CPI ouve presidente de Conselho e Juiz de Execuções Criminais
O juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Belo Horizonte, Cássio de Souza Salomé, e o presidente em exercício do...
08/08/1997 - 02:13CPI ouve presidente de Conselho e Juiz de Execuções Criminais
O juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Belo Horizonte,
Cássio de Souza Salomé, e o presidente em exercício do Conselho
Penitenciário do Estado de Minas Gerais, Otto Nunes Leite, foram
ouvidos, nesta quinta-feira (7), pela Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) que investiga a situação do sistema penitenciário
estadual. Entre as atribuições do juiz está verificar quando o réu faz
juz à progressão de regime ou livramento condicional.
"Não entendo que o direito à progressão de pena ou livramento
seja automático porque o preso precisa atender aos quesitos objetivos
e subjetivos, mostrando que está apto a receber o benefício", ressatou
o juiz. Para Cássio Salomé, essa exigência legal, entre outros
problemas, provoca o atraso na concessão de benefícios.
Cássio Salomé relatou que a VEC conta com um juiz de direito,
três promotores, um escrivão e 18 escreventes de justiça para cuidar
de cerca de 8 mil processos. Para o juiz, a situação é delicada e a
carga de serviço é desumana. Ele defendeu a criação do cargo de
assistente de juiz, o que "aumentaria a produção em 200%". Salomé
disse, ainda, que a VEC tem um sistema de informatização (Sicon),
criado pela Prodemge, com banco de dados sobre datas de prisão,
condenações, etc. Observou, no entanto, que o sistema reclama
modernização.
Questionado pelo relator da CPI, deputado Ivair Nogueira (PDT), e
pelo deputado Durval Ângelo (PT) sobre vagas em penitenciárias, Cássio
Salomé disse que o controle das vagas é responsabilidade da
Superintendência de Organização Penitenciária, ligada à Secretaria de
Justiça. Em resposta ao presidente da CPI, deputado João Leite (PSDB),
e ao relator, Ivair Nogueira (PDT), o juiz disse que a situação de
cumprimento de penas em Belo Horizonte é séria, mas que o judiciário
não tem condições de providenciar obras ou sanar defeitos de
engenharia nem competência para determinar a criação de unidades
prisionais adequadas - que seriam tarefa do Executivo.
Torturas - Sobre denúncias de tortura, Cássio Salomé disse todas
são apuradas. A primeira providência é ouvir o preso e providenciar
exames. Caso as lesões sejam constatadas, determina-se a abertura de
inquérito policial para determinar a autoria, ou, quando a autoria é
identificada, encaminha-se o caso ao Ministério Público. "Devemos
olhar a situação com a reserva que a experiência recomenta. Recebemos
muitas denúncias e a acusação sai, normalmente, de elementos que mais
dão problema, provocam os guardas penitenciários e desafiam as normas
disciplinares", observou.
Presidente de Conselho Penitenciário rebate críticas
O presidente em exercício do Conselho Penitenciário, Otto Nunes
Leite, negou que haja favorecimento na apreciação de processos de
pedidos de indulto, livramento condicional e comutações. Segundo ele,
a demora na apreciação ocorre apenas quando os processos não são
instruídos corretamente. Ele disse, ainda, que o Conselho reúne-se
quatro vezes por mês e que os seis conselheiros titulares e um
suplente - todos de Belo Horizonte - apreciam de 8 a 12 processos por
semana, tendo sido analisados 933 casos do interior do estado e 240 da
capital entre 5 de fevereiro e 2 de julho de 1997.
Segundo Otto Leite, as condições de trabalho do Conselho são
precárias. Cada conselheiro recebe R$ 116 por mês e não há recursos
para fiscalizar penitenciárias do interior. Respondendo a
questionamento dos deputados, não defendeu a extinção do órgão, mas
concordou com a descentralização.
Relatório - Durante a reunião, o vereador Célio Moreira entregou
ao presidente da CPI o relatório "Apontando Soluções", elaborado pela
Comissão de Representação da Câmara Municipal de Belo Horizonte que
percorreu estabelecimentos penitenciários do município.
Municípios - A participação dos municípios na segurança e na
justiça, como a prestação de serviços de condenados para prefeituras,
foi defendida pelo deputado Baldonedo Napoleão (PSDB). Embora a adoção
de penas alternativas tenha sido defendida pelos convidados e
deputados, o juiz Cássio Salomé disse não concordar com a
municipalização do Judiciário. Segundo ele, o juiz municipal poderia
sofrer muitas pressões políticas.
Responsável pela informação: Fabiola Farage - GCS - 031-2907800