Com. discute trabalho infantil e adolescentes infratores
O trabalho infantil e o atendimento à criança e ao adolescente infrator foram tema de reunião da Comissão de Direitos...
16/10/1997 - 03:08Com. discute trabalho infantil e adolescentes infratores
O trabalho infantil e o atendimento à criança e ao adolescente infrator
foram tema de reunião da Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da
Assembléia, nesta quarta-feira (15). Todos os convidados apresentaram dados e
análises sobre o assunto e o consenso foi pela necessidade de um
comprometimento maior da sociedade e de uma política governamental
comprometida com a solução dos problemas.
A secretária Municipal de Desenvolvimento Social de Belo Horizonte, Vera
Victer, disse que a discussão dessas questões deve considerar a Região
Metropolitana e não apenas o município. A Secretária apresentou os resultados
de uma pesquisa, feita em 1995, sobre crianças abaixo de 14 anos trabalhadoras
nas ruas do centro da cidade. Segundo a pesquisa, 75% das crianças nasceram em
Belo Horizonte, 18% vieram de outras cidades do Estado ou de outros Estados e
a maioria mora na capital há mais de três anos; 7% não mencionaram onde
nasceram. Essas crianças trabalham vendendo balas, flores, lavando e vigiando
carros, pedindo dinheiro ou fazendo biscates.
Vera Victer apresentou, ainda, dados da Delegacia Regional do Trabalho,
que apontaram, em 1996, 33.897 crianças entre 10 e 14 anos trabalhando na
RMBH, sendo um terço, aproximadamente, meninas. O projeto da Prefeitura para
resolver esse problema inclui, segundo ela, bolsas de estudo, trabalho de
profissionalização de mães e sustentação das crianças fora do horário escolar.
A intenção é, ainda, unificar as ações das Secretarias. A Secretária anunciou
que um centro emergencial de acolhimento de adolescentes infratores,
construído com recursos da sociedade civil, sob a supervisão do Juizado da
Infância e Adolescência, deverá ficar pronto em dezembro. O centro terá
capacidade para 40 adolescentes.
O técnico da Secretaria de Estado do Trabalho, Ação Social e da Criança e
do Adolescente, Murilo Tadeu Moreira e Silva, representando o secretário,
Eduardo Barbosa, disse que em 7 de setembro o governador do Estado assinou um
protocolo de intenções com municípios para a erradicação do trabalho infantil.
Acordo semelhante foi assinado pelo Governo Federal, com os Estados, há um
ano. Segundo Murilo, a visão da Secretaria é de que o trabalho infantil só
poderá ser erradicado com ataque sistêmico, envolvendo a qualificação
profissional do chefe da família e a participação da sociedade. Caso
contrário, para ele, a ação governamental estará fadada ao fracasso.
Quanto ao adolescente infrator, o técnico lembrou que a lei que criou a
SetasCAD deixou a cargo da Secretaria de Justiça a Superintendência de
Reeducação do Menor Infrator (Serami). Não há unidades de internação para
meninas, que são recolhidas na unidade do bairro Horto.
Solidariedade - O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB,
Carlos Vitor Muzzi, destacou o isolamento das entidades militantes da área da
criança e adolescente com relação à sociedade. Para ele, a questão mostra "a
absoluta falta de solidariedade da sociedade brasileira", revelada pelos
protestos quando uma unidade para menores pode ser instalada perto de suas
casas.
Trabalho infantil no meio rural
O representante do Grupo Mineiro contra o Trabalho Infantil, Luiz Chaves,
falou especialmente sobre o trabalho infantil no meio rural. Para ele, esse
trabalho não é fruto da miséria social - como relatou a Secretária Municipal
Vera Victer -, mas fruto da "esperteza e safadeza dos empresários". Ele
relatou que há o trabalho familiar, nas pequenas propriedades, e o outro,
mascarado por contrato de trabalho que, na verdade serve como desculpa da
empresa para não contratar adultos nem pagar direitos trabalhistas.
Leis - A solução, para Luiz Chaves, seriam leis mais específicas,
prevendo até a desapropriação das grandes propriedades que exploram o trabalho
infantil, a proibição de que empresas participem de concorrências públicas e
restrições comerciais. "O trabalho nessas condições não enobrece, mata",
afirmou.
O representante da Pastoral do Menor, Raimundo R. Mesquita, disse que
estamos na fase de colocar em prática o Estatuto da Criança e do Adolescente,
o que está trazendo grandes conflitos. Ele defendeu uma política ampla e uma
ação governamental efetiva. Mesquista afirmou, ainda, que falta às entidades a
capacidade de articulação dentro de um projeto comum.
Requerimentos aprovados para visitas e convites
A Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais aprovou requerimentos do
deputado João Leite (PSDB), que a preside, convidando o secretário de Estado
do Trabalho, Eduardo Barbosa, para prestar esclarecimentos sobre o trabalho
desenvolvido no SOS Criança, unidades Horto e Barreira, em Belo Horizonte; e
ainda para que a Comissão visite essas unidades. Outros requerimentos
aprovados, do mesmo autor, convidam o juiz da Vara da Infância e Juventude da
Capital, Tarcísio José Martins, para falar sobre os trabalhos desenvolvidos
com crianças e adolescentes; e o secretário de Estado da Justiça, Tarcísio
Henriques, para falar sobre o trabalho do Centro de Internação Provisória
(Ceip), em BH, e o Centro de Internação do Adolescente (CIA), em Sete Lagoas.
A Comissão de Direitos e Garantias, também a requerimento do deputado João
Leite, vai visitar o Ceip e o CIA.
Prostituição - Foram aprovados, também, requerimentos do deputado Durval
Ângelo (PT), para que a Comissão visite o Triângulo Mineiro e o Norte de
Minas, região carvoreira e Vale do Jequitinhonha, em locais a serem apontados
pelo Fórum Estadual do Trabalho Infantil. O deputado requereu, ainda, que seja
convocado o promotor de Justiça José Carlos Fernandes Júnior e o juiz de
Direito Ricardo Sávio de Oliveira, da Comarca de Pará de Minas, para prestarem
informações sobre a rede de prostituição infantil naquele município.
A requerimento do deputado Durval Ângelo, a comissão vai promover, no dia
24 de novembro, o Tribunal sobre trabalho infantil em Belo Horizonte. Serão
convidados: como juiz, Plínio de Arruda Sampaio; promotoria, Hélio Bicudo e
Aurélio; defesa: Raimundo Cândido (OAB/MG); corpo de jurado: Helena Greco,
deputado João Leite, Maria Cayafa, Lúcia Helena, padre Paulo Gabriel Lopes
Blanco, Letícia Sabatella, Sumara Oliveira; testemunhas: deputados Durval
Ângelo, Ivair Nogueira e João Batista de Oliveira, Luiz Chaves, duas crianças,
o ex-interno da Febem, Ronaldo, e Raimundo Mesquita.
Presenças - Participaram da reunião os deputados João Leite, Ivair
Nogueira (PDT) e Durval Ângelo.
Responsável pela informação: Fabiola Farage - GCS - 031-2907800