Deputado isenta Alemg de envolvimento no esquema de corrupção
O deputado Raul Lima Neto (PPB) isentou ontem a Assembléia Legislativa e qualquer deputado estadual das denúncias de ...
27/05/1997 - 02:10Deputado isenta Alemg de envolvimento no esquema de corrupção
O deputado Raul Lima Neto (PPB) isentou ontem a Assembléia Legislativa e qualquer deputado estadual das denúncias de corrupção na verba de fundo perdido do Governo Federal, que seria destinada a prefeituras municipais em troca de comissão para deputados e empresas de consultoria de Minas e Brasília, conforme ele havia denunciado da tribuna, na semana passada. Ele chegou a repetir várias vezes que não tem qualquer prova contra deputados da Assembléia e disse que nada tem que desabone a conduta do deputado Dimas Rodrigues e de seu assessor José Cláudio - este, o único citado pelo deputado como quem teria encaminhado a ele os que seriam aliciadores dos deputados. "Não posso emitir opinião que desabone a conduta desses cidadãos, uma vez que não posso provar nada" e "julgo temerário fazer declaração com a consciência de que não posso provar", disse textualmente o deputado, em depoimento assinado. Ele também repetiu diversas vezes que suas denúncias diziam respeito a uma cadeia de corrupção que grassa no país, envolvendo empreiteiras, e que suas referências a parlamentares envolvidos remetiam a deputados da esfera federal. Mas também aí não citou nomes, afirmando genericamente que a corrupção via empreiteiras é de conhecimento público e que cabe ao Congresso investigar. O único deputado estadual, de que ele teria notícia de ter sido aliciado, segundo disse, se tratava dele mesmo, Raul Lima Neto, que, no entanto, se recusou a participar do esquema e fez as denúncias. Depoimento - O deputado prestou depoimento na manhã de ontem (26/05), no Plenarinho IV da Assembléia Legislativa, ao corregedor da Casa, deputado Ermano Batista (PL), e ao corregedor-adjunto, deputado José Militão (PSDB), em reunião aberta ao público, por determinação do presidente da Casa, deputado Romeu Queiroz, com transmissão ao vivo pela TV Assembléia, canal 40 do sistema de TV a cabo. Ele foi chamado a dar explicações em face de ter feito referências à participação de deputados na intermediação das verbas e à destinação de uma verba de R$ 1 milhão, dentro do esquema, para a prefeitura de Vespasiano. Em seu depoimento, Raul Lima Neto acusou o empresário José Gonzaga de Souza, candidato derrotado à Prefeitura de Belo Horizonte, nas últimas eleições, e o empresário Francisco Severo, proprietários da empresa Minas Projeto, sediada em Belo Horizonte, além do intermediário, Wanderley Marques, como prepostos da empresa Sorth Consultoria, de Brasília. Revelou que o esquema de corrupção está centrado em um fundo de reserva federal composto por empenhos de prefeituras de todo o País, cujos projetos não foram executados, acumulando quantias fabulosas de milhões de dólares. E que fora informado pelos empresários de que qualquer deputado teria acesso a esses recursos, bastando indicar as obras e as prefeituras beneficiárias. Entusiasmado com a perspectiva de canalizar recursos aos municípios de sua região, Norte de Minas, Lima Neto contatou a prefeita de Miravânia, Idalina, "dizendo que ligasse para o seu gabinete, onde o seu assessor, Josino Gouveia, teria "boas novidades para ela". Em novo contato, dias depois, a prefeita Idalina disse ao assessor do deputado, Josino Gouveia, que para ter acesso à verba, teria de deixar 20% (vinte por cento) para a empresa de consultoria e a empreiteira que executaria as obras em seu município. O esquema foi confirmado ao deputado pelo intermediário Wanderley Marques, segundo o qual, em uma verba de R$ 1 milhão de reais, R$ 100 mil ficariam para o deputado; R$ 50 mil para a Minas Projetos e R$ 50 mil para a Sorth Consultoria. O deputado disse que "sentiu-se revoltado diante do convite para participar do esquema de corrupção". Afirmou que acreditara na lisura das informações, chegando a indicar 16 prefeituras que seriam beneficiadas com projetos, como Januária, São Francisco, Francisco Dumont, Dores do Indaiá, Urucuia, Pintópolis, Chapada Gaúcha, Três Marias, Pedras de Maria da Cruz, Formoso, Buritis, Medina, Lassance, Manga, Tiros e Lontra. Raul confirmou que apenas a prefeitura de Chapada Gaúcha demonstrou interesse em se beneficiar da verba, sem conhecer o esquema, e que nem chegou a contatar os prefeitos dos 16 municípios, pois descobrira a farsa antes de qualquer contato. O depoente confirmou a verba destinada ao município de Vespasiano, com a verba de fundo perdido. Em contato com o prefeito Carlos Murta, de Vespasiano, ficou confirmado o valor de cerca de R$ 400 mil, mas destinado na gestão do prefeito anterior, e não R$ 1 milhão, como havia dito à imprensa. O corregedor substituto, José Militão, quis saber do deputado por que ele não consultou antes o prefeito de Vespasiano, deputado licenciado Carlos Murta, para se inteirar da verdade e evitar de "enxovalhar a Assembléia e 76 deputados" sobre os quais não há provas. Raul Lima Neto disse que pretendia colher mais provas, mas agiu precipitadamente "premido pela sua consciência, pela emoção que invadiu sua alma e o mal estar que lhe causou ser interpretado como um homem de esquema das empreiteiras", segundo o depoimento. O corregedor Ermano Batista chegou a perguntar a Raul Lima Neto se ele não teria sido leviano ao fazer as afirmações sem provas. Apurações - Os dois corregedores decidiram ontem mesmo ouvir os sete principais citados pelo deputado - os proprietários da Minas Consultoria, José Gonzaga e Francisco Severo, o intermediário Wanderley Marques, o assessor do deputado Dimas Rodrigues, José Cláudio, e os prefeitos de Chapada Gaúcha, Miravânia e Vespasiano. Os prefeitos foram citados para esclarecer os fatos, mas, como o assessor José Cláudio, também foram isentados por Raul Lima Neto. O corregedor Ermano Batista disse que a convocação fazia sentido para aprofundar as investigações, já que as declarações de Raul Lima Neto foram todas "genéricas, sem provas". José Gonzaga, Francisco Severo e José Claúdio seriam ouvidos ainda às 17h desta segunda-feira. Os demais, talvez às 15h desta terça-feira, dependendo de contatos. Ao final do depoimento, o deputado Durval Angelo (PT) começou coletar assinaturas dos deputados presentes para encaminhar requerimento de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para apurar os fatos. Ele disse que as denúncias são consistentes e justificam uma CPI. O deputado Irani Barbosa também pediu, durante o depoimento, que o deputado citasse nominalmente deputados envolvidos no esquema e anunciou ter pedido ao Tribunal de Contas da União auditoria em todos os contratos firmados com prefeituras de Minas, nos últimos quatro anos. Irani morou em Brasília e poderia, por isso, ser considerado envolvido, segundo afirmações do jornal ESTADO de MINAS de ontem, que atribuiu ao deputado suspeitas do envolvimento de de ex-deputados federais. Raul Lima Neto voltou a repetir que nada podia provar contra deputados e que suas críticas diziam respeito ao grande esquema de corrupção das empreiteiras, em todos o país, que seria, segundo ele, de conhecimento público.
Responsável pela informação: Eustaquio Marques - GCS - 031-2907800