Instituto de Identificação admite erros nos arquivos
O delegado Márcio Barroso Domingues, que em 1980 respondia pela Vigilância Especial no extinto Dops e, atualmente ocu...
18/03/1998 - 02:13Instituto de Identificação admite erros nos arquivos
O delegado Márcio Barroso Domingues, que em 1980 respondia pela Vigilância Especial no extinto Dops e, atualmente ocupa a direção do Instituto de Identificação da Secretaria de Estado de Segurança Pública, desconhece a existência dos arquivos com fichas de ex-presos políticos. Ele e sua assistente, delegada Soraya Patrícia Gandra Fonseca, afirmaram ontem (17) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a destinação dos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) que nunca tiveram acesso às fichas nem têm conhecimento da existência dos arquivos do Dops. Eles disseram que, por isso, não tinham condições de afirmar se aquelas que estão em poder da CPI, deixadas em frente à rádio CBN, são verdadeiras. A delegada Soraya Fonseca esclareceu, no seu depoimento, que a ficha a que se refere o assessor parlamentar Sálvio Humberto Penna - recentemente impedido de obter o atestado de antecedentes por ter registro de impedimentos policiais ligados à Lei de Segurança Nacional - não são do Dops, mas de registro de identificação criminal, solicitado em 1972 e feito pela antiga Delegacia de Vigilância Geral. Ela argumentou que no processo de informatização do Instituto houve confusão com informações que foram cadastradas equivocadamente. A partir do caso de Sálvio Penna, esses problemas estão sendo reavaliados a medida em que surge uma demanda e as anotações excluídas do cadastro. Mas os três depoimentos de pessoas que tiveram problemas com documentação junto à Secretaria de Estado da Segurança Pública, após a Lei da Anistia, devido a atuação política durante o Regime Militar contrariam essas declarações. O fato mais recente, referente a Sálvio Humberto Penna, aconteceu em dezembro de 1997. Orientado no Posto de Identificação, localizado na Assembléia Legislativa, Penna procurou a delegada Soraya na sede do Instituto. Ela mostrou uma ficha com as impressões digitais e informações como endereço, motivo da prisão e auto de prisão do DOI ID4, além de um retrato do assessor, tirado na data de sua prisão, em 1972. Ela o orientou a conseguir um atestado de antecedentes junto à Justiça Militar. "Saí convencido a fazer isso. Depois vi o absurdo porque nunca me considerei um criminoso. Fui opositor de um regime militar instalado num golpe e que nos jogou na ilegalidade", protestou. Em 83 e 91, Sálvio solicitou o mesmo atestado, com sucesso, pois antes não havia nenhum registro. Para o vereador de Belo Horizonte Betinho Duarte (PSB), os arquivos do Dops existem. Ele contou que durante muitos anos, mesmo após a Lei da Anistia, constavam dos registros que ele tinha antecedentes criminais. Segundo Duarte, em agosto de 1995 ele entrou com ação de habeas data, para ter acesso aos documentos relativos a depoimentos prestados por ele no Dops. O atual secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, enviou a ele, então, um envelope com 11 páginas do depoimento prestado quando Betinho Duarte foi preso, em maio de 1968. "Essa é a prova cabal de que existe o arquivo", ressalta o vereador. O advogado Aluísio Rodrigues Coelho, assessor da deputada federal Sandra Starling (PT), contou que, ao tentar um porte de arma, em 1989, foi informado de que nos registros dele havia impedimentos. "A história não pode apagar nossos antecedentes políticos porque nos orgulhamos deles. Mas também não pode nos impedir de exercer nossos direitos", observou. O diretor do Instituto de Identificação, Márcio Barroso Domingues, reconheceu que as identificações criminais por assuntos ligados à Lei de Segurança Nacional não podem ser consideradas pelo Instituto. No entanto, ponderou que essas fichas estão misturadas a mais de 800 mil cadastros, 2,4 milhões de registros computadorizados, além de 11 milhões de fichas com as impressões digitais de pessoas que requereram carteiras de identidade. Segundo ele, os erros decorreram do processo de informatização do arquivo, feito a partir de 1995. "Não podemos dizer se há outros casos, mas é possível", disse. Segundo o delegado, as falhas serão corrigidas à medida que forem surgindo. CPI comprova novos registros ligados a inquéritos do Dops Após a reunião da CPI, presidida inicialmente pelo deputado Carlos Pimenta (PSDB), os deputados Adelmo Carneiro Leão (PT) e Ivair Nogueira (PDT) foram ao Posto de Identicação da SSP, localizado na Assembléia Legislativa, para comprovar se as notas a respeito de Sálvio Penna haviam sido retiradas - conforme foi determinado pelo diretor Márcio Domingues. De fato, não havia mais impedimentos nos registros do assessor parlamentar. No entanto, o primeiro registro constante do atestado do representante da Ordem dos Advogados do Brasil/MG, Antônio Ribeiro Romanelli, referia-se a um inquérito no Dops, ligado à Lei de Segurança Nacional. O atestado de outro ex-preso político, José Roberto Gonçalves de Rezende, também consultado ontem (17) estava liberado. O advogado criminalista participou da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e não teve atuação política em Minas no período militar, tendo ficado preso de maio de 1971 a dezembro de 1979, no Rio de Janeiro. O relator da CPI, deputado Ivair Nogueira (PDT), decidiu, então, formalizar junto à Comissão uma solicitação para que o Instituto de Identificação envie os atestados de todos os relacionados nas 52 fichas que estão em poder da CPI. Requerimentos - A CPI aprovou requerimentos do deputado Ivair Nogueira, solicitando ao vereador Betinho Duarte cópia dos atestados e documentos apresentados por ele na reunião de ontem, e ao Instituto de Identificação, dos documentos referentes a Sálvio Penna. Aprovou, ainda, requerimentos do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), solicitando que na reunião da CPI de 24 de março, às 10 horas, sejam ouvidos a deputada federal Sandra Starling, autora da lei que determina a transferência dos arquivos do Dops para o Arquivo Público Mineiro; a diretor do Arquivo, Norma Góes Monteiro, e o secretário de Estado da Cultura, Amílcar Martins, e que os outros convidados sejam ouvidos na mesma data, às 14 horas. Presenças - Participaram da reunião os deputados Ivair Nogueira (PDT) - relator, João Batista de Oliveira (PDT), Adelmo Carneiro Leão (PT), Antônio Roberto (PMDB), Wilson Pires (PFL) - vice-presidente, Carlos Pimenta (PSDB) - presidente e Tarcísio Henriques (PMDB). Também participaram os representantes da OAB/MG, Antônio Ribeiro Romanelli, e Márcio Santigado.
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