James Cavallaro acusa Santos Moreira de retaliação

O diretor da Human Rights Watch (HRW), James Louis Cavallaro, que representa a entidade não governamental no Brasil, ...

18/03/1998 - 02:13

James Cavallaro acusa Santos Moreira de retaliação



     O diretor  da Human  Rights Watch  (HRW), James  Louis  Cavallaro,    que

representa a  entidade não  governamental no  Brasil, participou  nesta terça-

feira da  reunião da  Comissão de  Direitos Humanos  da Assembléia. A reunião,

convocada para  que Cavallaro  apresentasse aos  parlamentares um  relato  das

visitas realizadas  nos presídios de Minas Gerais, acabou se transformando num

ato de  desagravo pelo  tratamento recebido  por Cavallaro  na  Secretaria  de

Segurança Pública  (SSP). O  secretário de  Segurança Pública  e o  Governador

Eduardo  Azeredo   foram  criticados  pelos  presentes.  O  deputado  Tarcísio

Henriques (PSDB),  ex-titular da  pasta da  Justiça, solidarizou-se  com James

Cavallaro, mas repudiou os ataques ao governador do Estado.

     Além de  ter sido  impedido de  visitar presídios  sob  comando  da  SSP,

Cavallaro ainda  passou pelo constrangimento de ser acusado de assédio sexual,

por duas mulheres que se encontravam no gabinete do Secretário Santos Moreira.

Cavallaro visitou,  na segunda-feira  a   Delegacia de  Furtos e  Roubos, após

interferência do  Ministério Público,  mas esquivou-se  de  fazer  comentários

dizendo que  os presos  poderiam  sofrer  retaliação.  Ele  visitou  também  a

Associação de   Assistência ao Condenado (APAC), em Itaúna, onde os índices de

recuperação de  condenados  são  grandes.  Cavallaro  prepara  pesquisa  e  um

relatório para a Human Rigths Watch sobre as condições dos presídios em vários

estados brasileiros.

     O deputado  Durval Ângelo  (PT), que  requereu a  realização da  reunião,

disse que  o impedimento  sofrido por  Cavallaro além  de ter  sido  um  gesto

"deselegante" por parte do governo mineiro, pois atinge a uma entidade que tem

prestígio mundial  e atua  em 70  países, demonstra  que o Poder Executivo tem

coisas a  esconder. Ela  relatou também  episódio da  tentativa de  visitar  a

penitenciária Nelson  Hungria,  em  Contagem,  no  domingo.  O  deputado  e  o

representante da  HDW foram impedidos de entrar na penitenciária, por ordem do

diretor da Superintendência de Organização Penitenciária, Coronel Lopes.

     James Cavallaro  disse que  o trabalho  realizado  pela  CPI  do  sistema

carcerário deveria  servir de  modelo para os demais legislativos do país. Ele

disse que  a recusa  em permitir  seu acesso  aos presídios de Minas Gerais se

deve a  declaração que  fez, ano passado, contrariando afirmação do governador

Eduardo Azeredo  de que não havia tortura em Minas Gerais, conforme denunciava

a CPI  do sistema  carcerário. Na  época, Cavallaro retrucou que quem dissesse

que em  Minas não  havia tortura  ou estava  mal-informado ou  faltava  com  a

verdade. Ele  confirmou a  declaração na reunião. E acrescentou que não falava

de tortura  em qualquer  outro sentido  que não o da violência física cometida

contra pessoas que estavam presas.

     Ao falar  do episódio  da acusação  de assédio de sexual, James Cavallaro

disse estranhar a atitude do secretário Santos Moreira, que deveria encaminhar

as mulheres  que faziam  a acusação  à delegacia  para formulação  de queixa e

tomada de  depoimentos. Em  lugar de  agir assim,  preferiu chamar a imprensa.

Dizendo que nunca viveu situação semelhante, em 14 anos, ele acrescentou que o

secretário deve explicações à entidade que representa e à sociedade. Cavallaro

foi também  "acusado" de  manter relações  amorosas com a tia da denunciante e

com a  ex-vereadora Maria Caiafa. Ele repudiou as acusações e pediu à imprensa

para acompanhar os desdobramentos do caso.

     Participaram também  da reunião o vice-presidente do Conselho Estadual de

Direitos Humanos  e representante  da Pastoral  Carcerária,  Fábio  Alves  dos

Santos, e  a titular  da Coordenadoria  de  Defesa  dos  Direitos  Humanos  da

Prefeitura de  Belo Horizonte,  Maria Caiafa e o promotor Gilvan Alves Franco,

da Vara  de Execuções  Criminais. Fábio  Santos disse  que a  tortura em Minas

Gerais  é   institucionalizada  e   que   o   governo   estadual   desrespeita

continuadamente os  tratados internacionais  assinados sobre  direitos humanos

assinados  pelo   Brasil.  Ele   disse  também  que  houve  uma  tentativa  de

"linchamento moral"  de James Cavallaro "irresponsável e preocupante". "Se são

capazes de  fazer isso com o representante de uma organização internacional, o

que não fazem com os presos ou pessoas indefesas?", perguntou.

     Maria Caiafa  disse que  o episódio  da acusação  de assédio  sexual, que

considrou  "atitude   leviana  e  irresponsável  do  secretário  de  Segurança

Pública", foi  uma tentativa  de intimidação  moral e  cortina de  fumaça para

esconder a  situação dos  presos em  Minas Gerais.  Ela enumerou  como atos de

omissão do  governo o  episódio das  bombas lançadas  na cidade  no início  do

governo Azeredo, até hoje não esclarecido, na apuração da Chacina do Taquaril,

e quanto às recomendações do relatório da CPI do sistema carcerário.

     Caiafa disse  também que o governador está se omitindo do dever de nomear

o ouvidor-geral  de polícia.  Depois de  ter  sancionado  a  lei  que  cria  a

ouvidoria de  Polícia, o  governador, segundo Maria Caiafa, declarou que a lei

tem falhas.  O promotor  Gilvan Franco  disse que  faltou  trato  político  do

Governo em  relação a  visita de  James  Cavallaro.  Ele  também  confirmou  a

existência de tortura nos cárceres de Minas.

     Os deputados João Leite (PSDB), que preside a Comissão, e João Batista de

Oliveira (PDT)  também se  solidarizaram com o representate da HRW. João Leite

mostrou a  situação  dos  projetos  de  lei  propostos  pela  CPI  do  sistema

carcerário. O  deputado  Tarcísio  Henriques  defendeu  o  governador  Eduardo

Azeredo das  críticas de  omissão. Ele  disse que  se não fosse por vontade do

Governador a  CPI do sistema carcerário não teria existido. Disse também que o

Conselho Estadual  de Direitos  Humanos, do  qual fazem  parte Maria  Caiafa e

Fábio Alves  dos Santos,  foi reabilitado  na gestão  de Azeredo. Participaram

também da  reunião representantes  de entidades  que atuam  junto ao  presos e

representantes dos agentes penitenciários.

     Participaram da  reunião os  deputados João  Leite (PSDB),  Durval Ângelo

(PT), João Batista de Oliveira (PDT) e Tarcísio Henriques (PSDB).

Responsável pela informação: Francisco Mendes - GCS - 031-2907800