CPI aprova relatório que prega exclusão do Ipsemg

Instituir um Orçamento da Seguridade e excluir o Ipsemg do caixa único do Tesouro. Essas foram algumas deliberações d...

10/12/1997 - 11:07

CPI aprova relatório que prega exclusão do Ipsemg



     Instituir um Orçamento da Seguridade e excluir o Ipsemg do caixa único do

Tesouro. Essas foram algumas deliberações do relatório final da CPI do Ipsemg,

aprovado em  reunião desta  terça-feira (9),  que começou  no final da tarde e

durou cerca  de cinco horas. Depois de muito debate e interrupções da reunião,

os deputados  chegaram a  um consenso  e o  relator, deputado  Sebastião Costa

(PFL), acatou  várias emendas  apresentadas pelos demais integrantes da CPI. A

reunião foi acompanhada por vários representantes do sindicalismo público.

     O relatório  conclui, entre  outras medidas,  pela apresentação  de  três

projetos de  lei, um  projeto de  lei complementar  e uma proposta de emenda à

Constituição.  Os   projetos  tratam  dos  seguintes  assuntos:  estabelece  a

competência do  Ipsemg para  arrecadar  e  aplicar  as  contribuições  sociais

(tributação,  arrecadação,  fiscalização  e  cadastramento);  dispõe  sobre  o

Conselho Deliberativo  do Ipsemg  e sobre  o Conselho  de Beneficiários. A PEC

acrescenta dispositivo  ao art.157  da Constituição,  criando o  Orçamento  da

Seguridade, o  que exclui  o Ipsemg  do caixa  único. O  PLC  modifica  a  Lei

Complementar que  dispõe sobre a organização do Tribunal de Contas, atribuindo

a ele o dever de fiscalizar as entidades municipais de previdência.

     Terceirização do gerenciamento provoca polêmica

     A terceirização  da gerência operacional dos credenciamentos dos serviços

médicos e  odontológicos, na  capital e  no interior,  foi um  dos pontos mais

polêmicos. Ficou  decidido que só será aberta licitação para este fim, se após

a reestruturação  do Instituto e a implantação das medidas propostas pela CPI,

o Ipsemg  ainda continuar sem condições de controlar os credenciamentos. Essas

propostas de  reestruturação incluem:  informatização dos 25 centros regionais

do Ipsemg  no prazo  de um  ano; descentralização  das atividades; melhoria da

gestão da autarquia, entre outras.

     Outro ponto  polêmico - a venda dos imóveis do Ipsemg, entre eles o Hotel

de Araxá  - também  foi objeto  de consenso entre os deputados. Ficou decidido

que os  recursos provenientes  da alienação  dos imóveis serão utilizados pelo

próprio Instituto para sua atividade-fim.

     A CPI  também recomenda a criação de uma comissão paritária, composta por

membros e servidores do Executivo (50%), Legislativo (25%) e Judiciário (25%),

para propor  a mudança  da natureza  jurídica do Ipsemg - de autarquia, como é

hoje, para uma forma que lhe assegure maior flexibilidade e autonomia.

     Conselho Deliberativo e Conselho de Beneficiários

     O Conselho  Deliberativo, de acordo com um dos projetos de lei sugeridos,

será composto  paritariamente  por  representantes  da  administração  pública

estadual e dos servidores, com o objetivo de definir as políticas e as ações a

serem implementadas pelo Ipsemg.

     O Conselho de Beneficiários, segundo outro projeto proposto, será formado

por câmaras  localizadas nas Regiões Administrativas do Estado, estruturado de

forma a possibilitar ao servidor público atuar na defesa de seus direitos, bem

como contribuir para a qualidade dos serviços.

     Outra  determinação   é  realizar,  em  120  dias,  o  cadastramento  dos

servidores do  Estado e respectivos dependentes e das Prefeituras conveniadas,

para permitir  a identificação  dos usuários  do sistema,  por faixa  etária e

grupo de renda.

     Contribuição para saúde e aposentadoria

     O relatório  também determina  a  contabilização  e  a  administração  da

parcela da  contribuição destinada  à saúde de forma completamente separada da

destinada aos benefícios previdenciários (pensões). O relatório destaca que as

aposentadorias, as  pensões e  demais benefícios,  e  a  saúde  devem  receber

tratamento diferenciado  em um  novo modelo  de seguridade social. "Dada a sua

natureza diversa, as receitas devem ser completamente separadas e de tal forma

administradas".

     Para as aposentadorias, acrescenta o documento, cujo regime a ser adotado

deve ser  o de capitalização, terá que ser constituído um fundo previdenciário

próprio com  aporte de recursos do Estado; da União (como fator de compensação

pela absorção, pelo Estado, de ex-segurados do INSS) e de empréstimos obtidos,

além da contribuição dos segurados.

     Outra deliberação  é criar  um grupo  de trabalho, formado paritariamente

por representantes  dos três  Poderes e  dos  servidores,  para  acompanhar  a

reforma da  seguridade social  em nível  federal e  adequá-la ao  Estado. Esse

grupo deverá  ser formado  10 dias  após a promulgação das emendas federais da

Previdência e da Reforma Administrativa.

     Alienação do Hotel de Araxá

     O relatório  final opina,  ainda, pela  alienação  dos  bens  imóveis  de

propriedade do  Ipsemg que  não tenham  relação com a atividades do Instituto,

como, por  exemplo, o  Grande Hotel  de Araxá,  que tem  apresentado prejuízos

sucessivos. Com uma taxa de ocupação abaixo de 20%, em 1995, o prejuízo foi de

R$ 928 mil e, em 1996, de R$ 797 mil.

     O Ispemg  possui  hoje  32  imóveis,  dos  quais  11  alugados.  O  valor

patrimonial desses bens foi avaliado em mais de R$ 130 milhões, dos quais mais

de R$ 15 milhões se referem aos imóveis alugados. Para 1998, a autarquia prevê

uma receita  de aluguéis de mais de R$ 1,4 milhão - 0,2% do total das receitas

do Instituto.

     Quanto ao  imóvel localizado  na Praça  Sete de  Setembro, em BH, tramita

hoje no  Tribunal de  Justiça processo  para definir  o valor  do aluguel. Por

muito tempo  o valor  recebido pelo  Ipsemg foi  inferior  ao  praticado  pelo

mercado. A  partir do  começo deste  ano (época  da renovação  contratual),  o

Ipsemg estipulou  um aluguel  de R$ 208 mil, valor compatível com o mercado. O

locatário contestou, passando a depositar, em juízo, valor inferior, e ajuizou

ação competente.

     O Tribunal  de Contas transformou em processo administrativo as denúncias

relativas à  administração dos  imóveis do  Ipsemg. O processo está em fase de

instrução. O  órgão também está fazendo uma inspeção no Ipsemg para esclarecer

os empréstimos  realizados pela  autarquia ao  Estado com recursos da venda de

bens mobiliários da autarquia. A inspeção ainda não foi julgada pelo Plenário.

     Pagamento dos débitos

     Quanto ao pagamento do débito do Estado com o Ipsemg, a CPI recomenda que

se oficie  à Promotoria  de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, "a fim de

que prossiga nos entendimentos para o acordo a ser firmado entre o governo e o

Ipsemg ou,  em caso  de  impossibilidade  de  acordo,  que  adote  as  medidas

judiciais cabíveis".

     O valor  da  dívida  é  contraditório.  A  Divisão  de  Contabilidade  da

autarquia apurou,  entre janeiro  de 1972  e abril de 1996, o débito de R$ 607

milhões. A Superintendência Central de Auditoria do Estado, entre maio de 1985

e abril  de 1996,  chegou aos R$ 579 milhões. A Superintendência Financeira do

Ipsemg, entre  maio de  1985 e  agosto de 1996, apurou um débito de mais de R$

812 milhões.  Já o  Tribunal de  Contas chegou  a uma dívida de mais de R$ 887

milhões.

     Quanto à  reserva de  caixa (que  cobre despesas não programadas e estava

esgotada em  novembro passado),  a expectativa  do governo é de que ela esteja

recomposta até o final deste ano ou janeiro de 1998. A CPI entende, então, que

deve ser  firmado acordo com o governador para que sejam mantidos os repasses,

até que  o Ipsemg  passe a  arrecadar diretamente  as  contribuições  de  seus

segurados.

     Outros problemas apontados e soluções sugeridas

     * Estrutura  administrativo-organizacional pesada:  há agências regionais

desnecessárias e  excesso de  cargos comissionados (do total de aposentadorias

concedidas a partir de julho de 1994, 37,7% ocorreram em cargos de comissão).

     * Deficiência da articulação entre áreas; descontinuidade administrativa;

falta  de   um  planejamento   estratégico;  existência  de  uma  "cultura  de

descompromisso";  burocratização   excessiva  (como  exemplo,  o  processo  de

aquisição de material, que tem 75 passos).

     * Despreparo  técnico e  gerencial das  chefias: evidenciado  em diversos

depoimentos. Entre  eles, o  do  ex-chefe  da  Divisão  Médica  e  da  Clínica

Oncológica e  Médica, Roberto  Pimentel Dias,  que, em  documentação enviada à

CPI, diz  textualmente: "inexistindo  um plano de carreira na instituição e um

sistema de  avaliação de competência e desempenho, os cargos de comando passam

a ter grande significado em termos de salário e tendem a se tornar moeda em um

sistema de  troca de  favores. Os  cargos são  ocupados  por  curto  prazo  (o

suficiente para  se proceder  o apostilamento),  freqüentemente por servidores

que desconhecem  os problemas  básicos da unidade, exceto os superficiais". Em

quase  todos  os  depoimentos,  foi  dito,  no  entanto,  conforme  destaca  o

relatório, que  "a atual  gestão vem  buscando priorizar os critérios técnicos

ou, ao menos, conjugar os critérios técnicos e políticos".

     * Relações promíscuas entre o setor público e o privado: o relatório cita

o depoimento  do diretor  de Saúde,  Eduardo Fernandes  Pinto Coelho: "a maior

parte das  chefias não  está pensando  na Previdência,  mas no  Mater Dei,  no

Felício Rocho". Como exemplo, continua o relatório, Pinto Coelho "menciona que

tem sido  intransigente no  que  diz  respeito  à  contenção  das  internações

especiais (realizadas  em hospitais  não credenciados, cujas contas altíssimas

são pagas pelo Ipsemg), mas vem sofrendo um verdadeiro bombardeio por parte de

funcionários da casa e de políticos, no sentido de liberar essas internações".

     * Precariedade  dos mecanismos de controle e avaliação: a inexistência de

um cadastro  de beneficiários  inviabiliza o  controle dos serviços prestados,

impedindo a redução dos seus custos e comprometendo a eficiência e eficácia do

sistema. Para implantar o cadastro, é preciso acelerar a informatização.

     * Inexistência  de política  de pessoal:  não há  um plano de carreira na

autarquia ou programas de treinamento e capacitação de servidores; o pessoal é

distribuído de  forma inadequada  e o piso salarial é baixo. Outros agravantes

recentes do problema de pessoal foram o PDV e a corrida às aposentadorias.

     * Possíveis  irregularidades na  concessão de  benefícios a servidores do

Ipsemg: o  Tribunal de  Contas já  está fazendo uma inspeção sobre o assunto e

será solicitado ao órgão que encaminhe à Assembléia o relatório do trabalho.

     * Problemas  de assistência  à  saúde:  os  leitos  disponíveis  para  os

usuários do  Ipsemg estão  concentrados em  115 municípios, ou seja, 13,5% dos

municípios do  Estado. Em  Minas, 49%  das cidades  não  contam  com  recursos

hospitalares, mas  é fato  que a  autarquia só  está  presente  em  26,3%  dos

municípios que dispõem desses recursos.

     No que  diz  respeito  aos  serviços  ambulatoriais  e  odontológicos,  o

Instituto possui  algum tipo de credenciamento em 603 municípios. Assim, 29,3%

das cidades  mineiras não  dispõem de qualquer serviço do Ipsemg. Considerando

que os  credenciamentos odontológicos são mais numerosos que os médicos, entre

as cidades  que contam  com serviços  da autarquia,  parte  significativa  não

possui serviços médicos.

     Embora a  cobertura assistencial  seja baixa  tanto na  capital  como  no

interior, em  BH estão  concentrados os poucos recursos disponíveis (70,2% das

internações; 54,7%  dos exames  e 62,8% do gasto com saúde). No interior, onde

estão  cerca  de  85%  dos  beneficiários,  computando-se  os  servidores  dos

municípios conveniados,  a situação  é dramática, sobretudo quanto à oferta de

internações hospitalares.



     O relatório  destaca que  é preciso  reestruturar o  modelo assistencial,

assim como  redefinir o  papel do  Hospital do  Ipsemg - cujo desempenho não é

satisfatório, tanto  na internação  quanto no  atendimento ambulatorial, o que

tem repercussão  direta sobre  os custos,  tornando-os elevados. A CPI propõe,

ainda, a  extensão dos  credenciamentos de  serviços médicos  (ambulatoriais e

hospitalares) e odontológicos na capital e no interior.

     * Problemas  previdenciários: em  Minas Gerais,  a seguridade  social  da

maioria dos  servidores públicos,  à exceção  do pagamento das aposentadorias,

está a cargo do Ipsemg - que absorveu, com o advento do Regime Jurídico Único,

milhares de  servidores públicos  que eram  contratados em  regime  celetista,

inclusive ex-servidores  da MinasCaixa,  que  não  trouxeram  nenhum  tipo  de

contribuição.

     O pagamento  das aposentadorias  não é da competência do Ipsemg, embora o

governo justifique  a utilização  de recursos  da autarquia, sob a alegação de

que o  Tesouro paga  os proventos  dos inativos  - o  que, por  ser  benefício

previdenciário, seria obrigação do Instituto.

     Quanto aos convênios previdenciários com municípios, a CPI determina que,

em etapa  anterior, devem  ser feitos  os cálculos  atuariais específicos para

cada caso.  Os cálculos  serviriam de  base  para  alíquotas  de  contribuição

compatíveis com  a realidade  de cada  um. Uma  solução seria a associação dos

municípios  por   microrregiões  do   Estado,  para   constituir   fundos   de

aposentadorias e pensões.

     Histórico da  CPI - A CPI foi instalada em maio, a partir de requerimento

assinado por  mais de  1/3 dos parlamentares e encabeçado pelo deputado Gilmar

Machado (PT).  Entre os  motivos para  criar a Comissão, estão irregularidades

administrativas, necessidade  de mudança  no gerenciamento  e  uma  dívida  do

Estado de  cerca de R$ 800 milhões. O Forum Técnico sobre Seguridade Social do

Servidor Público, promovido pela Alemg em março, também cobrou a instalação da

CPI.

     Os parlamentares  ouviram 23  pessoas em reuniões na Alemg e fizeram três

viagens e  visitas de  inspeção: para  o  Triângulo  Mineiro  (Monte  Carmelo,

Uberaba e  Uberlândia), para  M[5~ontes Claros e Sul do país (Curitiba e Porto

Alegre). O  Hospital do  Ipsemg também  recebeu visita da CPI para verificação

dos serviços  de marcação  de consultas,  do ambulatório, do serviço médico de

urgência,  do  setor  de  internação.  Analisados,  também,  pelos  deputados,

inúmeros documentos.

     Composição - Fizeram parte da Comissão os deputados Miguel Martini (PSN),

presidente, José  Braga (PDT),  vice; Sebastião  Costa  (PFL),  relator;  Luiz

Fernando Faria  (PPB), Anderson  Adauto (PMDB),  Gilmar Machado  (PT) e Carlos

Pimenta (PL).  Os suplentes  foram os  deputados Alencar  da  Silveira  Júnior

(PDT), Roberto  Amaral (PSDB),  Bilac Pinto (PFL), Alberto Pinto Coelho (PPB),

Antônio roberto (PMDB), Maria José Haueisen (PT) e Ermano Batista (PL).

Responsável pela informação: Fabiana Oliveira - GCS - 031-2907800