Santos Moreira diz que fichas teriam que sofrer perícia
O secretário de Estado de Segurança Pública, Santos Moreira, disse ontem (23) que não pode afirmar se são autênticas ...
24/04/1998 - 02:34Santos Moreira diz que fichas teriam que sofrer perícia
O secretário de Estado de Segurança Pública, Santos Moreira, disse ontem (23) que não pode afirmar se são autênticas as fichas de ex-presos políticos, entregues a órgãos de imprensa e atualmente em poder da CPI do Dops. Segundo o secretário, seria necessário submeter as fichas a uma perícia, no Instituto de Criminalística, mas reconheceu que há indícios claros de que elas são autênticas. Nessa semana, quase mil novas fichas foram entregues à CPI. O delegado Ediraldo Brandão, ouvido pela CPI na semana passada, reconheceu como verdadeiras as fichas que, segundo ele, são da Coordenação Geral de Segurança (Coseg), da Secretaria de Estado de Segurança Pública. No depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para investigar a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Santos Moreira disse, ainda, que os microfilmes que foram entregues ao Arquivo Público Mineiro são cópias. Os originais estão, segundo ele por questão de segurança, na Divisão de Microfilmagem do Instituto de Identificação. Ele informou que foi feita uma licitação para consertar o telhado do Instituto e melhorar as condições de armazenamento do arquivo, mas que não há recursos para executar a obra. Questionado pelo relator da CPI, deputado Ivair Nogueira (PDT), o secretário afirmou que no início da sua administração tentou transferir os microfilmes para o Arquivo Público Mineiro. No entanto, não encontrou disposição do órgão em receber o arquivo porque as instalações estavam em obras. Ele ressaltou que essa questão já foi devidamente esclarecida e que questionamentos sobre isso são "polêmica em torno do óbvio". Santos Moreira disse, ainda, que não foram encontrados livros com registros dos documentos do Dops que foram incinerados, conforme determina a lei. Anonimato - Ivair Nogueira questionou, também, sobre a existência de grupos que estariam tentando desestabilizar a Secretaria e se já foi determinada a investigação de quem estaria distribuindo as fichas à imprensa. Santos Moreira disse que foi formado um grupo para investigar o assunto e criticou o que chamou de "instituição do anonimato na sociedade mineira". Ivair Nogueira rebateu dizendo que divulgou ontem (22) a carta anônima com ameaças de incêndio contra deputados da CPI porque esse era o seu dever, como cidadão e deputado. Lembrou o incêndio criminoso que atingiu três gabinetes da Casa há cerca de oito meses e afirmou que teria sido omisso e irresponsável se não tivesse comunicado sobre as ameaças à Presidências da Assembléia. Secretário vai determinar análise de arquivos da Coseg O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), autor do requerimento que deu origem à CPI, questionou o secretário de Segurança Pública sobre os arquivos da própria Coseg. Segundo depoimento do delegado Ediraldo Brandão, no período de 1976 a 1983 a própria Coseg ficou responsável pela guarda de arquivos e geração de informações, enquanto o Dops tornou-se o braço operacional. Por isso, o deputado perguntou sobre a disposição da Secretaria de Estado de Segurança Pública de analisar esses documentos para avaliar a existência de informações políticas e, então, destiná-los também ao Arquivo Público Mineiro. Segundo Adelmo Carneiro Leão, seriam cerca de 100 rolos de microfilmes com títulos de identificação como "greves diversas", "pastas codificadas/subversão" e outros. Para o deputado, é preciso investigar o que é informação inserida sob a lógica do período militar. Por isso, propôs que a Secretaria de Segurança Pública e a Assembléia Legislativa - através de uma comissão designada pelo presidente, deputado Romeu Queiroz - analisassem conjuntamente os microfilmes produzidos até 1983. Sigilo - Santos Moreira recusou a proposta dizendo que seria uma interferência indevida em poderes independentes e que esse estudo é competência da Secretaria. Para ele, a CPI tem a competência específica para analisar os arquivos do Dops, não da Coseg. Ele ressaltou, ainda, que os arquivos contêm informações sigilosas, como investigações sobre narcotráfico e crime organizado, e por isso não concordou com a análise dos microfilmes por amostragem nem com a abertura dos arquivos. No entanto, disse que vai mandar analisar os 100 microfilmes iniciais da Coordenação Geral de Segurança e, caso não contenham informações importantes para a ordem pública, vai determinar a transferência para o Arquivo Público Mineiro, sob a chancela do sigilo. O secretario ressaltou que a divulgação de informações sigilosas por servidor público é crime previsto no artigo 325 do Código Penal. O deputado Adelmo Leão solicitou ao secretário a lista dos ocupantes de cargos de direção na Coseg no período de 1976 a 1983 - tanto de policiais civis como militares. Requerimento nesse sentido deverá ser apreciado na próxima reunião da CPI, quando o deputado também vai definir outras pessoas que a Comissão ainda deverá ouvir. Contaminação - Adelmo Leão também fez questionamentos sobre a "contaminação" de fichas de ex-presos políticos com informações do período militar, como aconteceu com o servidor Sálvio Penna. Santos Moreira disse que o episódio ocorrido com Sálvio Penna - que não conseguiu o atestado de antecedentes por problemas com a Lei de Segurança Nacional - ocorreu por problemas no processo informatização da Secretaria, quando os dados foram digitados. Segundo ele, já havia a ordem de apagar informações cuja utilização foi proibida com a Lei da Anistia, em 1979, e que ocorreu um erro do funcionário do Posto de Identificação. Presenças - Participaram da reunião os deputados Carlos Pimenta (PSDB) - que a presidiu inicialmente, tendo sido substituído pelo deputado Wilson Pires (PFL); Antônio Roberto (PMDB); Ivair Nogueira (PDT); Paulo Schettino (PTB) e Raul Lima Neto (PDT).
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