Debatedores querem maior visibilidade p/a questão dos direitos
O representante do Conselho Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Marcelo Franck, disse durante a parte...
08/05/1997 - 06:10Debatedores querem maior visibilidade p/a questão dos direitos
O representante do Conselho Nacional do Movimento Nacional de
Direitos Humanos, Marcelo Franck, disse durante a parte dos debates do
Ciclo Nacional de Direitos Humanos que a grande preocupação da
entidade é dar visibilidade ao movimento. Ele fez um histórico da
formação do grupo, desde a sua criação, e lembrou que o Movimento
nunca conseguiu muita divulgação porque trabalha com entidades de
base. Destacou que nos últimos anos houve um avanço quanto à
valorização do tema direitos humanos, que os permitiu participar da
elaboração do Programa Nacional do governo.
Marcelo Franck considerou como um dos fatos mais positivos do
deste plano, elaborado após discussão com os setores da sociedade, a
possibilidade de a tortura ser classificada como crime inafiançável.
Disse, porém, que para sair do papel, é preciso que se busquem
parcerias com as diversas entidades e órgãos públicos com
responsabilidade direta em assegurar os direitos humanos.
O deputado Nilmário Miranda reforçou esta idéia, lembrando que o
programa traz "avanços inequívocos", assim como o tema direitos
humanos, que "saiu das páginas policiais para freqüentar o noticiário
político". Ele contestou, porém, "a distância entre o discurso e a
prática e o fato e a intenção". Criticou o fato de a comissão criada
para monitorar o programa não possuir representantes de entidades não-
governamentais e que, apesar de serem pessoas que historicamente estão
ligadas aos movimentos pelos direitos humanos, o fato de as pessoas
que compõem a comissão terem vínculo com o governo federal impõe
limites ao seu trabalho.
O deputado Nilmário Miranda também criticou o fato de o governo
não ter promovido as reformas nas agências governamentais, que seriam
necessárias para que o programa fosse realmente implementado. Citou
órgãos como a Polícia Federal, a Funai e o Incra para mostrar que nada
foi feito para dar encaminhamento a questões como a punição de
policiais ou pessoas que desrespeitam os direitos humanos e para
permitir uma reforma agrária, que considera um eixo fundamental para
criarem-se as condições de uma sociedade mais justa.
O deputado denunciou ainda a não-aplicação dos recursos do fundo
criado para promover reformas das penitenciárias e os parcos recursos
destinados para o setor, no Orçamento Geral da União. Criticou ainda o
não-reconhecimento pelo governo federal da Corte Interamericana, que
faz o julgamento de crimes contra os direitos humanos, e a pouca
publicidade dada pelo governo ao programa nacional, criado em maio de
1996.
Debates
Na fase de debates, foram elaboradas diversas perguntas, em
especial sobre a questão da educação e da unificação das polícias;
sobre a valorização da polícia científica e a possibilidade de
autonomia dos institutos médicos legais; e sobre a situação do sistema
penitenciário do Estado.
O deputado Roberto Amaral (PSDB) pediu a opinião dos
participantes sobre um projeto que tramita na Assembléia de Minas, que
dispõe sobre a criação de matéria curricular sobre direitos humanos. O
deputado Nilmário Miranda apoiou a iniciativa, mas alertou para que se
tome cuidado de que não seja apenas "mais uma disciplina". Propôs, uma
interrelação entre as diversas disciplinas, já que a matéria se insere
em todas as áreas do conhecimento e na prática diária das escolas.
O deputado João Batista de Oliveira criticou a situação das
penitenciárias e disse que elas se tornaram uma "pós graduação do
crime". Ele explicou que os presos que cometem pequenos crimes acabam
se misturando com criminosos de alta periculosidade. Também denunciou
a disseminação da Aids nos presídios, responsabilizando também o
governo por essa situação, que seria agravada igualmente pela mistura
dos presos.
Ainda durante a fase de debate, a representante da Pastoral de
Direitos Humanos pediu proteção a duas moças de 20 anos de idade que
denunciaram e reconheceram policiais que as teriam agredido. As duas
moças, bem como o advogado da Pastoral estariam recebendo ameaças,
mesmo após o conhecimento do fato pelo comando geral da PM.
Também se pronunciou, durante esta fase, o deputado Adelmo
Carneiro Leão (PT), lembrando que a educação é um ato político e que o
aprendizado sobre direitos humanos deveria ser feito através da
prática nas escolas entre professores, alunos, servidores e pais de
alunos, não necessariamente com a criação de uma disciplina
específica.
Responsável pela informação: Rodrigo Lucena - GCS - 031-2907800