência em Belo Horizonte, aproveitando o conhecimento que adquirimos com ele. Quando sofri o atentado, abandonei os negócios e a família e tive de ir para o Rio e, depois fui me exilar fora do país". Quando voltou, Marco Antônio Meyer tentou montar uma gráfica, importando equipamentos. Mas as máquinas foram apreendidas e nem chegaram a desembarcar no país. "Fui tolido de todo jeito - disse ele - por isso, reivindiquei uma aposentadoria especial, que me foi negada também, sob o pretexto de que eu não era líder sindical, mas de classe. Era um empresário, como se isso explicasse qualquer coisa". Ele criticou ainda a omissão do Estado no encaminhamento dessas propostas, particularmente o governo mineiro. "Temos um presidente que foi encapuzado em 1968. O nosso governador foi presidente do Diretório Acadêmico nessa época, o mesmo onde eu atuava. O vice-governador, Walfrido dos Mares Guia e o seu irmão, o secretário da Educação, João Batista dos Mares Guia, também tiveram uma atuação marcante nessa época e o João chegou até a ser preso. O secretário da Cultura, Amilcar Martins, também foi detido e prestou depoimento no Doi-Codi. Se eles próprios foram vítimas dessa época, por que eles não influem para que essas questões sejam logo solucionadas, como foram no Paraná, na Argentina, no Chile e outros lugares? - concluiu ele. Requerimentos aprovados A Comissão de Direitos Humanos aprovou ontem três requerimentos. O primeiro de autoria do deputado Adelmo Carneiro Leão, pede o reinício imediato do PL 2.057, que define o Estatuto dos Povos Indígenas. O segundo, de autoria do deputado Ivair Nogueira, propõe uma visita à Delegacia de Tóxicos de Belo Horizonte, em função da fuga em massa ocorrida no final de semana. E o terceiro, do deputado João Batista de Oliveira, pede uma reunião conjunta com a Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial para discutir a PEC 30.
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