Delegado reconhece fichas e assume que determinou incineração
Os delegados Ediraldo Brandão e Sérgio Freitas reconheceram, como sendo da Coseg, as fichas de ex-presos políticos en...
15/04/1998 - 02:33Delegado reconhece fichas e assume que determinou incineração
Os delegados Ediraldo Brandão e Sérgio Freitas reconheceram, como sendo da Coseg, as fichas de ex-presos políticos entregues a veículos de imprensa e atualmente em poder da CPI que investiga a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Os dois prestaram depoimento ontem (14) à Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia. Brandão foi chefe da Coordenação Geral de Segurança (Coseg) da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (SSP/MG) de 1976 a 1982, e Sérgio Freitas, coordenador especial da Coseg em 1983 e coordenador geral de Segurança em 1995. Segundo Ediraldo Brandão, a Coseg assumiu a guarda da documentação do Dops a partir de 1973, quando o Departamento passou a ser um órgão eminentemente operacional e a Coseg ficou responsável pela guarda e alimentação dos arquivos. As fichas seriam índices ou indicativos para reconhecimento das fotos, que eram cópias de fotos do Dops. No mesmo depoimento, prestado ontem (14) à CPI, Ediraldo Brandão mostrou um documento que, segundo ele, é a trilha de toda a microfilmagem feita na SSP/MG. O documento contém um programa de modernização da Secretaria, incluído no II Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social, a ser implantado no período de 1976 a 1979. Esse plano previa a microfilmagem de documentos o que, segundo informou Ediraldo Brandão, foi feito a partir de 1982, começando pelo Instituto Médico Legal. Arquivos foram microfilmados em 1982 Já os arquivos do Dops, disse o delegado, foram microfilmados e incinerados, por determinação dele, no segundo semestre de 1982 e início de 1983, sob a coordenação do delegado Sérgio Freitas, atualmente no Detran. "Eu sou o responsável direto pela microfilmagem e incineração do arquivo", afirmou Brandão. Os depoentes responderam perguntas do relator da CPI, deputado Ivair Nogueira (PDT) e do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), que pediu a formação da Comissão. Ediraldo Brandão disse que é possível que existam informações do Dops em outros órgãos, como a Polícia Militar (PM2) e Polícia Federal, uma vez que todos faziam parte da Comunidade de Informações, sob a coordenação do Serviço Nacional de Informações (SNI). No entanto, afirmou que não há registros de Inquérito Policial-Militar (IPM) nos arquivos do Dops. Duas cópias - Ediraldo Brandão disse que foram feitas duas cópias dos 96 rolos de microfilmes que contêm os arquivos do Dops. Uma estava em poder da Coseg - que teria sido transferida para o Arquivo Público Mineiro - e a outra ficou no Instituto de Identificação, que à época, era dirigido pelo atual secretário de Segurança Pública, Santos Moreira. O delegado defendeu a abertura dos arquivos pela sua importância histórica. Questionado pelo deputado Ivair Nogueira, Brandão disse que a Lei Federal 5.433/68, que proíbe a incineração de documentos históricos, foi regulamentada apenas recentemente. Outra informação dada foi de que existe um livro de registros - Livro Index - dos documentos microfilmados, que já teria sido entregue ao Arquivo Público Mineiro. Acusações - Ediraldo Brandão desafiou o secretário Santos Moreira a provar acusações feitas à imprensa de que ele e outros cinco delegados fariam parte de um grupo de extrema direita, com atuação em bingos e garimpo. "Santos Moreira tem obrigação moral de provar o que fala", ressaltou. O delegado Sérgio Freitas garantiu que todos os documentos que compunham o arquivo do Dops foram microfilmados e incinerados na Mannesman. Segundo ele, esse arquivo começou em 1927 e terminou em 1976, quando foi transferido para a Coseg. Ele negou que uma comissão tenha sido formada para essa ação, e disse que todos os funcionários do Departamento de Microfilmagem participaram do trabalho. Freitas disse, ainda, que desconhecia a lei que proíbe a incineração de documentos históricos. E que, em 1990, quando a Lei Estadual que determina a transferência dos arquivos do Dops ao Arquivo Público Mineiro (APM) foi publicada, já não existiam mais papéis, apenas os microfilmes. Sérgio Freitas disse, também, que em 1995, quando era coordenador Geral de Segurança, "recomendou" ao secretário Santos Moreira que entregasse o arquivo do Dops ao Arquivo Público Mineiro, mas que não sabe por que isso não foi feito. Em 1996, por ter se indisposto com o secretário, ele saiu da Coseg. O delegado informou, ainda, que a Coseg tinha a incumbência de fornecer informações à administração pública e, portanto, as fichas que estão em poder da CPI foram feitas pela Coseg após 1973, com cópias de fotos do Dops. O diretor do Dops em 1983 e 1984, Edilber Pereira, também foi ouvido pela CPI, mas afirmou nada saber do assunto. A representante do Movimento Tortura Nunca Mais no Rio de Janeiro, Cecília Coimbra, falou à CPI da experiência de abertura dos arquivos naquele Estado. Segundo ela, o processo foi tranqüilo, tendo sido oferecido acesso livre a pesquisadores, com a garantia de preservação da privacidade dos envolvidos. O deputado federal Nilmário Miranda (PT/MG) sugeriu à CPI a apresentação de um projeto para alterar a lei que prevê a transferência dos arquivos do Dops ao Arquivo Público Mineiro (APM). O deputado observou que, após 1973, a Coseg passou a armazenar informações políticas e que a lei deveria determinar que todo arquivo relacionado à repressão política fosse passado ao APM. Para Nilmário Miranda, nada justifica o uso de informações da época da ditadura. Por isso, deveria ser criada uma responsabilização pelo uso de informações do período do arbítrio. Ele sugeriu, ainda, que grupos de Direitos Humanos sejam incluídos na comissão que vai analisar o arquivo em poder do APM. Ausência - O secretário de Segurança Pública em 1985/1986, Crispim Jacques Bias Fortes justificou a ausência da reunião por problemas de saúde. Presenças - A reunião foi presidida pelo deputado Carlos Pimenta (PSDB), com a participação, ainda, dos deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), Ivair Nogueira (PDT), Paulo Schettino (PTB), Wilson Pires (PFL) e Tarcísio Henriques (PSDB). O representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG), Antônio Romanelli, também acompanhou a reunião.
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