Dutra Ladeira e transferência de presos são tema de CPI
"Não basta ser honesto, tem que parecer", justificou, nesta quarta-feira (7), o chefe do Departamento de Assuntos Pri...
08/05/1997 - 06:10Dutra Ladeira e transferência de presos são tema de CPI
"Não basta ser honesto, tem que parecer", justificou, nesta quarta-feira (7), o chefe do Departamento de Assuntos Prisionais da Secretaria de Segurança Pública, Eduardo Ângelo Campos Tavares, ao relatar a mudança de critérios de transferência de presos para a penitenciária Dutra Ladeira. Foi criada uma comissão para este fim e agora a transferência deve ter o aval de cinco delegados de polícia. Antes os critérios eram não ter registro de fuga e, segundo Tavares, "querer cumprir a pena". Ele prestou depoimento à CPI do Sistema Penitenciário. A afirmação foi dada em resposta à indagação do vice-presidente, deputado Durval Ângelo (PT), sobre os motivos da mudança dos critérios - ocorrida na terça-feira (6). Segundo depoimento prestado ao Ministério Público pelo preso Luiz Henrique Santos Batista, há oito meses no Departamento de Investigações (DI), a transferência para a Dutra Ladeira pode custar até R$ 10 mil e o preço de fugas da penitenciária pode atingir R$ 50 mil. De acordo com dossiê elaborado pelo Ministério Público, em visita à Dutra Ladeira no último Natal, promotores comprovaram a ausência de 11 presos que cumpriam pena de regime fechado - sendo nove deles por tráfico. Em resposta a Durval Ângelo, Tavares afirmou que a denúncia está sendo apurada pela Corregedoria de Polícia. Transferência - Respondendo também ao deputado sobre corrupção na penitenciária, Tavares afirmou que é impossível não haver desvios de comportamento e que eles ocorrem tanto na Polícia quanto nos demais segmentos da sociedade. Outro questionamento feito pelo deputado Durval Ângelo ao representante da Segurança Pública diz respeito à demora na transferência dos presos desta Secretaria para a de Interior e Justiça. O superintendente de Organização Penitenciária, Ediraldo Brandão, teria afirmado à imprensa que foram liberadas 258 vagas no sistema penitenciário em um único ano e que haveria "resistências" para efetuar as transferências. Tavares discordou dos números, alegando, também, que há dificuldades operacionais para transferir os presos das cadeias e delegacias para as penitenciárias. "É preciso planejar a operação e temos carência de funcionários", disse. Acrescentou que, se há "conveniência" e seleção de detentos, isso ocorre também por parte da Secretaria de Justiça. Fundo Penitenciário - O presidente da CPI, deputado João Leite (PSDB); o relator, deputado Ivair Nogueira (PDT); e o deputado Durval Ângelo questionaram Eduardo Tavares sobre os critérios para liberação de verbas do Fundo Penitenciário e sobre a atuação da Secretaria de Segurança Pública no grupo coordenador do Fundo. Segundo Durval Ângelo, não há, na relação de obras liberadas para este ano, nada que se refira à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) - onde estão 10% dos presos do Estado. Inexistem recursos também para a construção de unidade prisional em Ipatinga, foco de problemas comprovado pela CPI. Os deputados ouviram, ainda, o depoimento do advogado Dimas Henrique Soares - acusado, por familiares dos presos do distrito policial de Palmital, em Santa Luzia, de praticar extorsão para aceitar causas. Segundo os familiares, o advogado seria defensor público - o que ele negou. Mesmo assim, houve denúncias de parentes dos detentos quanto à cobrança de honorários e ao não-recebimento dos recibos de pagamento. O advogado, que negou as denúncias, também teria pressionado famílias para conseguir causas. O deputado Ivair Nogueira vai examinar requerimentos do deputado Durval Ângelo, solicitando: a convocação do diretor do Instituto de Criminalística, Ronaldo Jacques Camargos Cunha, para falar sobre sumiço de fotos que comprovam a existência da "Igrejinha", sala de torturas no Deoesp; a convocação das peritas responsáveis pelo primeiro laudo de vistoria da "Igrejinha"; a visita ao Centro de Educação de Adolescentes de Sete Lagoas e à cadeia local. Durval Ângelo também solicitou que sejam anexadas, aos documentos da CPI, fotos tiradas da "Igrejinha" pela equipe do gabinete do deputado João Leite e imagens daquele local feitas pelo Centro de Apoio Áudiovisual da Assembléia. Crítica - O deputado Ivair Nogueira criticou, ainda, declarações do delegado Raul Moreira, do Departamento de Investigações (DI). Ele disse que a atuação da CPI tem provocado rebeliões e fugas nas unidades prisionais. Ele foi apoiado pelos demais deputados. Compareceram à reunião os deputados João Leite (PSDB), que a presidiu, Durval Ângelo (PT), Ivair Nogueira (PDT), Antônio Genaro (PPB), Arnaldo Penna (PSDB), João Batista de Oliveira (sem partido) e Geraldo da Costa Pereira (PMDB).
Responsável pela informação: Fabiana Oliveira - GCS - 031-2907800