CPI do Garimpo vai realizar nova visita
A Comissão Parlamentar de Inquérito formada para apurar a instalação de garimpos nos rios de Minas Gerais e seus efei...
30/04/1998 - 02:22CPI do Garimpo vai realizar nova visita
A Comissão Parlamentar de Inquérito formada para apurar a instalação de garimpos nos rios de Minas Gerais e seus efeitos devastadores e corruptores vai fazer sua segunda visita na próxima semana. A CPI vai visitar um garimpo localizado a aproximadamente 350 quilômetros de Belo Horizonte, em data a ser definida pelos deputados. O dia da visita poderá ser terça ou quinta-feira, mas o local exato não será divulgado. Na reunião realizada nesta quarta-feira (29), foram aprovados dois requerimentos do deputado Raul Lima Neto (PDT), que pediu a formação da CPI. Ele solicitou que seja intimado um representante da Mineração Rio Novo, que atua na região de Diamantina, além de Viviane Albertino dos Santos e Marcos Hartman. Segundo o lapidário Paulo Henrique Tibães, Viviane é compradora de diamantes em Diamantina e Belo Horizonte, avaliadora da Mineração Rio Novo, doleira e proprietária de casa de câmbio. Marcos Hartman, ainda segundo Tibães, é representante do Banco Cindam em Diamantina. Também foram aprovados dois requerimentos do presidente e relator da CPI, deputado Anivaldo Coelho (PT). Ele solicitou que seja formulado convite ao diretor superintendente da Receita Estadual para que seja indicado um representante para acompanhar os trabalhos da Comissão. O mesmo convite será feito ao superintendente da Receita Federal. Prata Neto nega envolvimento com garimpo O delegado Ignácio Gabriel Prata Neto compareceu ontem (28) à reunião da CPI. Ele negou ter recebido o primeiro convite para falar à Comissão e alegou não ter comparecido à convocação, feita em seguida, porque no envelope enviado para ele havia uma correspondência dirigida ao Coronel José Eustáquio Natal. O deputado Raul Lima Neto (PDT) explicou que houve um engano no envio das correspondências e o deputado Anivaldo Coelho (PT) esclareceu o assunto lembrando que a CPI tem poder de convocação de servidores públicos. Prata Neto negou ter qualquer participação comercial com garimpos. Segundo ele, em 1987, quando era secretário-adjunto de Segurança Pública, foi procurado por uma comissão, tendo à frente o empresário Custódio Guerra, da empresa de transportes Cisne, sediada em Itabira, pedindo proteção contra ameaças de invasão no garimpo Capeirana, em Nova Era. O delegado teria explicado que, como secretário, tinha a função de cuidar da segurança pública e não guardar atividades particulares. Por isso, sugeriu que contratassem a empresa de vigilância VIP, de propriedade de Francisco Teixeira, porque ela já atuava na Companhia Vale do Rio Doce, próximo ao garimpo. O delegado, que atualmente está no Quadro Suplementar da Secretaria de Estado de Segurança Pública, contou que foi procurado novamente pelo mesmo grupo. Eles estavam interessados em alguém que cuidasse da segurança mas que não tivesse empregados fardados, como era o caso da VIP. Por isso, Prata Neto indicou o sargento Adão José Machado, conhecido como Machadinho, e o inspetor de polícia Gilson Marques Azevedo. Prata Neto informou que os dois trabalharam no garimpo Capoeirana de 1987 a 1989, e que Machado não andava armado porque era muito respeitado. Nesse período, segundo o delegado, não houve nem uma só ocorrência policial ou conflito na região. Ele informou, ainda, que somente depois que os dois se afastaram é que Afonso Paulino tomou conta da área. Prata Neto disse que não conhece os "ninjas", guardas fortemente armados responsáveis pela segurança dos garimpos, e que apenas foi ao local "duas ou três vezes, para conhecer", há 11 anos. Cooperativa não tem controle sobre extração de diamantes Também foi ouvido pela CPI o presidente da Cooperativa Regional dos Garimpeiros de Diamantina (Coopergad), Antônio Fernandes Martins. Ele falou sobre o funcionamento da Cooperativa, que fundou em 1989 e respondeu a uma série de questionamentos feitos pelos deputados Raul Lima Neto e Anivaldo Coelho. Segundo ele, a Coopergad, que chegou a ter 876 associados, hoje tem apenas 67. Ele ressaltou que a cooperativa não tem relação com os compradores de pedras, não trabalha na comercialização de diamantes nem tem controle da quantidade de extração de seus associados. Os objetivos são conseguir áreas para assentamentos de garimpeiros e tratar da questão ambiental. Antônio Martins disse que é grande a dificuldade para conseguir áreas de exploração, junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A própria Coopergad, segundo ele, tem duas áreas adquiridas de terceiros. Uma área foi negociada com a Mineração Rio Novo, em 1992, por US$ 300 mil. Segundo ele a compra foi feita com a cotização dos cooperados e ainda estão devendo US$ 50 mil, que deverão ser negociados em uma reunião com a empresa, no dia 7 de maio. A outra área são 12 quilômetros do Rio Jequitinhonha, que também são remanescentes da Mineração Rio Novo. A negociação foi feita com o compromisso de repassar 2,5% da extração, como royalties, para a empresa e parte para as Prefeituras de Couto Magalhães de Minas e de Diamantina. Questionado pelo deputado José Militão (PSDB), ele disse que não acredita que a totalidade do comércio de diamantes na região seja ilegal. Ele disse, ainda, que vendeu pedras para o Banco Cindam, mas apenas como garimpeiro e não como presidente da Cooperativa. Atividade tem mais acidentes que construção civil A CPI do Garimpo também ouviu o depoimento do delegado regional do Trabalho, Jorge Machado. Ele disse que a Delegacia fez 170 fiscalizações em 1997 e 20 em 1998. Segundo ele, a atividade extrativista é das mais danosas ao trabalhador e causa mais mortes ou doenças que provocam afastamento permanente que a construção civil. O delegado ressaltou que o garimpeiro tem más condições de trabalho, alimentação e moradia, mas permanece pela esperança em achar uma pedra valiosa. O delegado disse, ainda, que o Ministério do Trabalho não tem estrutura para fiscalizar todas as atividades extrativas, nem mesmo se contasse com dez vezes o número atual de funcionários. No caso dos garimpos o problema é agravado por ser uma atividade praticada em locais de difícil acesso. Para ele, essa competência devia ser compartilhada com a sociedade, especialmente com os sindicatos. "Temos centenas de sindicatos com os cofres cheios e assembléias vazias", observou. Sindicalista critica normas de concessão de lavras O presidente do Sindicato dos Garimpeiros do Estado de Minas Gerais (Sindileste), Sinval Pereira do Nascimento, alertou para a extinção da classe garimpeira. Segundo ele, se o governo não tomar providências, as joalherias também vão acabar, pois compram as pedras dos garimpeiros. "Quem tira pedras são os garimpeiros, não as empresas. E quando elas tiram, não vendem para o Brasil", destacou. O sindicalista - que atua na região de Nova Era - disse que os pequenos não conseguem área para garimpar. Segundo ele, as áreas são dadas a Cooperativas, que só têm garimpeiros no nome, e que não exploram as lavras. Para ele, o DNPM tem dois pesos e duas medidas para a concessão de permissão para explorar áreas. "Um Relatório de Impacto Ambiental (Rima) custa cerca de US$ 50 mil. E qual é o garimpeiro que lê o Diário Oficial?", questionou. Presenças - Participaram da reunião, presidida pelo deputado Anivaldo Coelho (PT), os deputados Raul Lima Neto (PDT), Paulo Piau (PFL), Ambrósio Pinto (PTB), Wanderley Ávila (PSDB), José Militão (PSDB) e Hely Tarqüínio (PSDB).
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