Adoção de modelo da Apac na penitenciária de Contagem
A maior parte da reunião desta terça-feira (12) da CPI do Sistema Penitenciário foi consumida com o relato de experiê...
13/08/1997 - 06:13Adoção de modelo da Apac na penitenciária de Contagem
A maior parte da reunião desta terça-feira (12) da CPI do Sistema Penitenciário foi consumida com o relato de experiências desenvolvidas pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) e pela Coordenação de Diagnóstico da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. A polêmica ficou por conta da possibilidade de adotar, na penitenciária de segurança máxima, o modelo da Apac, desenvolvido com sucesso em Itaúna - em cuja prisão não há policiais e baseado na laborterapia e na assistência à família dos condenados Para o chefe da Coordenação de Diagnóstico de Contagem, psicólogo Emerson Tardieu, a adoção do modelo no local é inviável. "Temos quinhentos presidiários com perfis psicológicos diferenciados, muitos com personalidade antissocial. O estado de ansiedade patológica em uma penitenciária de segurança máxima é elevadíssimo", afirmou. O assessor da presidência da Apac, Valdeci Ferreira, listou, por outro lado, experiências bem-sucedidas ocorridas em Quito (Equador) e em Córdoba (Argentina), onde existem unidades da Associação. Avaliações - Emerson Tardieu defendeu a necessidade de se realizarem avaliações criminológicas dos detentos, algo que vem sendo feito com sucesso em Contagem, segundo ele. Na opinião do profissional, com as avaliações (que traçam a história do preso e seu perfil psicológico) é possível diminuir, inclusive, a reincidência - em 80% no Brasil e em 70% no mundo. "A perspectiva de adoção de penas comunitárias é muito clara hoje, mas os magistrados e o Ministério Público, sem as avaliações, não têm condições de decidir sobre transferências ou duração de penas", alegou. O psicólogo defendeu a terceirização das avaliações criminológicas, afirmando que em seis meses seria possível realizar o trabalho nas cadeias do Estado, com um custo de R$ 250,00 por detento. O vice-presidente da CPI, deputado Durval Ângelo (PT), vê riscos na avaliação por clínicas privadas, afirmando que é preciso levar em conta o critério da responsabilidade administrativa na emissão dos laudos. O deputado Durval Ângelo também questionou Emerson Tardieu com relação às experiências empreendidas em Contagem. Segundo o psicólogo, após a adoção da avaliação criminológica na penitenciária de segurança máxima, o número de fugas caiu de 42, em 1994, para uma em 1997. Segundo Durval, as estatísticas positivas com relação às fugas podem ser decorrentes da coerção. "Constatamos, em visita ao local, que a penitenciária é uma panela de pressão prestes a explodir", opinou. Dos cerca de 500 presos de Contagem, 80% já passaram pela Febem ou por instituições de amparo e proteção ao menor; e vários têm personalidade antissocial. Experiência de Itaúna - A experiência bem-sucedida da Apac em Itaúna foi relatada por Josete Saldanha. É a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados que administra o Centro de Reintegração Social da cidade, cuja nova sede tem capacidade para abrigar 86 detentos - 40 em regime fechado e 46 em aberto e semi-aberto. Os 37 presos que hoje estão no local participam de atividades de laborterapia e as despesas com a manutenção do Centro são cobertas pela comunidade de Itaúna. Foi a sociedade que formou o "SOS Cidadania", após rebelião ocorrida em 95 na cadeia da cidade, e que colaborou financeiramente para a construção da nova sede. Hoje são voluntários que cuidam do local, onde não há policiais civis ou militares. O custo de um preso em Itaúna é de R$ 235,00 (sendo R$ 195,00 referentes à alimentação). A média nacional é de R$ 390,00. Polêmica - A única despesa a cargo do Estado em Itaúna - e que fica por conta da Secretaria de Segurança Pública - é a alimentação, temporariamente suspensa e retomada após interferência do deputado Francisco Ramalho (PSDB). Segundo Josete Saldanha, a alimentação foi cortada sob as alegações de falta de fiscalização e controle e de que a responsabilidade seria da Secretaria de Justiça. O secretário da Segurança Pública, Santos Moreira, teria também feito críticas ao trabalho da Apac em debate na TV educativa, afirmando que a Associação ficava apenas "com o filé" do sistema. Para o deputado João Batista de Oliveira (sem partido), o trabalho da Apac é um dos caminhos possíveis para solucionar o problema penitenciário. Polêmica - O presidente da CPI, deputado João Leite (PSDB), questionou, ainda, declaração do assessor da Apac, Valdeci Ferreira, de que lamentaria se o relatório final da CPI mostrasse apenas o óbvio. O deputado destacou o trabalho realizado pela Comissão, que realizou até agora 27 visitas e ouviu 40 pessoas e que tem procurado traçar um diagnóstico do sistema e apontar soluções para a crise. Ao final dos debates, foi aprovado requerimento do deputado Durval Ângelo solicitando visita da CPI a Itaúna. Requerimento nesse sentido tinha sido rejeitado no início da reunião, sob a alegação de falta de tempo. Revistas - Segundo o relator, deputado Ivair Nogueira (PDT), a revista na Nelson Hungria continua a ser feita duas vezes: por um PM e pelos guardas penitenciários, apesar de ofício do superintendente de Organização Penitenciária, Ediraldo Brandão, afirmando que a prática é ilegal e deve ser suspensa. Foram rejeitados, ainda, requerimentos de diversos deputados solicitando visita da CPI a cadeias e penitenciárias do Estado, além de audiências públicas com convidados. O motivo é o pouco tempo que os integrantes têm para fazer as visitas e escutar todas as pessoas envolvidas com a questão penitenciária. Compareceram à reunião os deputados João Leite (PSDB), que a presidiu, Durval Ângelo (PT), Ivair Nogueira (PDT), Baldonedo Napoleão (PSDB) e João Batista de Oliveira (sem partido).
Responsável pela informação: Fabiana Oliveira - GCS - 031-2907800