Prós e contras da municipalização são mostrados por confer.
Os professores João Monlevade, do Conselho Nacional de Educação, e a professora Glaura Vasques, do Conselho Estadual ...
17/10/1997 - 03:08Prós e contras da municipalização são mostrados por confer.
Os professores João Monlevade, do Conselho Nacional de Educação, e a professora Glaura Vasques, do Conselho Estadual de Educação, foram os conferencistas da abertura do Fórum Técnico "Ensino Fundamental sob a Nova Legislação", promovido pela Assembléia Legislativa. Eles trataram do tema "Novos critérios de financiamento educacional e projetos educacionais dos municípios" O debate foi coordenado pelo Presidente da Comissão de Educação da Assembléia, deputado José Maria Barros (PSDB). Barros disse que as mudanças que estão ocorrendo na educação geram expectativas de avanço, mas também apreensão, numa conjuntura de racionalização e de contenção de gastos. Ele disse esperar que o Fórum Técnico possa contribuir para um salto de qualidade do ensino em Minas Gerais. João Monlevade disse que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), União, estados e municípios são cabeças de sistema, com atribuições inerentes. Ao sistema municipal cabe, prioritariamente, a educação infantil e a fundamental. Ele sugeriu aos prefeitos que "desconfiem das intenções de quem quer a municipalização". Fez críticas ao governo federal e disse que os quatro conceitos que historicamente regem a questão da educação no país são o "descompromisso", a "desresponsabilização", a "parceria" e a "disputa". Como exemplo do descompromisso, ele citou dispositivo constitucional de 1988 que obriga a União a gastar 50% da arrecadação com educação. "Os governos Sarney, Collor e Itamar Franco não cumpriram o dispositivo e o governo FHC fez emenda à Constituição para não realizar o gasto". A descentralização é a forma que o governo encontrou para desresponsbilizar-se da educação, transferindo-a aos estados, como o Império a transferiu para as províncias sem recursos. A parceria, que ele chama de "pacto entre desiguais", produziu no Brasil as escolas privadas e as vinculadas a entidades religiosas. A escola privada "triunfou sobre o fracasso da escola pública" e vicejou no momento em que o ensino público faliu, alimentando-se também dos baixos salários do professor da escola pública. O quarto conceito, o de disputa, foi traduzido por Monlevade na questão política dos recursos. O governo federal diz que o custo/ano do aluno é de R$ 315,00, enquanto o professor garante que, pela LDB, deveria ser de R$397,98. A LDB propõe um regime diferente da parceria, de cooperação entre iguais, entre os entes da federação. O que vai presidir a descentralização do ensino é a capacidade de atendimento, o que não siginifica dividir simplesmente o dinheiro que se tem pelo número de alunos, afirmou o conferencista, que defendeu a criação, pelos municípios, de um sistema de ensino, através de lei, que permitirá inclusive aumentar o tempo de duração do ensino fundamental. Na fase de debates, João Monlevade afirmou que a congrande conquista da LDB foi determinar a existência de uma conta específica para os recursos destinados à educação. "A partir de agora, acaba o caixa único", disse. Ele apontou também problemas que estão surgindo em estados onde as reformas estão mais avançadas. No Estado do Pará, os recursos dos Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios são repassados, como determina a lei, a cada 10 dias, mas a parte retirada do ICMS não tem sido depositada pelo Governo Estadual no tempo determinado. Fundo - A representante do Conselho Estadual de Educação, Glaura Vasquez tratou do "Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério". Sua criação traz uma expectativa positiva de mudança. Glaura considerou a nova Lei de Diretrizes e Bases um avanço, mesmo que o Congresso Nacional tenha ignorado a contribuição dos educadores. "Apesar dos problemas e equívocos, a nova lei reforça a flexibilidade, a autonomia, a participação e o pluralismo de idéias", disse. Glaura disse que a descentralização permitirá ao município responsabilizar-se pelas suas propostas pedagógicas. Ela relatou que tem presenciado em diversos estados brasileiros a mesma preocupação e apreensão com a criação do Fundo, que tem exigências que serão problemáticas para alguns municípios. O Fundo é um mecanismo contábil, que retira 15% dos recursos transferidos para aplicação no ensino fundamental. Os municípios que tem arrecadação própria serão menos afetados, e os que dependem de recursos transferidos podem ter alguns problemas, analisa a professora. Sobre o valor estipulado para gastos por aluno, Glaura acredita que os municípios que gastam acima de R$ 348 por aluno/ano, poderão sofrer um rebaixamento na qualidade do ensino. A União não tem compromisso de contribuição fixa para o Fundo, devendo completar os valores para inteirar o montante "per capita" estabelecido. Segundo Glaura, também não há dinheiro novo, mas a redistribuição de um dinheiro que já é da Educação. Ela afirmou que o "Mec está mais preocupado com o problema de caixa do que com a qualidade da Educação". Glaura disse que a LDB não obriga a municipalização do ensino, que decorre de interpretação do Fundo. A conferencista lembrou que na Constituinte a proposta de municipalização do ensino não vingou, porque não se acreditava nos recursos para sustentar tal mudança. O que mudou de lá para cá? "Os estados querem a qualquer custo dividir com os municípios as despesas e por isso vem a pressioná-los. De positivo, fica a capacidade do Estado para cuidar do ensnino médio", respondeu. A grande preocupação dos professores, segundo a integrante do Conselho Estadual de Educação, é com o número de alunos em sala de aula, pois as prefeituras poderiam aumentar o número de alunos em sala para pagar poucos professores. E os secretários municipais estão preocupados porque o Fundo retira automaticamente os 15% das receitas transferidas, mas não os repassa automaticamente. Avaliando os cenários possíveis para a nova situação, Glaura Vasquez concluiu que os municípios devem buscar novas fontes de recursos para custear a educação de jovens e adultos. Na fase de debates, Glaura Vasquez disse que os municípios deverão fazer um plano de carreira e que servidores que não estiverem prestando serviço diretamente na escola não poderão ser pagos com dinheiro do Fundo. Informou também que os projetos educacionais em andamento não sofrerão alterações.
Responsável pela informação: Francisco Morais - GCS - 031-2907800