Coseg reconhece que microfilmes do Arquivo Pöblico sßo cïpias

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a destinação dos arquivos do extinto Departamento de Ordem Po...

08/04/1998 - 02:02

Coseg reconhece que microfilmes do Arquivo Pöblico sßo cïpias



     A Comissão  Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a destinação dos

arquivos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) ouviu ontem

(7) o  coordenador geral  de Segurança  da Secretaria  de Estado  da Segurança

Pública, Alexandre  Carrão Mesquita  Machado. Ele  não reconheceu as fichas do

Dops que  estão em poder da CPI, nem soube dar qualquer esclarecimento sobre a

incineração  dos   arquivos.  No   entanto,  reconheceu   que  os  microfilmes

encaminhados ao  Arquivo Público  Mineiro pela SSP/MG são cópia dos originais,

que estão lacrados no Instituto de Identificação.

     O coordenador de Informações da Coordenação Geral de Segurança (Coseg) da

Secretaria de  Segurança Pública,  Ariovaldo da  Hora e  Silva também  afirmou

nunca  ter   visto  as  fichas.  Ele  disse,  ainda,  que  nunca  teve  nenhum

relacionamento com  os arquivos  do Dops  e que  desconhece  a  realização  de

torturas naquele Departamento.

     Os depoentes  foram questionados pelo deputado Adelmo Carneiro Leão (PT),

que pediu  a formação  da CPI,  e pelo relator, deputado Ivair Nogueira (PDT).

Alexandre Carrão  disse que  não compete  a ele presidir inquérito policial ou

sindicância administrativa  sobre o desvio das fichas do Dops. Segundo Carrão,

essa  determinação   compete  ao   secretário  Santos  Moreira,  já  que  seus

antecessores na  Coseg  não  são  obrigados  legalmente  a  fornecer  qualquer

informação.

     Tortura -  O coordenador  de Informações  da Coseg,  Ariovaldo  da  Hora,

informou que  é funcionário  da Secretaria  de Estado  da Segurança Pública há

cerca de 40 anos, tendo sido escrivão do Dops até 1971, quando foi transferido

para a  Coseg. Embora  tenha afirmado  que, como escrivão, nunca participou de

sessões de  tortura, diligências policiais ou prisões, Ariovaldo se reconheceu

em foto  da revista  Veja, de  1976, quando  participava da  repressão  a  uma

manifestação em Belo Horizonte.

     O depoimento  do delegado  Ariovaldo da  Hora também foi questionado pela

representante do Movimento Tortura Nunca Mais, Heloísa Greco, que encaminhou à

CPI um  dossiê com  trechos do  relatório do Movimento, publicado em 1985, que

cita Ariovaldo  da  Hora,  várias  vezes,  como  torturador.  Ele  também  foi



identificado pelo ex-preso político Afonso Celso Lana Leite, que foi torturado

no Dops em 1969.

     Heloísa Greco  também questionou  afirmação de  Alexandre Carrão  de  que

cerca de  60 pedidos de informação foram atendidos pela Coseg nos anos de 1996

e 1997,  sem necessidade  de pedido  de habeas  data. Segundo  ela, os pedidos

foram encaminhados  pelo Movimento  Tortura Nunca  Mais e  pela Coordenação de

Direitos Humanos  da  Prefeitura  de  Belo  Horizonte  e  a  única  informação

conseguida foi um atestado de bons antecedentes.

     Processo em Minas Gerais está mais atrasado que outros estados

     Heloísa Greco  alertou sobre  a importância  de resgatar a história desse

período. Para  ela, os  arquivos do  Dops são  apenas  uma  ponta,  já  que  o

Departamento fazia  parte de  uma rede, que envolvia os Centros de Informações

das  Forças   Armadas,  grupos  pára-militares  e  pára-policiais.    "O  mais

preocupante -  disse Helena  Greco -  é que  o acervo  do  Dops  ficou  sob  a

responsabilidade de  um torturador  contumaz." Ela ressaltou, ainda, que Minas

Gerais está  atrasada uma  década na  liberação  de  documentos  da  época  da

repressão, em  comparação com estados como o Rio de Janeiro. "Ainda há o temor

de que  a história  seja reconstituída  e o  horror do  Estado seja  conhecido

publicamente", disse.

     Delegado Ediraldo Brandão será ouvido na próxima reunião

     A CPI do Dops aprovou ontem vários requerimentos:

     * do  deputado Adelmo  Carneiro Leão  (PT): solicitando  que seja enviado

ofício  ao   secretário  de  Estado  de  Segurança  Pública,  Santos  Moreira,

requisitando os  livros de  registro das  incinerações do  arquivo do  extinto

Dops;

     * do  deputado Adelmo  Carneiro Leão: solicitando que as fichas recebidas

de remetente  anônimo  pela  CPI  sejam  encaminhadas  a  órgãos  e  entidades

técnicos, inclusive  à Secretaria  de Segurança Pública do Estado, para que se

avalie a sua autenticidade;

     * do  deputado Adelmo  Carneiro Leão:  requer que sejam ouvidos, em 14 de

abril, o delegado Ediraldo Brandão, chefe da Coordenação Geral de Segurança de

1976 a  1982; o  delegado Sérgio  Freitas, coordenador Especial da Coordenação

Geral de  Segurança em  1983;  Cecília  Coimbra,  representante  do  Movimento

Tortura  Nunca  Mais;  e  Suzana  Lisboa,  membro  da  Comissão  de  Mortos  e

Desaparecidos do Ministério da Justiça;

     * do  deputado Ivair Nogueira (PDT): requer que seja pedido ao secretário

de Segurança Pública a transferência dos arquivos lacrados pela CPI para local

que ofereça condições de preservação e segurança;

     * do  deputado Ivair  Nogueira  (PDT):  solicitando  ao  Arquivo  Público

Mineiro informações  sobre  a  comissão  que  teria  sido  constituída  com  a

Secretaria de  Segurança Pública  para estudo  e separação  da documentação do

antigo Dops,  conforme determinava  a Lei  10.360, de  acordo com o depoimento

prestado pelo  delegado Ariovaldo  da Hora  e Silva.  Solicita, ainda,  que  o

Arquivo Público  Mineiro encaminhe cópia do relatório que teria sido elaborado

pela comissão, a relação dos funcionários que dela participaram e o ato de sua

constituição:

     * do  deputado Ivair  Nogueira: solicitando que os microfilmes do arquivo

do  Dops,   lacrados  no   Instituto  de  Identificação,  sejam  analisados  e

classificados  por  técnicos  de  Documentação  da  Assembléia  Legislativa  e

posteriormente comparados  com os  microfilmes que  estão no  Arquivo  Público

Mineiro.

     Presenças - Participaram da reunião, presidida inicialmente pelo deputado

Carlos Pimenta  (PSDB), os  deputados Wilson  Pires (PFL) - que posteriormente

presidiu a  reunião; Adelmo  Carneiro Leão (PT); Antônio Andrade (PMDB); Paulo

Schettino (PTB) e Ivair Nogueira (PDT).

Responsável pela informação: Fabiola Farage - GCS - 031-2907800