Com. debate situação do ensino profissionalizante do CEFET
Saber o que o governo federal quer do ensino técnico e profissionalizante. Essa foi a grande dúvida manifestada por p...
08/05/1997 - 06:10Com. debate situação do ensino profissionalizante do CEFET
Saber o que o governo federal quer do ensino técnico e profissionalizante. Essa foi a grande dúvida manifestada por profesores e estudantes do Centro Federal de Ensino Tecnológico (CEFET), na reunião realizada nesta quarta-feira, pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto e turismo e Lazer, presidida pelo deputado José Maria Barros (PSDB). Representantes do MEC, da Secretaria de Estado da Educação, da direção, dos professores e dos estudantes do CEFET debateram durante duas horas a Lei de Diretrizes e Bases e o decreto-lei 2.208, publicado em 18 de abril no Diário Oficial da União. O representante do MEC, professor Domingos Sávio Spezzio, disse que as mudanças no ensino profissionalizante decorrem de constatações como a de que 67% dos alunos das escolas técnicas vão para a Universidade e não para o mercado de trabalho. Na Universidade, grande parte opta por cursos das áreas de ciências humanas e biológicas e não por cursos como de Engenharia, Química, Física etc. As mudanças propostas pelo decreto deverão permitir o acesso de profissionais para "qualificação" e "requalificação". Domingos Sávio anunciou também que as disciplinas, segundo o decreto, poderão ser oferecidos em módulos que qualificariam os alunos para determinada área técnica. Ele disse também que o perfil do profissional é determinado pelo mercado de trabalho e não pelas escolas. Críticas - O presidente da Associação dos Docentes do Cefet, Élcio Queiroz Braga criticou o uso do decreto-lei, passando por cima de um projeto que vinha sendo discutido com a categoria na Câmara dos Deputados, e denunciou a reforma do ensino técnico como manobra do governo para piorar o ensino, para evitar que o egresso de curso profissionalizante possa entrar na Universidade. O deputado Gilmar Machado (PT) lembrou que o sistema de módulos leva o aluno a perder a referência de turma nas escolas e é nocivo, por isso, ao processo de socialização. A professora Jackeline Theodoro Silva, representante dos Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior, também criticou o processo, dizendo que "o indivíduo só se realiza como cidadão enquanto sujeito coletivo". Ela disse ainda que o mercado de trabalho que o governo quer atender não está admitindo profissionais, mas demitindo, e mantendo um processo de exploração de estagiários. Os representantes dos estudantes disseram que pela primeira vez estavam sendo ouvidos numa discussão sobre reforma do ensino técnico. A política de atender ao mercado foi duramente criticada por Ricardo Lima Gomes, de 16 anos, que perguntou ao representante do MEC se "para atender a um mercado que está na mão de exploradores, o papel do governo é formar explorados". As críticas da professora do Cefet, Maria Isabel Lunardi, atingiram a própria lei de diretrizes e bases. Segundo a professora, a Lei Darcy Ribeiro foi aprovada de afogadilho, enquanto que o projeto do deputado Cid Sabóia, que tramitou oito anos, e tinha um conceito de educação politécnica, abandonado na outra lei, foi arquivado. Isabel Lunardi disse que o decreto das mudanças no ensino técnico abre mão da formação de produtores de conhecimento tecnológico para colocar no mercado de trabalho mão-de-obra barata. Respondendo às críticas, Domingos Spezzio disse que o Ministério da Educação vai investir em qualificação de mão-de-obra e defendeu o caráter social da medida, que, segundo ele, será destinada aos que não podem pagar. Participaram, ainda, da reunião, os deputados José Henrique (PMDB), Carlos Pimenta (PL), Ambrósio Pinto (PTB), o coordenador da Reforma do Ensino Médio em Minas, Joaquim Antônio Gonçalves, o diretor de Ensino do 2º grau do CEFET, Geraldo Lino Soares, e os integrantes do Grêmio do Cefet, Maurício de Moura Marques Jr. e Gustavo Alves Fonseca.
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