Arquivos do Dops é tema de debate na Com. de Dir. e Garantias
A abertura definitiva dos arquivos do Dops do período da ditadura militar, que estariam microfilmados e em poder da S...
19/09/1997 - 02:11Arquivos do Dops é tema de debate na Com. de Dir. e Garantias
A abertura definitiva dos arquivos do Dops do período da ditadura militar, que estariam microfilmados e em poder da Secretaria de Segurança Pública, foi a principal reivindicação dos participantes da reunião de ontem da Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da Assembléia. A Comissão convidou diversos representantes de entidades de defesa dos direitos humanos, do Arquivo Público Mineiro, além de políticos e do secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, que não compareceu. O primeiro depoimento foi do deputado federal Nilmário Miranda (PT), que mostrou um panorama da situação dos arquivos em outros Estados. Segundo ele, desde a posse dos primeiros governadores eleitos diretamente, os arquivos dos departamentos policiais responsáveis pela prisão política de militantes de esquerda começaram a ser abertos e disponibilizados para a população. Minas Gerais, segundo ele, é o local onde ainda se encontram resistências à abertura dessas informações, disse ele. Para Nilmário Miranda, o secretário de Segurança Pública trata o arquivo como se fosse um documento particular dele, decidindo, conforme critérios próprios, a quem entrega as informações solicitadas. O deputado sugeriu a elaboração de uma legislação que imponha o pagamento de indenização a todas as pessoas que sofreram tortura e exigiu o cumprimento da lei que obriga o Estado a democratizar as informações, repassando-as ao arquivo mineiro. O professor da UFMG, Fernando Massote, criticou a ausência do secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, e disse que a ocultação das informações do período de regime fechado brasileiro é uma forma de preservar nomes importantes da política e da elite mineira que se envolveram nesses episódios e que se perpetuaram no poder. Segundo ele, a questão da tortura e da prisão de militantes "não foi resolvida no plano moral" e que "deve haver meios para permitir a democratização dos arquivos". O vereador Betinho Duarte (PT), ao relatar seu drama pessoal como preso político, lembrou que o próprio secretário de Segurança Pública, Santos Moreira, foi quem assinou um atestado em que registravam-se "antecedentes criminais", pelos simples fato de ter sido preso ao participar de uma passeata. Recentemente, disse Betinho, ao solicitar informações ao secretário Santos Moreira, nos arquivos do Dops, obteve a cópia de uma documentação incompleta e sem o registro de antecedentes criminais, o que, segundo ele, configura a adulteração do documento. Já a deputada Sandra Starling (PT) disse que apesar de ter sido extinto pela Constituição de 1988, o Dops continua existindo com sigla trocada. Segundo ela, é inaceitável que os sindicalistas que participavam de uma manifestação dos rodoviários tivessem sido presos no Deoesp. Sandra Starling disse também que uma das alegações para não abrir os documentos é o fato de que eles teriam "referências desabonadoras pessoais" e não políticas. Ela também criticou o fato de o arquivo não ter sido enviado ao arquivo público mineiro, segundo determina lei estadual oriunda de projeto de sua autoria, e solicitou informações ao Ministério Público para saber a razão pela qual ainda não foram feitas as investigações sobre os arquivos do Dops. Também falou, durante a reunião, a coordenadora do Grupo Tortura Nunca Mais, Heloísa Greco, cuja entidade, segundo afirmou, luta pela abertura de todos os arquivos referentes aos presos políticos, não só do Dops, mas do Exército, da PM e da Polícia Federal. Ainda segundo Heloísa Greco, é preciso que as autoridades também descubram os torturadores que continuam ocupando cargos dentro do Estado e que não apenas os exonerem, mas exijam uma punição exemplar. Ela concordou com a deputada Sandra Starling ao dizer que o Deoesp apenas mudou de sigla. Heloísa também distribuiu um abaixo-assinado elaborado por entidades do mundo inteiro, pedindo ao Congresso norte-americano o fechamento da Escola das Américas, que formou mais de 60 mil militares, a maioria dos quais citados como participantes de atos de repressão e tortura em diversos países. Ainda na reunião, a diretora do Arquivo Público Mineiro, Norma Góes Monteiro, falou sobre a legislação de arquivos públicos, especialmente no tocante aos documentos confidenciais. A diretora opinou contra a transferência dos arquivos microfilmados do Dops ao Arquivo Público alegando não ter condições materiais e humanas de atender à grande demanda. Também participou da reunião a ex-militante de grupos de esquerda durante o governo militar, Carmela Pezzuti, que narrou a dificuldade encontrada para recuperar arquivos completos referentes à sua passagem pelo Dops e de seus dois filhos, ainda que tenha sido "muito bem recebida pelo secretário", segundo afirmou. Ao final da reunião, foram aprovados dois requerimentos da deputada Maria José Haueisen, o primeiro solicitando à Secretaria de Segurança Pública informações sobre os arquivos do Dops e o outro convocando o titular daquela pasta, delegado Santos Moreira, para uma nova audiência pública, juntamente com os representantes dos grupos de defesa dos direitos humanos e pessoas vítimas de tortura. Desaforamento Na mesma reunião, foi aprovado parecer favorável ao requerimento de autoria da Comissão, solicitando o desaforamento do julgamento dos suspeitos pela morte do sindicalista Ivan Chaves, ocorrida em Abre Campo. Também foi aprovado requerimento do deputado Durval Ângelo (PT), para que se oficie à Mesa a decisão da Comissão para que seja feita solicitação ao Ministério da Justiça, no sentido de que o inquérito do incêndio no gabinete do relator da CPI do Sistema Penitenciário, deputado Ivair Nogueira (PDT) seja apurado pela Polícia Federal. Racismo Do deputado João Batista de Oliveira (PDT) foi aprovado requerimento convidando o presidente da Fiemg, Stefan Salej, e representantes do Senai, da Comissão Contra Discriminação Racial da CUT e do Senalba, a fim de debater a discriminação racial de que foi vítima, no Senai, o sr. Vicente Batista de Souza. O deputado João Leite (PSDB) presidiu a reunião, que teve ainda a presença dos deputados Ivair Nogueira (PDT), Durval Ângelo (PT) e Maria José Haueisen (PT).
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