Redução de recursos da saúde provocam polêmica na ALEMG
A Comissão de Saúde e Ação Social realizou, nesta quinta-feira (23), reunião com a presença do secretário-adjunto de ...
24/10/1997 - 03:28Redução de recursos da saúde provocam polêmica na ALEMG
A Comissão de Saúde e Ação Social realizou, nesta quinta-feira (23), reunião com a presença do secretário-adjunto de Planejamento e Coordenação Geral, Marcus Pestana, e de representantes de setores do Governo ligados à saúde, para discutir aspectos do Orçamento do Estado para o exercício de 1998. A reunião foi solicitada pelo deputado Carlos Pimenta (PSDB). Carlos Pimenta justificou a realização da reunião pela dificuldade de se entender o Orçamento para 1998. "Com a diluição dos temas, fica difícil ter-se idéia global de quanto será aplicado em cada área", disse. Programas - O secretário-adjunto Marcus Pestana fez uma exposição sobre as realizações do governo na área de saúde, que forma um dos programas estruturantes do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI). Ele disse que o problema da falta de recursos vem sendo minimizado com gerenciamento eficaz, busca de maior produtividade e avaliação permanente. Ele apresentou o Programa de Saúde da Família (PSF), o Consórcio Intermunicipal de Saúde, o programa Farmácia Essencial e vários indicadores da Fhemig, da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e do Hemominas. O Programa de Saúde da Família, iniciado em 1995, com o atendimento de 22 municípios por 42 equipes, atua hoje em 259 municípios, com 466 equipes. Cada equipe atende 800 famílias. O programa, segundo Marcus Pestana, tem a função estratégica de inverter o modelo de atendimento, que antes era feito nos hospitais. Os Consórcios Intermunicipais de Saúde têm o objetivo de racionalizar os gastos com saúde nos municípios. Em 1995, eram apenas 32 consórcios, que envolviam 371 municípios, atendendo cerca de 6,5 milhões de pessoas. Em 1997, já são, segundo o secretário-adjunto, 63 consórcios, envolvendo 725 municípios para atender uma população de cerca de 10, 6 milhões de mineiros. Na rede da Fhemig, foram realizadas em 1994 38.379 internações. Em 1996, foram 53.277. O número de leitos de CTI subiu de 14, em 94, para 60, em outubro deste ano. O número de consultas na Fhemig também cresceu, de 774 mil, em 95, para 1.043.530, em 97. O crescimento da produção, na Fundação Ezequiel Dias (Funed), de medicamentos líquidos, de 59 mil, em 95, para 418 mil, em setembro de 97, e de sólidos, de 10 milhões 600 mil para 35 milhões 500 mil, no mesmo período, permitiu ao Governo iniciar o Programa Farmácia Essencial. O programa, que prevê a distribuição gratuita de medicamento, vai ser implantado até o final do ano nos 250 municípios mais carentes, com população de até 20 mil habitantes e pretende alcançar, em 1999, 705 municípios, nas mesmas condições, e atender 6 milhões de pessoas. O Hemominas, que, entre 1994 e 1997, ampliou a atuação de 80 para 160 municípios, verificou o crescimento do número de doadores, de 200 mil, em 1994, para 700 mil, em 1997. O secretário Marcus Pestana considerou os números "eloqüentes" e disse que, com o Orçamento para 1998, o Governo atinge a meta prevista de investimentos de 10,3% das receitas correntes líquidas em saúde. Orçamento - O Orçamento do Estado para o próximo ano prevê a destinação de R$ 919.643.337,00 para a área de saúde, repartidos da seguinte forma: Secretaria de Estado da Saúde - R$ 139,6 milhões; Funed - R$ 41 milhões; Fhemig - R$ 193 milhões; Hemominas - 35,8 milhões; Fundo Estadual de Saúde - 509,9 milhões. Marcus Pestana anunciou também que deverão ser incorporados ao Orçamento R$ 37 milhões, através do programa Reforsus, com dinheiro do Banco Mundial. Divergências - O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) questionou o índice de 10,3% de investimentos na saúde, afirmando que houve redução de mais de 10% no Orçamento da área para o ano que vem, em relação ao Orçamento deste ano. "O Orçamento de 98 passa a idéia de que os gastos de saúde serão maiores do que em 97 e isto não é verdade", disse. Ele acrescentou que os programas mostrados pelo secretário apresentam problemas. É preciso discutir, segundo o parlamentar, como as equipes do Programa de Saúde na Família estão sendo formadas e o princípio que determina que uma equipe possa atender 800 famílias. O modelo cubano, em que se baseou o programa, prevê o atendimento de 600 pessoas por equipe, informou o deputado. Ele disse ainda que é preciso discutir também a participação do Conselho Estadual de Saúde e dos conselhos municipais. "A lógica dos consórcios intermunicipais fere a lógica da participação", criticou. O deputado Carlos Pimenta (PSDB) disse que a redução no Orçamento do Estado é reflexo da redução da ordem de R$ 2 bilhões no Orçamento da União. "Os problemas no Orçamento de Minas vêm lá de cima", disse o parlamentar, acrescentando que prefere ver o Orçmento realista, que possa ser executado. O deputado Wilson Pires (PFL) fez uma análise das falhas do SUS e criticou a "esquerda florida" que defende sua manutenção. Disse que "não existe na cabeça dos economistas e planejadores projeto de se fazer profilaxia e saneamento", para resolver o problema de saúde das populações carentes. O deputado Jorge Hannas (PFL) indagou do secretário sobre a relação entre os investimentos em transportes e saúde, vinculados pela Constituição do Estado. Marcus Pestana informou que o Orçamento destina R$ 589,6 milhões para transportes e sistema viário, quase R$ 300 milhões a menos que o valor destinado à saúde. Respondendo ao deputado Adelmo Carneiro Leão, Marcus Pestana explicou que a aplicação de 10,3% na saúde corresponde ao cálculo sobre R$ 8 bilhões, resultantes das receitas correntes líquidas. O deputado Jorge Hannas disse que não estava convencido com os dados. O secretário Marcus Pestana retirou-se antes do final da reunião, e os esclarecimentos passaram a ser prestados pela superintendente de Planejamento e Coordenação da Secretaria de Estado da Saúde, Patrícia Carvalho Ataíde. A superintendente discordou do deputado Adelmo Carneiro Leão sobre o número de famílias atendidas por equipe do PSF. Disse que, além do modelo cubano, o governo tomou como base o modelo do Canadá, onde uma equipe atende 800 famílias. "Desde que o Programa começou no Canadá, a internação hospitalar decresceu em 50%". Ela afirmou que a redução do Orçamento da saúde é de R$ 138 milhões e que a diferença verificada no Orçamento vai refletir nos municípios, pois houve corte de recursos do Ministério da Saúde. As diferenças poderão ser compensadas com recursos do Reforsus e de certo modo, pela Lei Robin Hood, que compensa investimentos do município na saúde. O presidente da Comissão, deputado Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB), disse que prefeitos do interior reclamam que, em relação ao repasse de ICMS determinado pela Lei Robin Hood, eles recebem "mais notícias que recursos". Adelmo Carneiro Leão disse que pedirá à Assessoria da Assembléia que confronte os dados sobre o Programa de Saúde da Família de Cuba e do Canadá com os da Secretaria da Saúde. Ele apresentou também um requerimento à Comissão pedindo que sejam reincorporados ao Orçamento da área de saúde os R$ 218, 9 milhões de redução em relação ao ano passado, apurados pela sua assessoria. O requerimento foi aprovado. Participaram também da reunião representantes do Hemominas, da Funed e da Fhemig.
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