Corregedores da AL tomam novos depoimentos

O prefeito de Vespasiano, ex-deputado Carlos Murta, prestou ontem (27) depoimento à Corregedoria da Assembléia e afir...

29/05/1997 - 02:10

Corregedores da AL tomam novos depoimentos



     O prefeito de Vespasiano, ex-deputado Carlos Murta, prestou ontem

(27) depoimento  à Corregedoria da Assembléia e afirmou que, desde que

assumiu seu  mandato, em janeiro último, não foi procurado por nenhuma

pessoa que representasse firma de cosultoria ou coisa semelhante com o

intuito de  negociar execução de obras ou liberação de verbas federais

para seu  município. O  prefeito disse  também não ter conhecimento de

que seu  antecessor, mesmo  sendo seu adversário, tenha participado de

qualquer  transação   nesse  sentido   e  que   todas  as  verbas  que

beneficiaram o  municípío na  gestão anterior  à sua  foram  liberadas

"dentro dos princípios da legalidade e da moralidade". Segundo ele, as

afirmações do  deputado Raul  Lima Neto  (PPB), de que a prefeitura de

Vespasiano teria recebido verbas federais negociadas perante pagamento

de comissão a intermediários "foram uma brincadeira de mau gosto, como

outras que ele fez e eu presenciei enquanto fui deputado".

     Carlos Murta  disse ainda não conhecer a firma Sorth Consultoria,

indicada pelo  deputado  Raul  Lima  Neto  como  a  responsável  pelos

contatos com  prefeituras, prefeitos e deputados visando negociação de

verbas, nem tampouco os senhores Wanderley Marques do Carmo, Francisco

José Severo  e José Gonzaga de Souza, "a não ser publicamente, uma vez

que o  Gonzaga foi  candidato a  prefeito". "Nunca  fui procurado  por

nenhum dos três para nada", afirmou Carlos Murta.

     Já o  funcionário do  gabinete do deputado Dimas Rodrigues (PPB),

José Cláudio  Campos, negou  que tenha  sido emissário  de  recado  ao

deputado Raul  Lima Neto  sobre interesse de empresários em apoiarem a

sua campanha  no próximo  ano. Ele disse ter falado a Lima Neto apenas

que conhecia  um empresário,  Waldemar Araújo  - que  ele supõe ser do

setor de transportes coletivos - que pretende candidatar-se a deputado

federal e que teria interesse de contactar Lima Neto.

     José Cláudio  Campos disse  também aos  deputados Ermano  Batista

(PL), corregedor  da Assembléia  e  José  Militão  (PSDB),  corregeder

substituto. que  esteve no escritório da Sorth Consultoria (localizado

em Belo  Horizonte, à  avenida Carlos  Luz   nº  126)  acompanhando  a

prefeita de  Miravânia, Idalina Viana Ferreira. Segundo o funcionário,

a prefeita conheceu Wanderley Marques do Carmo na porta da Assembléia,

e ele  se  apresentou  como  representante  da  Sorth,  oferecendo  os

serviços da  empresa para  elaboração de  projetos  de  obras  para  a

prefeitura de  Miravânia. Ele esteve, com a prefeita, no escritório da

empresa, mas não presenciou a conversa dela com Wanderley, não podendo

testemunhar sobre o teor do que foi conversado.

     Logo a  seguir, os  corregedores tomaram  o depoimento  do pastor

Josimar Salum,  assessor parlamentar  do deputado  Raul Lima Neto, que

confirmou praticamente todos os pontos do depoimento dado na segunda -

feira pelo  deputado aos corregedores. Ele disse que Wanderley Marques

do Carmo  esteve no gabinete do deputado várias vezes, assim como José

Gonzaga de  Souza e  Francisco José Severo, sempre oferecendo serviços

da Sorth Consultoria para ajudar na elaboração de projetos e liberação

de verbas federais para prefeituras.

     O pastor  Salum disse  que Raul  Lima  Neto  se  interessou  pela

proposta da  empresa e  que, juntamente  com  outros  funcionários  do

gabinete, elaboraram  uma lista  de  18  municípios  de  interesse  do

deputado para  liberação de  obras e  verbas, lista esta encaminhada à

Sorth em  16 de  abril passado.  Segundo ele,  o assunto "pagamento de

comissão", no entanto, só surgiu no dia 16 de maio, quando, através de

conversa telefônica,   Wanderley Marques ter-lhe-ia  informado que 20%

do custo  de qualquer obra seriam destinados ao pagamento de comissões

aos intermediadores  - que  poderiam ser  desde consultores  da Sorth,

lobistas, deputados  estaduais e/ou federais, prefeitos dos municípios

beneficiados até funcionários federais de diversos escalões envolvidos

na liberação de verbas e obras.

     O pastor,  surpreso, informou  o deputado  Raul Lima  Neto  desse

detalhe e,  na segunda-feira,  dia 19,  a  informação  foi  confirmada

pessoalmente   ao    deputado   pelo    próprio   Wanderley   Marques,

primeiramente,   e por  Francisco José  Severo e José Gonzaga, uma vez

que eles  estiveram no  gabinete do  deputado naquela  data. O  pastor

Salum repetiu  as palavras que Gonzaga teria dito ao deputado: "esse é

o esquema  de Brasília, se não for assim não sai nada, isso é normal".

Depois disso,  segundo Salum, não tiveram continuidade os contatos com

as prefeituras,  e ele  repassou apenas à prefeitura de Chapada Gaúcha

informações sobre  as obras  passíveis de negociações para liberação e

os dcoumentos exigidos pela Sorth para providenciar os procedimentos.

     Josimar  Salum  afirmou,  no  entanto  que,  desde  1993,  quando

conheceu José  Gonzaga de  Souza, o tem na conta de pessoa honrada, já

tendo  inclusive   "orado  por   ele  e  lhe  prestado  aconselhamento

espiritual". Disse,  porém que,  às vezes,  Gonzaga incorre em algumas

inverdades, não  precisando quais  seriam elas.  O pastor   respondeu,

ainda, indagado  pelo deputado  José  Militão,  não  saber  de  nenhum

prefeito,  deputado,   consultor,  lobista   ou  funcionário  federal,

estadual ou  de qualquer  prefeitura que  tenha recebido  comissão  em

função de liberação de obras ou recursos federais a fundo perdido.


     Proprietário da Sorth fala a corregedores


     O proprietário  da Sorth  Consultoria,  George  Augusto  Siqueira

Góes, que  prestou depoimento  na noite  desta  terça-feira  (27)  aos

corregedores da  Assembléia, negou  o envolvimento  de sua  empresa no

esquema de  corrupção denunciado  pelo deputado  Raul Lima Neto (PPB).

Afirmou,  ainda,   que  não  faz  lobby  para  liberar  recursos  para

Prefeituras mineiras junto aos órgãos federais. "Desconheço o que está

se passando aqui", afirmou, referindo-se às denúncias, ressaltando que

a liberação de projetos para obras com recursos do Programa Comunidade

Solidária não  depende da  assinatura  de  deputados.  Atualmente  101

municípios mineiros,  principalmente no  Norte e Nordeste, fazem parte

do Programa.  A Sorth  - cuja  sede é  em Brasília  - tem  filiais  em

Goiânia (GO) e abriu, há 20 dias, a filial de Belo Horizonte (MG).

     O depoente, que compareceu espontaneamente à Assembléia, explicou

como a empresa de consultoria realiza o trabalho junto às Prefeituras.

Os relações-públicas  da Sorth,  Francisco  José  Severo  e  Wanderley

Marques do Carmo, procuram as Prefeituras e oferecem projetos técnicos

de engenharia, executados pelo engenheiro da empresa, Paulo Rattis - o

único com  vínculo empregatício. O pagamento desses relações-públicas,

segundo Góes,  é condicionado ao número de prefeitos que trazem para a

empresa.  Eles   recebem  comissões  de  10%  do  valor  cobrado  pela

elaboração  do  projeto.  "Todo  o  estardalhaço  foi  em  cima  desta

comissão. Ela foi interpretada como comissão paga a parlamentares. Foi

tudo uma confusão", alegou.

     Segundo George  Góes, o  trabalho da Sorth Consultoria se encerra

na finalização  do projeto  - que  é remetido  ao governo federal pela

própria Sorth.  Se  houver  problemas  na  elaboração  do  projeto,  a

Prefeitura é  comunicada e avisa a empresa de consultoria. A firma tem

o direito, por lei, de cobrar até 3% do valor do projeto. "Sabemos, no

entanto, que  muitas Prefeituras têm problemas financeiros e não podem

pagar os  valores. Por  esse motivo,  trabalhamos com  valores  fixos,

dependendo  da  complexidade  do  projeto",  alegou.  O  preço  mínimo

cobrado, atualmente, é de R$ 2 mil.

     O proprietário da Sorth Consultoria negou, ainda, a possibilidade

de superfaturamento  de obras.  "Isso é impossível, pois o Tribunal de

Contas da  União e o governo federal fornecem uma tabela de preços por

metro quadrado e, caso as Prefeituras não a sigam, suas contas não são

aprovadas", alegou.

     Indagado se  foram liberados  recursos federais  para Prefeituras

mineiras, a  partir de  projetos executados  pela Sorth,  George  Góes

citou o  caso de  Três Pontas. A firma prestou em 1996 consultoria, da

sede em Brasília, para o município. Foram liberados mais de R$ 500 mil

para  casas   populares,  mas  os  recursos  eram  orçamentários  e  o

parlamentar responsável  pela  indicação  das  obras  foi  o  deputado

Antônio Aureliano  Sanches de  Mendonça. George  Góes  negou  qualquer

"participação peculiar" do parlamentar no processo e garantiu que esse

tipo de obra é a mais fiscalizada. "A Caixa Econômica Federal monitora

tudo do início ao fim e o repasse de recursos obedece ao cronograma da

obra".

     Assistiram a  reunião os  deputados Raul  Lima Neto (PPB), Glycon

Terra Pinto  (PPB), Arnaldo  Penna (PSDB),  Marcos Helênio  (PT), José

Braga (PDT),  Antônio Júlio  (PMDB), Sebastião  Navarro Vieira  (PFL),

Francisco Ramalho  (PSDB), Gilmar  Machado (PT), Irani Barbosa (PSD) e

Álvaro Antônio (PDT).

Responsável pela informação: Cristiane Pereira - GCS - 031-2907800