Americano diz que violência policial é totalmente negativa
O diretor e professor da School of Criminal Justice, State University of New York, David H. Bayley, participou nesta ...
29/08/1997 - 02:14Americano diz que violência policial é totalmente negativa
O diretor e professor da School of Criminal Justice, State University of New York, David H. Bayley, participou nesta quinta-feira do Ciclo de Debates "Segurança Pública e Democracia", promovido pela Assembléia Legislativa, com apoio da UFMG. Bayley abordou o assunto sob três aspectos: o processo de reforma das instituições policiais no mundo; as mudanças que estão ocorrendo nas polícias; e o problema da violência policial. No entendimento de Bayley, as reformas dependem de vontade política e de uma administração muito ágil. Mas não bastam leis e mudanças dos regulamentos se as lideranças, se o comando da polícia não estiver sensibilizado para a necessidade dessas reformas. Além disso, esse sucesso depende dos mecanismos de supervisão e dos esforços dos reformadores. Bayley disse que é do grupo reformador um trabalho permanente, de observação, com relatórios de avaliação. É primordial que todos os escalões da polícia participem do processo para que ele alcance o sucesso desejado. Polícia comunitária O segundo ponto abordado pelo professor diz respeito às mudanças que estão ocorrendo nas corporações policiais em alguns países. Citou três direcionamentos de mudanças de ciclos: o aumento da intensidade das respostas que a polícia vem dando aos cidadãos; o envolvimento do cidadão nas questões de segurança e, por último, a responsabilidade do policial. A resposta da polícia aos cidadãos está patente nas estatísticas que indicam que 60% do trabalho da polícia vem por solicitação da população, e só 10% das ações ocorrem por iniciativa da polícia. As chamadas pelo sistema 911 nos Estados Unidos, como o 190 em Belo Horizonte, representam o grande trabalho da polícia. E a responsabilidade da polícia é de atender ao cidadão. Em países como a Inglaterra, Canadá e Estados Unidos estão sendo encorajadas as formações de grupos civis para exercerem o trabalho policial e de fiscalização dos atos da polícia. É a polícia comunitária, envolvendo o cidadão na prevenção do crime. Constatou-se que a maioria das informações sobre o crime vem do público. A solução de 90% dos crimes investigados advêm de informações do público. Bayley disse que nas grandes cidades, tanto no Brasil como nos países de primeiro mundo, a proporção de policiais nas ruas não passa de 10% da força do contingente. Isso significa que há policiais de menos nas ruas, e esses nunca estão nos lugares onde ocorrem os crimes. Outro aspecto interessante citado pelo conferencista é de que "o crime não depende do que a polícia faz. A polícia não tem jeito de agir para evitar todos os crimes que ocorrem. Por isso, a polícia deve trabalhar envolvendo a cooperação do público." Ele lembrou a importância da parceria de prevenção ao crime envolvendo a polícia e as comunidades, buscando melhoramentos como aperfeiçoamento da iluminação pública, quando for o caso, melhor patrulhamento e um contato constante entre o policial e o público. Bayley criticou o monopólio da polícia nos processos de investigação de crimes. Sem ajuda da população, torna-se difícil a solução da maioria dos crimes, argumentou. Ele citou também dados de uma pesquisa por ele realizada em países da América Latina, sobre o envolvimento das forças armadas no policiamento, comparando-o com estatísticas mundiais. Constatou que, no mundo inteiro a participação das forças armadas é de 7%, na América Latina é de 13% e, em alguns casos é total. Na América Latina, 36% das forças policiais civis estão subordinadas a instâncias de poder das forças armadas, contra 11% nos demais países. Outra dado da pesquisa mostra o caráter do policiamento, sendo que, nos países latino-americanos 55% são militaristas e, no resto do mundo, 24%. Violência policial Bayley afirmou que " o uso da força excessiva da polícia contra civís é tola. Não funciona. Não se consegue diminuir a criminalidade com tais métodos. O uso da força aliena os civis, e expõe a polícia desnecessariamente. Atrai para a corporação a desconfiança da sociedade e desvia o foco de outros setores com responsabilidade sobre os problemas, como a justiça e o Estado. Portanto, concluiu Bayley,"a violência policial é totalmente negativa e se volta contra a própria polícia." O Ciclo de Debates "Segurança Pública e Democracia" contou com a participação de deputados, policiais civis e militares, juristas e servidores envolvidos com a questão da segurança pública. O presidente Romeu Queiroz, na abertura dos trabalhos, citou as enquetes recentes que mostram que a segurança ocupa uma das primeiras posições entre as preocupações populares, concorrendo com a demanda por empregos e melhores salários. Ele considerou, por isso, propício o momento para uma discussão ampla das políticas de defesa social e segurança pública, "de modo a resguardar-se ao cidadão brasileiro o direito de viver e trabalhar em paz". Os debates foram coordenados pelo deputado Leonídio Bouças (PFL). Atuaram como debatedores os professores Cláudio Beato, da UFMG, e Jorge da Silva, da UERJ.
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