Com. de Defesa do Consumidor discute defeitos em carros novos
A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa ouviu ontem (06/05) representantes das quatro maiores mo...
08/05/1997 - 06:10Com. de Defesa do Consumidor discute defeitos em carros novos
A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa
ouviu ontem (06/05) representantes das quatro maiores montadoras
instaladas no País (Voks, Fiat, GM e Ford), sobre a ocorrência de
defeitos de fabricação em veículos novos. Em duas horas e meia de
reunião, os executivos procuraram explicar os mecanismos que as
fábricas vêm adotando para atender a reclamação de seus clientes..
Também foram ouvidos consumidores lesados e que não conseguiram
solucionar os problemas de origem de seus automóveis.
O diretor de Relações de Mercado da Fiat Automóveis, José Eduardo
Lima Pereira, lembrou que a organização da sociedade em torno da luta
em defesa dos direitos do consumidor despertou nas indústrias maior
interesse no atendimento aos seus clientes. Segundo ele, as empresas
precisam manter a imagem institucional e dos produtos comercializados
para sobreviverem num mercado cada vez mais competitivo.
O diretor da Fiat disse que a montadora vem investindo numa série
de mecanismos preventivos, a fim de evitar o aumento do volume de
reclamações. A empresa possui uma equipe para atender às reclamações
dos seus clientes, atuando junto aos concessionários. Disse, porém,
que os defeitos de fabricação não são a regra. De acordo com os dados
levantados pela empresa e apresentados pelos diretores Eduardo Muzzi e
Nilson Bretz, também presentes à reunião, as reclamações representaram
0,05% do total de veículos produzidos (58 mil), em um ano e quatro
meses.
Legislação contribui para melhoria dos serviços
O gerente de Assuntos legais da Volkswagen, Luiz Felipe Gomes, e
o gerente de Assistência e Atendimento ao Cliente, Joacy Drummond,
endossaram as palavras do representante da Fiat, acrescentando que o
avanço da legislação brasileira que defende o consumidor, "um
paradigma internacional", tem contribuído para o desenvolvimento das
indústrias instaladas no país. Luiz Felipe disse que mesmo antes da
criação da Lei de Defesa do Consumidor a Volkswagen e outras
montadoras já promoviam "recall" e outras medidas de atendimento ao
consumidor.
Joacy Drummond lembrou que, "acima de qualquer lei existe a lei
de mercado que obriga a busca constante da satisfação do cliente". Os
representantes da Volks divulgaram pesquisa interna segundo a qual o
índice de satisfação do cliente atingiu uma média de 81 pontos
percentuais em 1996, contra 61 pontos em 1987, quando a empresa criou
este índice, como forma de balizar a sua atuação no mercado. Os
executivos disseram também que a empresa triplicou os investimentos em
treinamento e investiu R$ 20 milhões em equipamentos que aferem a
qualidade dos produtos. Ainda segundo Luiz Felipe e Joacy Drummond, a
Volks conseguiu eliminar em dois terços a procura dos clientes ao
Procon e apurou que apenas 0,01% dos veículos novos apresentam algum
tipo de defeito de fabricação.
Empresa montou centro de atendimento
O gerente jurídico da General Motors, Arlindo Cerchiari Filho,
acompanhado pelos executivos João Roberto de Barros Zampieri, Carlos
Alberto Gondin e Sidney Ramos, disse que a empresa procura solucionar
os problemas da maneira mais rápida através de equipes instaladas nos
escritórios regionais da empresa e de um centro de atendimento ao
cliente em São Caetano do Sul, onde fica a fábrica. De acordo com uma
pesquisa feita pela GM do Brasil, 72% dos clientes que tiveram algum
contato com o centro de atendimento recomprariam o veículo e 84%
recomendariam os serviços do centro de atendimento. Segundo os
executivos, a empresa investiu R$ 4,5 milhões no treinamento de
funcionários que fazem atendimento ao consumidor e que, segundo a
filosofia da montadora, "não basta apenas a satisfação do cliente, mas
que ele esteja entusiasmado pelos produtos e serviços".
Também o representante da Ford, engenheiro Ronaldo Lago Souza,
disse que a maior preocupação da montadora é com o cliente e que, para
tanto, envia permanentemente correspondências para levantar
estatísticas sobre os problemas mais freqüentes apresentados pelos
veículos. Esse números também apontam o nível de satisfação do cliente
e subsidiam as medidas corretivas, disse ele.
Promotor aponta vícios de qualidade
O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, Geraldo Faria
Martins da Costa, fez uma reflexão sobre o assunto "tendo em vista a
pessoa humana" e não as regras do mercado. Segundo ele, ainda que a
maioria dos veículos não apresentem defeitos, considerados por ele
como falhas de maior gravidade que colocam em risco a vida do
consumidor, muitos deles apresentam "vícios de qualidade", que são
pequenos problemas que causam prejuízos econômicos ao comprador.
O promotor também abordou a questão da "legítima expectativa do
consumidor"; cobrou das montadoras a adoção de políticas educacionais
nas áreas de trânsito e meio ambiente; e sugeriu que os serviços de
defesa do consumidor das montadoras ganhem status de diretoria, com
poder de decisão dentro da empresa.
Qualidade deve acompanhar aumento de produção
O coordenador do Procon municipal, Rodrigo Botelho Campos, falou,
por sua vez, da interferência dos processos de internacionalização da
economia e de estabilização da moeda como fatores de grande influência
nos problemas que geram reclamações contra as empresas no Procon. Para
ele, é preciso que as montadoras garantam o aumento de qualidade
associado ao aumento do consumo e, conseqüentemente, da produção de
veículos. Rodrigo Campos disse que o consumidor está cada vez mais
exigente e que por isso reclama mais. Dados do Procon mostram que
houve um aumento de 2,5 reclamações por mês em 1996, para 3,5
demandas/mês enos primeiros quatro meses de 1997.
A atuação do Procon é a da busca de um equilíbrio nas relações
de consumo, mas sempre na ótica de defesa do consumidor, destacou
Campos. Disse, porém, que as montadoras não vêm demonstrando na
prática interesse em dirimir conflitos com soluções administrativas,
preferindo recorrer à Justiça. Ainda segundo o coordenador do Procon
de Belo Horizonte, apesar da tônica sobre a defesa do consumidor, o
órgão não tem intuito de "promover a execração pública de qualquer
empresário".
Consumidores lesados denunciam montadoras
A Comissão de Defesa do Consumidor também abriu espaço para a
fala de consumidores que se sentem lesados após a compra de automóveis
zero quilômetro. O advogado Geraldo Magela Silva Freire, contou,
durante a reunião, que passou mais de quatro anos reclamando de
inúmeros problemas apresentados por um modelo Volkswagen que comprou
de uma concessionária de Belo Horizonte. Disse que já esperava "a fala
amena dos altos executivos das indústrias automobilísticas" e que o
tratamento na realidade não corresponde ao que foi dito. O advogado
questionou, sem obter resposta, se as montadoras já haviam devolvido
dinheiro para algum consumidor queixoso.
Também apresentou seu depoimento um proprietário de caminhão GM,
que até hoje enfrenta problemas originários da fabricação do veículo.
O deputado Antônio Andrade (PMDB) reforçou o coro dos insatisfeitos
narrando um episódio em que um engenheiro sofreu grave acidente num
veículo que apresentava problema de fabricação. Segundo o deputado, a
concessionária não conseguia resolver os problemas do veículo e não
apresentava outras alternativas. Antônio Andrade lembrou que, se para
a montadora o índice de defeitos é de 0,05% sobre o total produzido,
para a pessoa que adquiriu o veículo defeituoso esse índice é de 100%.
O deputado Ambrósio Pinto (PTB) também comentou um pequeno
defeito de fabricação de um veículo comprado por um funcionário de seu
gabinete. Segundo o deputado, as montadoras estão avançando no
atendimento ao consumidor mas, se alegam que os problemas são uma
exceção, deveriam se esforçar mais para saná-los completamente, pois
para elas pouco representaria a substituição dos veículos defeituosos.
A reunião foi presidida pelo deputado Geraldo Nascimento (PT) e
teve ainda a participação do deputado José Militão (PSDB), autor do
requerimento que a originou.
Responsável pela informação: Rodrigo lucena - GCS - 031-2907800