Comissão discute tragédia da Vila Barraginha
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia vai apresentar três requerimentos em Plenário, nos próximos dias, solici...
19/03/1998 - 04:32Comissão discute tragédia da Vila Barraginha
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia vai apresentar três requerimentos em Plenário, nos próximos dias, solicitando que sejam encaminhados, ao Superior Tribunal de Justiça, ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República, em nome do Poder Legislativo de Minas Gerais, pedidos de agilização dos julgamentos dos processos relacionados à tragédia da Barraginha e que hoje tramitam do STJ e no STF. A decisão foi tomada ontem (18), durante reunião da Comissão, que discutiu, a pedido do deputado Durval Ângelo (PT), a situação das vítimas, com a presença de moradores e lideranças comunitárias da Vila Barraginha e de outros conjuntos habitacionais, representantes da prefeitura de Contagem, do Ministério Público, da Igreja e do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos. A tragédia da Barraginha aconteceu na Cidade Industrial, em Contagem, há exatos seis anos, completados ontem, dia 18. O muro de arrimo contruído pela Construtora M. Martins num galpão de sua propriedade ruiu sobre a Vila Barraginha - terreno que abrigava cerca de 400 barracos e casas -, provocando deslizamento de terra e o afundamento de parte do terreno, soterrando e causando a morte de 36 pessoas, deixando outras 65 gravemente feridas, além de 158 famílias desabrigadas. O Ministério Público estadual, desde então, move duas ações, uma criminal e outra civil pública, ambas visando a responsabilização dos culpados e a indenização integral das vítimas. O processo criminal aponta Márcio Rocha Martins, Cornélio José Temponi de Sá e Pierre de Ávila, da M. Martins, como responsáveis técnicos pelo desabamento do muro de arrimo, e a ação civil pública responsabiliza a Prefeitura de Contagem e a construtora M. Martins, enquanto pessoas jurídicas. Os requerimentos que a Assembléia vai encaminhar às instâncias federais da Justiça foram sugeridos pelo promotor Antônio Sérgio Tonet, representante do Ministério Público que participou da reunião, como uma forma de solicitar a agilização do andamento do julgamento das ações. Prefeitura de Contagem está aberta a negociações Segundo Francelino Caetano da Rocha, superintendente de habitação da Companhia Habitacional de Contagem (Conterra) e representante da Prefeitura de Contagem na reunião -, a Vila Barraginha foi embargada pela Prefeitura para preservação da área e interditada judicialmente até julho de 1995. O terreno pertence à Companhia de Distritos Industriais - CDI- e sua ocupação é ilegal. Desde a tragédia, 295 famílias da Vila foram atendidas em programas de remoção para diversos loteamentos e conjuntos habitacionais quem vêm sendo construídos pela Prefeitura. Atualmente, existem 60 famílias remanescentes que ainda residem na Barraginha em moradias bastante precárias, sob constante risco de desabamento. O maior impasse entre a Prefeitura de Contagem e estas famílias é que elas se recusam a deixar o local, alegando que as casas ou lotes oferecidos em troca não correspondem aos imóveis por elas hoje ocupados. Além disso, comerciantes instalados na Vila e que também devem deixá-la temem sofrer prejuízos em seus negócios com a mudança do local. Francelino Rocha informou que, no último dia 21 de fevereiro, estas famílias foram contempladas com um lote urbanizado e uma ajuda de custo na forma de material de contrução cedido pela Prefeitura, além de um servente para auxiliar na contrução de novas casas no bairro Darcy Ribeiro. Para tentar solucionar o impasse, o deputado Durval Ângelo sugeriu que a Prefeitura, através da superintendência habitacional, faça um levantamento dos casos mais problemáticos e promova uma reunião entre as partes em busca da solução ideal. Vários casos foram relatados, durante a reunião, por moradores que já foram removidos e também pelos que permanecem no local, como exemplos de negociações injustas que estão sendo propostas pela Prefeitura de Contagem. Além disso, pessoas que já foram indenizadas em dinheiro queixaram-se de terem recebido valores insignificantes para as perdas que sofreram. Francelino Rocha esclareceu que as indenizações pagas pela Prefeitura de Contagem basearam-se na média das construções destruídas pela tragédia, mas que há realmente casos a serem revistos. Ele esclareceu ainda que a decisão da Prefeitura é de não mais promover indenizações através de dinheiro, uma vez que a prática mostra que as pessoas não utilizam os recursos para deixarem o local em busca de outra moradia. Evitar nova tragédia - Francelino Rocha afirmou que a maior preocupação da Prefeitura é evitar que uma nova tragédia aconteça, uma vez que o terreno da Vila Barraginha continua apresentando graves problemas que significam instabilidade dos barracos e casas do local. O superintendente da Conterra afirmou também que o governo do Estado, através da Copasa, tem ignorado as diversas reivindicações da Prefeitura de Contagem para solução dosproblemas de esgoto não só na Vila Barraginha e nos loteametnos como em todo o município. A sugestão de reunião apresentada pelo deputado Durval Ângelo foi acatada pelo superintendente habitacional, que ressaltou que a Prefeitura está aberta ao diálogo. A reunião deve acontecer dentro de aproximadamente 15 dias, mas a data ainda não foi marcada, e deve servir também para encaminhar solução para problemas apontados por moradores de outros loteamentos e conjuntos habitacionais, como a Vila Itália e Campo Alto. A Vila Itália abriga hoje parte dos moradores removidos da Vila Barraginha e foi contruída parte com recuros externos oferecidos pelo governo da Itália, através do consulado daquele país em Minas Gerais e parte com recursos da Prefeitura de Contagem. Presenças - Participaram da reunião os deputados JoãoLeite (PSDB), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Durval Ângelo (PT), Antônio Roberto (PMDB) e Alencar da Silveira (PDT), além dos convidados Antônio Sérgio Tonet, procurador do Ministério Público; Francelino Caetano Rocha, superintendente habitacional da Conterra; Geraldo Ferreira Monção, diretor do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos; Padre Antônio Bianchi, da Paróquia de Nova Contagem; Eva Torres de Aguir, representando Dom Décio Zandonade, bispo auxiliar da Cúria Metropolitana; e Florisberto Alves Calheiros, representante dos moradores remanescentes da Vila Barraginha; e ainda cerca de 100 pessoas, todas moradoras das vilas Barraginha, Itália e Campo Alto.
Responsável pela informação: Cristiane Pereira - GCS - 031-2907800