Deputada diz que fichas do Dops continuam sendo utilizadas

No prosseguimento da reunião da CPI dos arquivos do Dops, na tarde desta terça-feira (24), os deputados ouviram depoi...

25/03/1998 - 02:06

Deputada diz que fichas do Dops continuam sendo utilizadas



     No prosseguimento  da reunião da CPI dos arquivos do Dops, na tarde desta

terça-feira (24),  os deputados  ouviram depoimentos  do médico Apolo Heringer

Lisboa, Carmela  Pezutti e  Maurício Vieira  de  Paiva,  que  participaram  de

movimentos de  resistência ao  regime militar pós 64, além da deputada federal

Sandra Starling  (PT),  autora  da  lei  que  determina  a  transferência  dos

documentos do Dops para o Arquivo Público Mineiro e de uma representação junto

ao Ministério  Público para  apurar  responsabilidades  pela  incineração  dos

documentos.

     Segundo informações  obtidas pela  deputada Sandra  Starling, os arquivos

teriam sido  queimados entre  1975 e  1976, durante o governo do atual senador

Francelino  Pereira.   A  deputada  entrou  com  uma  representação  junto  ao

Ministério Público  para apurar  o episódio,  mas o  processo foi arquivado. A

deputada propõs, e os deputados acataram, a elaboração de um requerimento pela

CPI  destinado   ao  procurador-Geral   de  Justiça,   Epaminondas  Fulgêncio,

solicitando informações sobre a representação arquivada.

     Sandra Starling  disse ainda que obteve informações junto a uma fonte não

revelada de  que as fichas do Dops não só existem como continuam sendo usadas.

Ela ventilou  a possibilidade  de fornecer  o nome  do informante,  em caráter

sigiloso, aos membros da CPI, para tentar conseguir novas informações.

     A possibilidade  de uso  das informações  contidas nas  fichas do extinto

Dops foi  também colocada  pelo engenheiro Maurício Vieira de Paiva. Ele citou

frase do  ex-general Golbery  do Couto  e Silva, considerado um dos principais

nomes do  serviço  de  inteligência  da  repressão  militar,  segundo  a  qual

"informações e  fichas não se apagam, sobrepõem-se". Segundo Paiva, "todos que

caíram algum dia nas malhas do serviço de inteligência não saem nunca mais".

     Ao longo dos depoimentos, os convidados falaram sobre as dificuldades que

encontram para  contar tempo  de serviço para fins de aposentadoria porque não

conseguem informações  junto a  órgãos como  o extinto  Dops. O  médico  Apolo

Heringer Lisboa  disse que  passou boa  parte da vida lutando contra o Estado,

para negar  que tivesse  sido preso.  Hoje ele  luta para conseguir provar que

esteve preso para conseguir seus direitos.



     No final  da reunião, Carmela Pezzuti, que teve dois filhos desaparecidos

durante o  regime militar,  e Apolo  Heringer reconheceram as fotos constantes

das fichas  encontradas em  frente à  Rádio  CBN.  Contudo,  o  formato  e  as

informações contidas  nas fichas  são diferentes dos documentos que lhes foram

fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública.

     O presidente da CPI, deputado Carlos Pimenta leu ofício que será entregue

ao presidente  da Assembléia,  deputado  Romeu  Queiroz,  em  que  solicita  a

participação  de   técnicos  do  setor  de  Documentação  e  Informação  e  da

Consultoria da  Assembléia para identificar junto aos arquivos do Instituto de

Identificação, os documentos pertencentes ao extinto Dops.

Responsável pela informação: rodrigo Lucena - 031-2907800