Técnicos defendem lei simplificada e controle do Orçamento
Buscar uma simplificação do Projeto de Lei Complementar 135/96, que estatui as normas gerais de direito financeiro pa...
11/11/1997 - 11:01Técnicos defendem lei simplificada e controle do Orçamento
Buscar uma simplificação do Projeto de Lei Complementar 135/96, que estatui as normas gerais de direito financeiro para elaboração, execução e controle dos planos relativos ao orçamento da União, estados e municípios foi uma das questões enfatizadas pelo secretário Federal de Controle Interno do Ministério da Fazenda, Domingos Poubel. Ele falou, ontem de manhã, no segundo dia de realização do Fórum Técnico "Gestão de Recursos Públicos e Cidadania", sobre a "Integração Institucional entre o Controle Interno e o Controle Externo - Fiscalização dos Recursos Públicos". Domingos Poubel explicou que a preocupação de se ter um conhecimento das finanças públicas e a busca de um equilíbrio orçamentário levaram o Ministério da Fazenda a elaborar planos de controle. A partir de 1995, segundo ele, procurou-se acabar com o orçamento paralelo, determinando que todo gasto deve estar dentro do orçamento. Também passou a valorizar a contabilidade como base de informação e buscar instrumentos para trazer informações rápidas e precisas, de forma a dar maior transparência e credibilidade às peças de planejamento do Estado. A partir da CPI do Orçamento, relatou o técnico, o Ministério passou a trabalhar a questão do controle dentro de princípios de prevenção de falhas. Foram separadas as funções do Tesouro, responsável pelas finanças e pelo equilíbrio das finanças públicas, e da Secretaria Federal de Controle, encarregada da gestão dos recursos públicos, ou seja, por informar como o dinheiro do contribuinte está sendo gasto. Dentro desta área, os técnicos separaram a fiscalização, que faz o acompanhamento e avaliação dos programas no local de sua execução, da auditoria, que tem por objetivo avaliar a gestão dos recursos, sua eficiência e cumprimento de metas. Ainda segundo Domingos Poubel, o governo federal também orienta suas ações no sentido da descentralização, repassando a responsabilidade pela execução dos programas para quem está na "ponta" do processo, ou seja, para os estados e municípios, aumentando, ainda, a responsabilidade da participação social da comunidade ligada ao programa. O secretário federal disse que grande parte da legislação ainda não se adequou a essa realidade, uma vez que exige ainda muita burocracia. Ele destacou a importância de uma integração entre os poderes para exercer o controle do orçamento, mas lembrou que os órgãos que fazem o controle interno não devem ser vistos como entes absolutamente independentes, "porque senão se confundiriam com os órgãos que fazem o controle externo". Para ele, o controle interno deve ser visto como um instrumento de auxílio para a correta gestão dos recursos públicos. Ao final de sua exposição, Domingos Poubel sugeriu a elaboração de uma legislação mais simplificada na sua forma e mais profunda no seu conteúdo. Também sugeriu a participação de um órgão de contabilidade para dar forma à lei e para detalhar os princípios básicos nela contidos. Defendeu, por fim, a descentralização como filosofia e a organização de uma estrutura que tenha competência na execução dos gastos e a busca de um orçamento equilibrado, "que não apenas comece o ano com equilíbrio entre receitas e despesas, mas que também termine o ano mantendo este equilíbrio". Municípios Na fase seguinte, o presidente da Federação Mineira de Associações Microrregionais de Municípios (Femam), Vítor Vieira dos Santos, questionou a preocupação com a elaboração de uma lei mais aperfeiçoada sem se levar em conta a situação dos municípios. Segundo ele, não há como discutir orçamento sem mencionar a questão dos recursos disponíveis, que são muito poucos para a maior parte dos municípios, disse ele. O ex-prefeito de Nova Lima disse que falta coordenção entre as esferas de governo ao prever os investimentos, ao mesmo tempo em que cresce a cobrança da sociedade por maior eficiência das autoridades públicas. Vítor Vieira disse que é preciso descentralizar o planejamento buscando as opções de baixo (dos municípios) para cima (governo federal) e não o inverso. Da mesma forma, o deputado Miguel Martini mostrou-se preocupado com os números apresentados nos orçamentos, que não expressam a realidade de arrecadação e, consequentemente, dos gastos do Estado. Ele defendeu a simplificação da lei e pediu garantias para aqueles que são responsáveis, dentro do controle interno, por denunciar as falhas do orçamento. Miguel Martini também falou da importância das audiências públicas no processo de construção da consciência do cidadão, independentemente do volume de recursos a ser destinado para as regiões, e defendeu uma ação coordenada entre os poderes para fazer um controle rigoroso do orçamento. O auditor-geral do Estado, Luís Vicente Calicchio, alertou para a necessidade de dar respostas com clareza à população sobre como foram aplicados os recursos públicos. Disse que de nada adianta fazer um bom planejamento, se o cidadão não sentir que o dinheiro dele foi empregado corretamente e, do contrário, quem e como o empregou incorretamente. Também questionou o aperfeiçoamento dos sistemas de fiscalização e de controle, uma vez que o governo não investe nos funcionários públicos, que são os responsáveis pelo exame técnico. Para Calicchio, o Estado está perdendo seus melhores quadros e não se preocupa com a sua reciclagem. Por sua vez, o conselheiro do Tribunal de Contas de Minas, Fued Dib, acrescentou à discussão a polêmica da autonomia e independência dos órgãos de controle externo, como o próprio TC. Segundo ele, o fato de ser auxiliar do Legislativo não diminiui as funções do Tribunal, mas há um equívoco ao se querer impor uma dependência hierárquica. O conselheiro também defendeu a mesma independência conferida aos órgãos de controle externo aos de controle interno e apoiou a idéia de uma legislação mais simplificada, considerando, na sua conclusão, que não é por falta de legislação que o país padece, mas por falta de vontade política de agir. Na fase dos debates, os participantes do fórum levantaram diversas questões sobre participação social e controle do orçamento; influência política nos tribunais de contas; fiscalização e punição; papel e responsabilidade do legislativo na execução das peças orçamentárias entre outras.
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