Discriminação racial é tema de Comissão
A denúncia de discriminação racial sofrida pelo ex- funcionário do Sistema Fiemg, Vicente Batista de Souza, foi tema ...
22/10/1997 - 03:08Discriminação racial é tema de Comissão
A denúncia de discriminação racial sofrida pelo ex- funcionário do Sistema Fiemg, Vicente Batista de Souza, foi tema da reunião de ontem (21) da Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da Assembléia. O caso é inédito em Minas. É a primeira vez que a Justiça do Trabalho dá ganho de causa, em primeira instância, a uma vítima da discriminação racial. Agora, o caso está no Tribunal Superior do Trabalho. Para o autor do requerimento que deu origem a reunião, deputado João Batista de Oliveira (PDT), a discriminação sofrida por Vicente Batista de Souza é um exemplo que demonstra a necessidade das pessoas discutirem mais sobre o assunto. "É um exemplo educativo para que as pessoas aprendam a respeitar e a conviver com a pluralidade de nossa sociedade". Para ele, é insustentável que a sociedade aceite episódios como esse, que envergonham a todos, e ainda afirme estar num estado democrático. O técnico em elétrico-mecânica, Vicente Batista de Souza, argumentou que sua luta por reparação é muito mais do que a reivindicação de sua reintegração. Para ele, a questão é de "dignidade e honra". Ele informou que foi professor concursado no Senai por 4 anos e que, nesse tempo todo, sofreu discriminação por parte de seus chefes imediatos e diretores da escola. Vicente Batista informou que o seu supervisor, José Carlos Magalhães, dizia- lhe sempre que a "Lei Áurea" havia sido escrita a lápis e que, a qualquer momento, poderia ser apagada. Ele acrescentou que o supervisor dizia que negro não tem "espaço" no Senai. Vicente Batista foi demitido em dezembro de 1995 e, desde então, vem tentando, junto à Justiça do Trabalho e movimentos de Direitos Humanos, sua reintegração no Sistema Fiemg. Ele questionou a postura da Fiemg, a qual não compareceu a reunião, dizendo que essa atitude reforça a posição de não negociação adotada pela entidade. A Federação alegou, em sua justificativa, que não compareceria à reunião pelo fato de Vicente Batista estar usando de "poderes políticos" para reverter uma situação que não lhe é favorável nos Tribunais. A assessoria jurídica da Fiemg afirmou, ainda, que Vicente Batista está sendo usado por grupos e pessoas que estão descontentes ou insatisfeitos por não terem conseguido algo junto a Federação. O deputado Durval Ângelo (PT) manifestou o seu descontentamento com a postura da Fiemg e qualificou essa atitude como um "desrespeito ao Poder Legislativo e ao povo de Minas". A Comissão aprovou requerimento de autoria do deputado João Batista de Oliveira (PDT), que solicita a visita de seus membros e representantes de movimentos sociais ao presidente da Fiemg, Stefen Bogdan Salej, para discutir a questão. "Já que eles se negam a vir até nós, vamos até eles", disparou o deputado. Repúdio O deputado João Leite (PSDB) manifestou ainda, durante a reunião, o seu descontentamento diante da notícia de que o diretor do Instituto de Criminalística de Minas Gerais, Ronaldo Jaques Camargo, será um dos agraciados na cerimônia de entrega da Medalha Santos Dumont. Para ele é estranho que uma pessoa que vem dirigindo tão precariamente um órgão de tamanha importância no Estado, e que por diversas vezes tentou impedir que as investigações da CPI tivessem acesso a verdade, seja agraciado com um mérito desse porte. O deputado Durval Ângelo manifestou também sua indignação diante da informação de que o delegado André Luiz da Rocha, um dos acusados de tortura pela CPI, seja promovido ao "nível 3" de delegado. Para o deputado João Batista de Oliveira, essa atitude do Governo é um incentivo à tortura. Foi aprovado um requerimento de autoria do deputado João Batista de Oliveira que solicita a revogação da promoção do delegado e da entrega da medalha. Presenças Participaram da reunião os deputados João Leite (PSDB), que a presidiu; Durval Ângelo (PT) e João Batista de Oliveira (PDT). Participaram, ainda, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo César Funchi; o coordenador do Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas de Assistência Social e Informação Profissional do Estado de Minas Gerais, Ernesto Passos de Andrade e diversos representantes de entidades e movimento populares.
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