potencial de negócios do setor de reflorestamento

O coordenador Técnico da Emater, Ivo Pera Éboli, abriu a programação da tarde do Fórum de Fomento Florestal, apresent...

21/08/1997 - 10:04

potencial de negócios do setor de reflorestamento



     O  coordenador  Técnico  da  Emater,  Ivo  Pera  Éboli,  abriu  a

programação da  tarde do  Fórum de  Fomento Florestal, apresentando um

modelo de  comparação entre  os rendimentos  obtidos  em  plantios  de

eucalipto convencionais  e os  de uso  múltiplo, em áreas operadas por

produtores rurais. O técnico avaliou ainda o resultado de cada uma das

plantações, identificando a de maior rentabilidade.

     Ele tomou  como parâmetro  uma  área  reflorestada  com  1,5  mil

árvores, com  espaçamento  de  3x2  m.  Num  plantio  convencional,  a

colheita se  daria em três etapas, com cortes rasos no sétimo ano, 14º

e 21º ano, a R$ 5,00 por estéreo em pé. Num plantio hipotético, de uso

múltiplo, 60% do desbaste se daria no sétimo ano, privilegiando os pés

mais fracos,  a um  preço de  R$ 5,00 também. As 600 árvores restantes

seriam mantidas e comercializadas a R$ 17,00 a unidade.

     Ao fazer a análise financeira dos dois empreendimentos, o técnico

da Emater  demonstra que, no primeiro caso, a taxa interna de retorno,

que corresponde  à remuneração  do capital  investido, foi  de 12,32%,

enquanto no  segundo caso,  chegou a  22,16%. "Se eu fosse um produtor

rural -  concluiu ele  - não  teria a  menor dúvida  sobre  como  iria

trabalhar minha plantação".



     Agilidade da cadeia produtiva influi na rentabilidade

     Com um índice de produtividade baixo, de 3,5m3/ano por ha, contra

os 25m3/ano  obtidos em Minas Gerais, a Finlândia compensa o seu fraco

desempenho, determinado  por fatores  climáticos, com  uma performance

excepcional da  cadeia produtiva do setor como um todo - da plantação,

passando  pela  indústria  de  transformação  até  chegar  ao  mercado

consumidor.

     O consultor  da Indutor  OY, empresa  que atua na área de fomento

florestal naquele  país, Markku  Simula, demonstrou, na sua exposição,

os bons  resultados dessa  alta produtividade  do sistema,  citando os

números do  setor. A  Finlândia tem um terrítório que corresponde a 34

milhões de  ha, quase  a metade  do de  Minas Gerais. A sua superfície

florestal alcança  23 milhões  de ha,  ou 66%  da área  total do país,

exploradas,  basicamente,   por  produtores  rurais  que  entregam  ao

mercado, anualmente, 50 milhões m3 de madeira.

     A madeira é destinada à indústria de papel e celulose e indústria

moveleira e de beneficiamento da madeira. "Apesar das dificuldades que

temos na  fase inicial  deste  processo,  do  plantio  da  floresta  -

observou Simula  -, este  setor  é  fundamental  para  a  economia  da

Finlândia, sendo responsável por 50% do ingresso de divisas no país".

     Um paralelo  - Comparando  as experiências  da Finlândia com a de

Minas Gerais,  o  consultor  da  Indufor  Oy  explicou  que  além  das

diferenças ambientais,  que resultam  em índices  também desiguais  de

produtividade, a  mais importante  é a do perfil das florestas. "As da

Finlândia são  semi-naturais e  o plantio é, basicamente, um mecanismo

de regeneração.  Em Minas  Gerais, as  florestas são  artificais  e  o

plantio é feito com espécies exóticas " - observou Simula.

     Mas, nos  dois casos,  o produtor  rural é  um agente  importante

dentro do  setor. "Na Finlândia, talvez, um pouco mais" - admitiu ele,

informando que 80% da madeira industrial consumida no país é produzida

em área  de fomento.  Simula ponderou, no entanto, que o tamanho médio

das propriedades  florestais filandesas  é de  30 ha  e suas florestas

levam quase  35 anos  para iniciar  sua produção,  enquanto  em  Minas

Gerais as  áreas são  de 10  ha que  entram em produção já a partir do

sétimo mês.

     Outra semelhança  destacata pelo  consultor é  o fato do produtor

incluir a  atividade de  reflorestamento como uma entre outras de suas

atividades. "Nosso  sistema é  integrado e o produtor utiliza parte de

sua terra  para reflorestamento  e outra  para usos diversos. Em Minas

Gerais esse  uso consorciado  também é  comum,  principalmente  com  a

atividade agropecuária".  Simula considera  as duas  experiências,  da

Finlândia e de Minas, positivas, cada uma apropriada às suas condições

e seus objetivos econômicos e sociais.



     Técnico faz a defesa do setor guseiro

     Ao encerrar  as atividades  de  ontem,  o  diretor  Florestal  da

Siderúrgica Valinhos  e assessor do Sindicato da Indústria do Ferro de

Minas (Sindifer),  João Câncio  de  Andrade  Araújo,  falou  sobre  os

modelos de fomento florestal da Abracave e do Sindifer, defendendo que

o setor  guseiro de  Minas,  muitas  vezes  apontado  como  um  vilão,

responsável pelo desmatamento do Estado, não merece esse perfil.

     Para fundamentar  a sua  defesa, João  Câncio  demonstrou  que  o

Brasil precisou  de exatos 7,2 milhões de ha de florestas para o setor

guseiro manter  a sua atividade durante todo o período de 1500 a 1996.

"Essa área  - disse  ele -  é inferior  à de 7,5 milhões de ha que foi

desmatada em  Minas Gerais  para ser  utilizada como  área agrícola  e

muito menor que os 31 milhões de ha ocupados no Estado com pastagem".

     O assessor  do Sindifer  não tira a responsabilidade da indústria

de gusa  pelo desmante, mas defende que o peso da sua intervenção deve

ser redimensionado.  Ele observou  ainda que,  apesar do Estado ser um

grande consumidor  de madeira, para usos diversos, Minas tem ainda 26%

de cobertura nativa, o que demonstra a preocupação dos consumidores em

fazer um uso racional dessas áreas.

     Limitações - João Câncio ressaltou ainda que a própria legislação

brasileira inibiu,  por muito  tempo, uma  ação  sustentada  do  setor

siderúrgico e  guseiro. "O  nosso código  florestal,  contido  na  Lei

1.477/95, determinava,  no seu  art.21, que toda indústria siderúrgica

deveria ter  floresta própria para suprimento, impedindo, dessa forma,

o fomento  florestal. Só em 1989, com o DL 97.628 é que, pela primeira

vez no  Brasil, surgiu  um instrumento  que permitia as siderúrgicas a

desenvolver essa atividade através de pequenos produtores rurais.

     "O fomento  florestal é,  portanto, uma  atividade recente  entre

nós" - ponderou ele, citando que, até 1988, o programa implantado pela

Abracave e  o Sindifer atingiu uma área de apenas 4 mil ha. Depois das

modificações na  legislação federal,  em 89,  o programa ganhou fôlego

novo e  já contabiliza  9 mil  ha reflorestados. Segundo o assessor do

Sindifer, a  meta deste  programa é  a de  atingir, nos  próximos sete

anos, 520 mil ha, sendo que, 70% através do fomento florestal.

     João Câncio  falou ainda sobre a experiência do Sindicato do Gusa

(Sindigusa)  de  Divinópolis,  que  promoveu  a  associação  das  sete

empresas da  região para,  juntas, desenvolverem um projeto de fomento

florestal. "Estamos  atingindo uma  boa performance  - disse  ele -  e

agora vamos  investir na  qualidade e  produtividade do carvão vegetal

produzido a partir desses plantios".

     Programação de hoje inclui 10 exposições

     O Fórum  sobre  Fomento  Florestal,  promovido  pelo  Legislativo

mineiro, Secretaria  do Meio  Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e

Instituto Estadual  de Floresta,  prossegue hoje,  com  10  exposições

sobre sistemas  de fomento  privado, como  o da  Sadia e da Aracruz  e

modelos associativos,  como um  desenvolvido no  Mato Grosso  do Sul e

outro em São Paulo.

     No final  da tarde, os participantes deverão se reunir para fazer

uma  síntese  do  Fórum,  que  será  apresentada  pelo  presidente  da

Associação  Brasileira   de  Florestas  Renováveis  (Abracave),  Marco

Aurélio Machado.  O encontro  vai  subsidiar  ainda  a  elaboração  do

Programa Plurianual  Integrado de  Desenvolvimento  Florestal  para  o

Estado.

Responsável pela informação: Patricia Duarte - GCS - 031-2907800