Coronel Dias critica proj.e defende mudanças profundas na PM
As mudanças na Polícia Militar são absolutamente necessárias, mas precisam ser abrangentes e propor soluções definiti...
19/09/1997 - 02:11Coronel Dias critica proj.e defende mudanças profundas na PM
As mudanças na Polícia Militar são absolutamente necessárias, mas precisam ser abrangentes e propor soluções definitivas para os problemas que geraram a crise atual da instituição e não apenas paliativas, como ocorre com os dois projetos enviados ao Legislativo pelo governo. Em síntese, essa é a opinião do coronel Jair José Dias, comandante geral reformado da Polícia Militar de Minas Gerais, apresentanda ontem ao membros da Comissão de Defesa Social da Assembléia. O coronel Dias defendeu a mudança do estatuto da PMMG; uma revisão das normas disciplinares - "não para o seu abrandamento, mas para sua atualização" -; e a redução do efetivo da corporação com a simplificação da sua estrutura. Respondendo às indagações do presidente da Comissão, deputado José Henrique (PMDB), ele explicou que, essa medida permitirá desonerar as atividades meio da instituição, hoje superdimensionadas, liberando efetivos para a função do policiamento. Ele cobrou ainda a implantação do Conselho de Defesa Social, previsto na Constituição mineira, mas não implementado, como uma iniciativa complementar e fundamental, para o Estado enfrentar os problemas da segurança pública. Ao analisar os dois projetos enviados ao Legislativo pelo governo estadual, propondo mudanças no estatuto da PM e facultando ao governador a possibilidade de recrutar oficiais da reserva para ocupar postos de chefia, o coronel Dias classificou-os de superficiais e cobrou do governo uma análise mais consistente das causas da crise da PMMG. Origem dos problemas - O aumento salarial concedido aos oficiais militares uns dias antes da manifestação dos policiais, é considerado apenas uma das causas da insatisfação da corporação. "Essa medida agravou as diferenças salariais dentro da instituição - esclareceu o coronel - e criou uma distorção grave, pois, num segundo momento, quando o governo se propôs a recompor essas perdas, foi pressionado a dar um aumento superior aos 10% concedidos aos oficiais. Com isso, hoje, alguns oficiais, dependendo do seu tempo de serviço, estão ganhando menos que um praça". Mas a deterioração da coesão interna da instituição, segundo o coronel reformado, tem origens mais profunda, provocada pela penúria material da corporação. "Não estou falando apenas da redução de recursos para a PM no orçamento público - frisou ele - mas também da defasagem entre o valor autorizado de gastos no orçamento e a efetiva liberação de recursos". Sem dinheiro, a Polícia Militar está inadimplente e, segundo o coronel, tornou-se uma das insitituições públicas que mais deve aos seus fornecedores no Estado. "Não estamos acostumados a viver desta forma" - reclamou o coronel, criticando a indisciplina orçamentária financeira do governo. Fez também duras críticas às chamadas "polícias comunitárias", que representam a institucionalização da mendicância da corporção, criando uma fonte de arrecadação informal, de alto risco, mas que está sustentando necessidades básicas da PM, como de combustível, por exemplo. "Uma força pública - sentenciou ele - não pode abrir mão da sua independência logística em relação à comunidade que está servindo, inclusive por uma questão hierárquica". O Estado deve ainda mais à PM. Segundo revelou o coronel Dias, o governo não está recolhendo ao Instituto de Previdência da PM nem os 20% sobre a folha de salário, que teria por obrigação, nem a parcela descontada no contracheque do servidor. "Só aí - disse ele - são R$ 60 milhões que estão retidos para financiar o Estado a custo zero, mas essa dívida já soma mais de R$ 250 milhões, jogando na insolvência uma instituição com mais de 80 anos." Projetos tímidos - Ao analisar o PLC nº 23/97, de autoria do governador, que faz algumas mudanças no estatuto da PM, com o objetivo de possibilitar a convocação de praças da polícia mlitar, da reserva remunerada para o serviço ativo, o coronel Dias criticou a proposta original, mas reconheceu que o substitutivo que está em tramitação já soluciona muitos problemas. "Porém é uma medida exageradamente tímida" - insistiu ele, observando que ela não enfrenta a causa maior deste problema, que é a inativação prematura do militar. A proposta de mudança no estatuto deveria ser mais ampla, na opinião do militar, que citou um projeto de reforma que já esteve tramitando no legislativo mineiro, em 1991, mas foi retirado. "Esse projeto - disse ele - deve estar superado, mas foi fruto de um estudo de mais de 16 anos sobre a corporação e pode ser um bom começo para se elaborar um novo projeto". A PEC nº42/97, que abre a possibilidade do governo recrutar oficiais da reserva para funções de chefia, foi mais duramente criticada pelo coronel, que defendeu a sua não aprovação pelo Legislativo. "Ela cria mais exceções que não contribuem em nada para promover a coesão interna da instituição" - argumentou. O coronel Dias lembrou que, a quatro anos atrás, já foram feitas outras mudanças no estatuto da PM com esse objetivo, de beneficiar oficiais com postos de chefia. Assim, enquanto os militares tem um prazo de apenas um mês para entregar o seu posto, quando entram para a reserva, os ocupantes dos cargos de comandante chefe da PMMG, de chefe do gabinete militar e de chefe do estado maior, podem ficar de dois a três anos na função. "O tratamento diferenciado dentro de uma instituição como a nossa - disse ele - é um equívoco. Além disso, está-se confundindo a função de um comandante chefe com a de um secretário ou ministro de estado. Não existe paralelo entre um e outro. O poder do comandante chefe não é burocrático e, ao buscar no passado um oficial que já perdeu o seu vínculo profissional com a corporação, existe o risco dele não ter liderança para exercer o seu poder". O coronel Dias advertiu também que as mudanças propostas na PEC 42 poderão abrir espaço para que a política partidária passe a intervir dentro da instituição. "Isso ocorria no passado - disse ele - e temos de voltar atrás para buscar as boas experiências e não as ruins, como essa. Hoje, os oficiais da ativa não podem ter nenhum vínculo partidário, mas os inativos tem essa possibilidade e é saudável que exerçam esse direito. Mas, quando voltam a exercer uma função na ativa, esse vínculo partidário poderá ser prejudicial para a corporação". O coronel reformado da PMMG respondeu a várias perguntas do deputado Arnaldo Penna (PSDB), esclarecendo alguns aspectos da cultura da instituição e da sua forma de operar. Participaram ainda da reunião os deputados Ajalmar Silva (PSDB) e Jorge Hannas (PFL).
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