CPI promove acareação entre delegados e vítimas de tortura
A CPI que investiga denúncias de irregularidades no sistema penitenciário do Estado promoveu ontem acareação entre pe...
15/08/1997 - 02:13CPI promove acareação entre delegados e vítimas de tortura
A CPI que investiga denúncias de irregularidades no sistema penitenciário do Estado promoveu ontem acareação entre pessoas que denunicaram terem sido torturados e policiais civis. Na parte da manhã, foram ouvidos, juntos, o bancário Sidney Cangussu e o delegado André Luiz Rocha; em seguida, o empresário Antônio Barbosa do Carmo e o delegado João Reis foram postos frente a frente. Também participou da reunião o detetive Fábio Marques, acusado pelos denunciantes de presenciar as sessões de tortura. Em seu depoimento, Sidney Cangussu, preso por suspeita de ter roubado uma agência do Banco do Brasil, confirmou as denúncias feitas anteriormente à CPI. Segundo ele, os policiais, chefiados pelo delegado André Luiz Rocha, o teriam "convidado" para seguir até a delegacia de Furtos e Roubo, onde o torturaram no "pau de arara", com sessões de choque e ameaças à sua vida, para que confessasse a autoria do crime. Depois de queixar-se por considerar que está sendo vítima de racismo, o delegado André Luiz Rocha desmentiu as acusações e disse que o bancário esteve na delegacia para prestar depoimento em seu gabinete. Segundo ele, Sidney transitou apenas pelo gabinete, pelo cartório e por uma sala de reconhecimento, negando a versão do bancário de que tivesse descido ao porão daquela delegacia, onde a violência teria sido cometida. O delegado contestou ainda o laudo do Instituto Médico Legal que confirmou as marcas da violência no corpo do bancário. André Luiz Rocha insinuou que as lesões poderiam ter sido feitas propositalmente pelo próprio bancário (autoflagelo). Também procurou minimizar o fato, alegando que as lesões não foram descritas nos autos do processo que é movido pelo bancário contra ele. O deputado Durval Ângelo (PT) pediu que o delegado confirmasse informação dada em reunião anterior à CPI, segundo a qual estaria envolvido em dois processos judiciais. Diante da confirmação, o deputado mostrou um prontuário com 10 processos contra ele. Por sua vez, André Luiz disse que foi absolvido em todos e alegou que alguns processos foram recentes e outros foram movidos durante sua passagem pela delegacia de Ponte Nova. Disse também achar estranho que depois de três anos em que ganhou prêmio como melhor delegado na Furtos e Roubo as pessoas queiram desmoralizá-lo. Delegado afirma que não há tortura na polícia O depoimento seguinte foi do delegado João Reis, titular da Delegacia de Operações Especiais (Deoesp). Ele negou a existência da sala de tortura, conhecida como "igrejinha" entre os presos que denunciam a prática de tortura naquele estabelecimento. Disse também que em seus 31 anos de polícia nunca tomou conhecimento de qualquer prática de tortura em dependências da polícia civil. O delegado não soube explicar porque as peritas encontraram a "igrejinha" sem o lacre, que foi determinado pelo juiz após a visita dos integrantes da CPI ao local. Segundo ele, o Deoesp funciona 24 horas por dia e ele não está presente o tempo todo para verificar a irregularidades que possam eventualmente acontecer. Após assistir a um vídeo que mostra a sala durante a visita da CPI e ver as fotos feitas pelos peritos, com marcas nítidas de que o local foi "maqueado" após a presença dos deputados, o delegado admitiu que tal fato "é preocupante" e prometeu investigar as possíveis irregularidades. O presidente da CPI, deputado João Leite, questionou a autoridade do policial pelo fato de não ter conhecimento de fatos graves, como a ocultação da barra supostamente usada para tortura, quando da visita do oficial de Justiça; o rompimento do lacre e um suposto pedido de substituição dos peritos encarregados do caso, que teria sido feito por João Reis ao titular do Instituto de Criminalística. "Como o senhor explica tantas contradições, delegado?", indagou o presidente da CPI. João Reis considerou que os fatos são de fato graves e disse que é preciso apurar as denúnicas. Em seguida, depôs o empresário Antônio Barbosa do Carmo, que garante ter sido vítima de tortura nas dependências do Deosp. Ele repetiu depoimento que já havia feito à Comissão, explicando os detalhes de como os policiais o "raptaram" - inclusive com a participação do filho do delegado João Reis, motorista da viatura - e de como foi torturado pelos detetives, com várias sessões de choque e afogamento. Segundo Antônio Barbosa, a tortura era acompanhada por policiais, numa sala ao lado, sendo um deles o estudante de Medicina e policial Fábio Marques Bandeira, que também compareceu à reunião, onde negou todas as denúncias e disse sequer ter visto Antõnio Barbosa no Deoesp. Antes de terminar sua participação na reunião, o delegado João Reis acusou Antônio Barbosa de ter sonegado informações à CPI, uma vez que disse não ter passagem pela polícia, quando sobre ele incidem vários inquéritos policiais. Concluiu dizendo que um erro não justificaria o outro, o do suposto uso de violência pelos policiais. Ele não eliminou totalmente a possibilidade de o fato ter acontecido, mas garantiu que não ficou sabendo e que não estava naquela delegacia, pois investigava, na ocasião, um caso de seqüestro.
Responsável pela informação: Rodrigo Lucena - GCS - 031-2907800