Secretário a Fazenda depõe na CPI que investiga IPSEMG
Divergências de entendimento em relação aos números apresentados pelo secretário da Fazenda, João Heraldo Lima, levar...
06/06/1997 - 10:01Secretário a Fazenda depõe na CPI que investiga IPSEMG
Divergências de entendimento em relação aos números apresentados pelo secretário da Fazenda, João Heraldo Lima, levaram o deputado Gilmar Machado (PT) a requerer da Secretaria o envio de todos os documentos relativos aos repasses feitos pelo Governo ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais - IPSEMG. O secretário foi ouvido nesta quinta-feira (5/6) pelos integrantes da CPI que investiga a falta de repasse do Tesouro Estadual ao Ipsemg, nos últimos dez anos, das parcelas referentes à contribuição dos servidores e à cota do Estado e possíveis irregularidades no gerenciamento do Instituto. João Heraldo apresentou três valores para a dívida do Estado com o Instituto. Seria, até o final do ano passado, de R$ 807 milhões, segundo o Tribunal de Contas; R$ 342 milhões, segundo a Contadoria Oficial do Estado; e, R$ 525 milhões, segundo a Auditoria do Estado, valor que o Secretário considerou o melhor número. A diferença entre os valores se deve, segundo João Heraldo aos critérios aplicados para o cálculo da dívida. Ele questionou o sentido de se aplicar multa ao Estado, uma vez que os valores são recolhidos no caixa único, e que o não-repasse não provocaria prejuízos atuariais ao Instituto, que não deixou de cumprir compromissos assumidos. João Heraldo explicou que o conceito de caixa único impõe que os recursos do setor público sejam usados pelo Governo para "otimização de resultados". O Secretário informou que o Estado repassou ao Instituto R$ 203 milhões, em 1995; R$ 124 milhões, em 1996, e R$ 144 milhões, até o mês de maio passado. Em relação ao valor reconhecido pela Contadoria do Estado, a dívida caiu, segundo o Secretário, cerca de 30%. O deputado Gilmar Machado disse que o Tribunal de Contas aponta um empréstimo de R$ 87 milhões feito pelo Estado junto ao Ipsemg e lembrou que João Heraldo, em depoimento à Assembléia, em dezembro passado, disse que não havia feito empréstimo. O Secretário voltou a negar que o Estado tivesse feito o empréstimo, pois esse dinheiro estava no caixa único do Estado. "O senhor então afirma que o Tribunal mentiu?", perguntou Gilmar Machado. "O Tribunal entende uma coisa, nós entendemos outra", respondeu o Secretário. Ele acrescentou que a remuneração dos empréstimos é feita pelos mesmos índices que o Ipsemg obteria, aplicando o dinheiro no Fundo de Aplicação Financeira (FAF), que, legalmente, é onde ele pode aplicar. Gilmar Machado questionou também os valores dos repasses apresentados pelo Secretário. Disse que o Governo deixou de repassar para o Instituto R$ 112 milhões, em 1995, e R$ 239 milhões, em 1996. O saldo, de R$ 351 milhões, representa, segundo o deputado, a dívida contraída apenas no Governo Eduardo Azeredo. Pediu que o Secretário explicasse por que o governo não reconhece o endividamento anterior. João Heraldo disse que o deputado estava distorcendo números, explorando indevidamente uma coincidência de números. Machado disse que não aceitaria provocações do Secretário, que deveria se limitar a responder ou não as questões. Em resposta, o Secretário disse que sabia de suas responsabilidades e que a divergência de números se devia às diferenças entre regime financeiro e regime contábil. IPSM - Gilmar Machado questionou também a diferença de tratamento dado ao Intituto de Previdência dos Servidores Militares, para o qual o Estado contribui com dois terços, enquanto contribui para o Ipsemg com apenas um terço. João Heraldo respondeu isso ocorre em razão de lei. Ele negou que a retenção de recursos do Ipsemg pelo Estado configure crime de "apropiação indébita", mas "retenção temporária de repasses". O deputado Gilmar Machado apresentou, ao final, do depoimento do Secretário, dois requerimentos à CPI, com o objetivo de esclarecer dúvidas. Num deles, pede informações sobre o empréstimo de R$ 87 milhões, com dados sobre a reserva técnica do Instituto, e a forma de pagamento. Em outro, solicita cópia dos documentos relativos à dívida do Estado para com o Instituto, nos quais o secretário João Heraldo se baseou para fazer sua exposição. Aposentadoria - O secretário João Heraldo, respondendo a perguntas formuladas pelo deputado Carlos Pimenta (PL) disse que o problema do Ipsemg se insere no quadro de problemas do endividamento do Estado, que continua acumulando, embora em proporção menor, déficit de caixa a cada ano. Ele deu como exemplo do crescimento da dívida a evolução dos repasses ao Ipsemg, no período de 1985 a 1996. Os repasses cresceram, no período, de 31 milhões de Ufir, em 85, para 362 milhões de Ufir, em 96. Esse aumento, em torno de dez vezes, não se repete na arrecadação do Estado, disse o Secretário. Em proporção preocupante também cresce, segundo João Heraldo, a folha dos inativos. Há dez anos ela representava 20% da folha de pagamento e hoje chega a 1/3 da folha. Para João Heraldo, a questão do Ipsemg deve ser tratada juntamente com a dos inativos. "Quando dizem que o tesouro retira dos recursos do Ipsemg, é o caso de se perguntar quem socorre quem, pois o tesouro socorre os inativos", afirmou. O Secretário entende que a Previdência deveria ter a obrigação de pagar os inativos. A Constituição define essa obrigação como sendo do Tesouro Estadual. A colocação do problema, pelo Secretário, provocou uma discussão entre o presidente da CPI, deputado Miguel Martini e o deputado Gilmar Machado. Gilmar disse que a aposentadoria não é objeto da CPI do Ipsemg, mas o deputado Miguel Martini defendeu a discussão da matéria, uma vez que, segundo ele, o relatório final dos trabalhos deverá conter sugestões para a gestão da Previdência. O deputado Anderson Adauto (PMDB) disse que o importante é saber se o governo terá a mesma vontade política de resolver os problemas do Ipsemg que teve ao resolver suas dívidas junto à União. Adauto questionou a diferença de tratamento que o Ipsemg dá à dívida do Estado, que deverá ser rolada em 30 anos, e das prefeituras, às quais está sendo dado o prazo de 100 meses para pagar suas dívidas. O deputado Carlos Pimenta pediu que fosse dado tratamento idêntico aos municípios. O deputado Luiz Fernando Faria indagou se o Governo planos para o Ipsemg, tão logo seja votada a reforma da previdência. O Secretário da Fazenda disse que, no caso do Estado, o acordo poderia ocorrer em 50 ou 60 anos, desde que os valores pagos sejam compatíveis com os compromissos do Instituto. Quanto ao tratamento diferenciado aos municípios, disse que "o Ipsemg é do Estado e não dos municípios". Quanto ao futuro, o Secretário disse que o governo não tem uma receita, mas garantiu que "se olharmos só o Ipsemg sem olhar os inativos, qualquer solução dada não será duradoura". Participaram também da reunião os deputados Bilac Pinto (PFL), Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB) e Adelmo Carneiro Leão (PT). O Secretário João Heraldo estava acompanhado de vários assessores.
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