Com. de Direitos e Garantias discute violência em Abre Campo
A Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da Assembléia realizou, ontem (11/06), audiência pública para discuti...
12/06/1997 - 02:12Com. de Direitos e Garantias discute violência em Abre Campo
A Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da Assembléia
realizou, ontem (11/06), audiência pública para discutir a violência
contra trabalhadores rurais nos municípios de Abre Campo e Lagoa
Grande. A reunião foi solicitada pelo deputado Durval Ângelo (PT), que
narrou o episódio da morte do presidente do Sindicato Rural de Abre
Campo, Ivan Chaves, ocorrido no dia 31 de março. Segundo o deputado, a
morte do sindicalista foi anunciada e a cidade vive um clima de
terror, com várias pessoas ligadas aos sindicatos rurais e dos
servidores públicos municipais sendo ameaçadas de morte.
Durval Ângelo disse que o secretário de Segurança Pública, Santos
Moreira, determinou o afastamento do delegado daquela cidade, tido
como amigo íntimo de um dos acusados do assassinato, e enviou uma
equipe de investigação ao local. O deputado elogiou o trabalho que vem
sendo conduzido pelos policiais e disse esperar que os laudos
periciais sejam concluídos rapidamente, para que as investigações
possam prosseguir e para que o assassino seja descoberto e preso.
O deputado denunciou "a maneira como as elites dominantes do
interior do Estado resolvem seus problemas. Quando não é pela pressão,
pelo clientelismo e pelo uso da máquina política, é pela violência",
disse ele. Ainda segundo Durval, o atual prefeito e um vereador de
Abre Campo, ambos do PPB, não vieram à reunião da Assembléia "porque
também estão sofrendo ameaças do ex-prefeito da cidade".
O secretário de Estado da Segurança Pública, Santos Moreira,
justificou, em carta enviada à Comissão, a sua impossibilidade de
comparecer à reunião. Também enviou ofício esclarecendo que as medidas
necessárias para o esclarecimento do crime estão em andamento e que
tão logo saiam os resultados da perícia a investigação terá
prosseguimento.
Tensão atinge todo o Rio Doce
O diretor de Política Agrária da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), João Alves de
Calazans, que esteve com o sindicalista um dia antes de sua morte,
quando ele foi reeleito presidente do Sindicato Rural de Abre Campo,
lamentou estar presente para falar da morte de mais um trabalhador
rural. Disse que a situação de tensão é grande em toda a região do Rio
Doce, em função dos conflitos de terra. "A maneira de acabar com as
lideranças que surgem na região é cortar a cabeça", disse ele. João
Alves contou que ele próprio foi vítima dessas ameaças. Sua casa foi
baleada e seu carro perseguido, em Governador Valadares, de onde ele
foi obrigado a sair para não morrer.
Também a assessora jurídica do Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Abre Campo, Nair Cleuza de Souza, vem sofrendo ameaças
de morte. Ela disse que o clima em Abre Campo é de intensa preocupação
e de medo, o que leva as pessoas a não falar sobre o crime. Nair
Cleuza contou que toda essa tensão teve início quando os trabalhadores
municipais, apoiados por Ivan Chaves, propuseram o "impeachment" do
ex-prefeito da cidade, que passou oito meses sem pagar os salários do
funcionalismo.
Ainda segundo ela, o ex-prefeito, que seria o principal suspeito
do crime, disse, ao passar o cargo ao atual prefeito, que como homem
comum reagiria a qualquer tipo de ofensa envolvendo seu nome. Ela
disse estranhar que o delegado da cidade venha andando no mesmo carro,
publicamente, com o ex-prefeito, interpretando a atitude como mais um
ato de ameaça.
O presidente da Comissão de Direitos e Garantias da Assembléia,
deputado João Leite (PSDB), disse que é papel da Assembléia e do Poder
Público reagir a atos de violência, como o acontecido em Abre Campo, e
propôs o deslocamento da Comissão até aquela cidade, para realizar uma
audiência pública. Também participaram da reunião o deputado Ivair
Nogueira (PDT) e a representante do Sindicato dos Servidores
Municipais de Abre Campo, Madalena Aguiar.
Comissão vai discutir documentos do antigo Dops
Na reunão da Comissão de Direitos e Garantias foi aprovado
requerimento da deputada Maria José Haueisen convidando diversas
pessoas e autoridades para discutir os problemas de acesso aos
documentos constantes dos arquivos do extinto Departamento de Ordem
Política e Social (Dops). Em seguida, foi aprovado requerimento do
deputado Durval Ângelo, acrescentando à relação de convidados
representante da Secretaria de Segurança Pública responsável pela
guarda do material e representantes da UFMG, que estão participando
das discussões sobre a guarda dos documentos.
Ainda na reunião foi aprovado parecer do relator, deputado Ivair
Nogueira, favorável à aprovação, em primeiro turno, do PL 547/95, do
deputado João Leite, na forma do substitutivo nº 1, que cria o
Conselho Estadual do Idoso.
Responsável pela informação: Rodrigo Lucena - GCS - 031-2907800