CPI do Garimpo ouve primeiros convocados
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para apurar a instalação de garimpos nos rios de Minas Gerais e seu...
19/03/1998 - 04:32CPI do Garimpo ouve primeiros convocados
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para apurar a
instalação de garimpos nos rios de Minas Gerais e seus efeitos devastadores e
corruptores teve nesta quarta-feira (18) sua primeira reunião com convidados.
Representantes de órgãos ambientais e do Sindicato da Indústria Extrativa
Mineral de Minas Gerais apresentaram um painel da atividade mineradora no
Estado, desde a concessão da licença até a fiscalização ambiental.
Para o gerente da Divisão de Controle de Atividades da Fundação Estadual
do Meio Ambiente (Feam), Caio Márcio Rocha, tudo indica que a atividade de
garimpo praticada clandestinamente em Minas Gerais vai continuar assim,
ilegal. O prazo para licenciamento ambiental, definido pela Deliberação
Normativa 22/97, elaborada pela Feam e outros órgãos ambientais, termina em
agosto deste ano e praticamente não há processos encaminhados. "Foi um passo
importante, mas não é a solução dos problemas", observou.
Segundo Caio Rocha, a maior dificuldade é que os garimpeiros exercem a
atividade clandestinamente em áreas cuja titularidade já é de outras empresas.
O representante da Feam reconheceu a dificuldade em fiscalizar a mineração no
Estado, especialmente a atividade nômade do garimpo e informou que não há
planejamento de como agir após agosto deste ano, quando o prazo de
regularização termina. "A Feam só consegue fiscalizar os empreendimentos
legalizados. Garimpo clandestino é coisa de polícia", afirmou.
Caio Rocha, respondendo a questionamento do deputado Raul Lima Neto
(PDT), disse que empresas como a Mineração Rio Novo e a Tejucana foram
licenciadas no início dos anos 90, e atuam legalmente. "Esse tipo de atividade
dificilmente seria licenciada hoje, mas foi antes e é legal", observou.
Ibama afirma que garimpagem ilegal foi desativada em Minas
O superintendente do Ibama, Jader Pinto Figueiredo, por outro lado, leu
um relatório de atividades de fiscalização realizadas pelo Instituto em
garimpos, desde 1989, quando ele foi criado. O relatório afirma que "como
avaliação da atual situação dos garimpos no Estado, pode-se concluir que as
práticas de garimpagem desenvolvidas por garimpeiros nômades, foram
desativadas". Questionado pelo deputado Raul Lima Neto, entretanto, Jader
Figueiredo disse que é difícil fiscalizar as dragas clandestinas porque,
quando o Ibama vai a um rio, elas são transferidas para outro.
O superintendente do Ibama garantiu, entretanto, que todas as denúncias
apresentadas ao órgão em Minas Gerais foram apuradas. "Gostaria que o deputado
enviasse denúncias de onde há dragas clandestinas em Minas Gerais", desafiou.
O deputado Raul Lima Neto apresentou, assim, um requerimento, que será votado
na próxima reunião, solicitando ao Ibama a apuração de denúncias sobre cerca
de 100 dragas ilegais em atividade nos rios Paranaíba, Jequitaí, Piracicaba e
das Mortes, segundo publicação do jornal "Estado de Minas" de 30 de outubro de
1997.
DNPM age a partir de denúncias
O diretor do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Celso Luiz
Garcia, também leu um relatório sobre os garimpos mineiros, segundo o qual há,
em Minas, 14.750 garimpeiros, distribuídos em oito zonas de garimpo. Esse
número foi alcançado a partir de um recenseamento feito pelo DNPM, com a
colaboração de órgãos como o IBGE, Ibama, Funai, Ministério da Saúde,
prefeituras e outros.
Segundo o diretor, o DNPM coíbe a atividade ilegal, mas só pode atuar a
partir de denúncias. "Temos cinco geólogos e cinco engenheiros para cobrir
todo o Estado. Se não formos motivados por denúncia, dificilmente vamos
cumprir nosso papel", disse. Celso Garcia observou que a atividade minerária
tem sido praticada em Minas Gerais há cerca de 300 anos, e que esse passivo
está sendo cobrado agora. Na visão dele, há um problema social, de geração de
empregos, e a atividade não pode ser crucificada. "O homem ter que vir
primeiro", ressaltou.
Contrabando - O presidente do Sindicato da Indústria Extrativa Mineral de
Minas Gerais, José Maurício Neto, afirmou que existe o contrabando de pedras,
jóias e ouro, mas, indagado pelos deputados Anivaldo Coelho (PT), presidente e
relator da CPI, e Raul Lima Neto (PDT), autor do requerimento que formou a
Comissão, disse que não pode citar nenhum nome envolvido com esse contrabando.
Segundo ele, os dados que possui são de estatísticas publicadas no exterior.
Requerimento aprovado - A CPI do garimpo aprovou requerimento do deputado
Anivaldo Coelho (PT) solicitando a incusão dos seguintes depoentes: o
secretário de Estado da Segurança Pública Minas Gerais, delegado Santos
Moreira; o presidente da Cooperativa Federal dos Garimpeiros, Anísio Ribeiro;
o presidente da Associação de Joalheiros de Minas Gerais, Raimundo de Almeida
Vianna e o presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Nova Era, Afonso
Paulino.
Presenças - Participaram da reunião, presidida pelo deputado Anivaldo
Coelho (PT), os deputados José Militão (PSDB), Paulo Piau (PFL) e Raul Lima
Neto (PDT), além de Caio Márcio Rocha, representante do presidente da Feam,
Maurício Andrés Ribeiro; do superintendente do Ibama, Jader Pinto de Campos
Figueiredo; do diretor do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM),
Celso Luiz Garcia; e do presidente do Sindicato da Indústria Extrativa de
Minas Gerais, José Maurício Neto.
Responsável pela informação: Fabiola Farage - GCS - 031-2907800