Com. de Defesa do Consumidor discute sanções administrativas
A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia reuniu ontem diversos especialistas para discutir o Decreto 2.181, d...
29/04/1997 - 10:00Com. de Defesa do Consumidor discute sanções administrativas
A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia reuniu ontem
diversos especialistas para discutir o Decreto 2.181, de 20 de março
de 1997, que institui o Sistema Nacional do Consumidor e regulamentou
as sanções administrativas previstas no Código de Defesa do
Consumidor. O atual decreto revoga o anterior, de número 861/93,
considerado mais complexo e de difícil aplicabilidade.
A avaliação foi feita pela diretora da Seção-MG do Instituto
Brasileiro de Política e Direito do Consumidor, vereadora Maria Lúcia
Scarpelli, para quem a morosidade na aplicação das sanções dificultava
o trabalho dos órgãos de defesa do consumidor. Segundo ela, o atual
decreto sanou as dúvidas existentes e deixou claras as sanções
administrativas que podem ser aplicadas pelo Procon, que vão desde a
multa até a interdição do estabelecimento, apreensão de mercadorias e
imposição de contrapropaganda.
Maria Lúcia Scarpelli elogiou o novo decreto por estabelecer
penalidades também para as empresas e órgãos públicos em caso de má
prestação de serviços. Ela alertou, contudo, que os Procons, ao serem
fortalecidos, devem ser mais cuidadosos no encaminhamento das ações,
promovendo uma preparação adequada de seus técnicos. A vereadora
criticou, por outro lado, o fato de o decreto não prever a advertência
antes de promover a aplicação das sanções.
Mas o diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor
(DPDC), Nelson Lins D`Albuquerque Júnior, explicou que o decreto
instituiu o "auto de constatação", que funciona como um instrumento de
advertência. Considerado um dos "pais" do novo decreto, Nelson Lins
procurou fazer um histórico de sua elaboração, que, segundo ele,
procurou acompanhar a modernidade do Código de Defesa do Consumidor.
Ministério vai publicar anualmente lista de infrações
Nelson Lins destacou a simplicidade de métodos e recursos para a
aplicação das sanções pelos municípios, que não precisariam investir
grandes somas na montagem de uma infra-estrutura mínima para atuar.
Ele ressaltou, ainda, a criação de um banco de cláusulas abusivas que
será renovado anualmente a partir das reclamações que chegam ao
Ministério da Justiça, ao qual o DPDC é vinculado. Segundo ele, a
atualização dessas cláusulas se deve em função da criatividade dos
infratores, que sempre renovam seus métodos para burlar os
consumidores.
A listagem dessas "práticas infrativas" foi também destacada pelo
diretor-geral do Procon da Bahia, Archimedes Pedreira Franco. Segundo
ele, foram expressas, no decreto, 35 situações, os meios de apurá-las
e como aplicar as sanções. O especialista lembou que pelo decreto
anterior as irregularidades só eram apuradas a partir de denúncia de
consumidores ou da lavratura de auto de infração. O documento atual
criou a possiblidade de investigação a partir de ato por escrito da
autoridade municipal, que pode fazer um levantamento preliminar
através de diligências, perícias e audiências.
Ainda segundo Archimedes Franco, outro mérito do atual decreto é
o detalhamento das punições a partir das circunstâncias atenuantes e
agravantes. Ele explicou que o novo instrumento é mais rigoroso, pois
basta a existência de uma única circunstância agravante para que a
pena seja agravada. O decreto também retirou o poder privativo de
certos órgãos, ampliando a qualquer órgão de defesa do consumidor a
atribuição de instaurar o processo e, dentro da sua esfera de atuação,
aplicar as sanções administrativas.
Promotor destaca trabalho da Comissão
Por sua vez, o promotor de Justiça de Defesa do Consumidor,
Geraldo Faria Martins da Costa, acrescentou que o decreto estabelece
as sanções administrativas, o que não desobriga o estabelecimento
infrator de responder a sanções cíveis e criminais. O promotor
destacou o tratamento dado pelo decreto à defesa do consumidor, como
sendo um "sistema". Segundo ele, este conceito condensa a idéia de
atuação conjunta dos diversos órgãos que trabalham pela melhoria das
relações de consumo.
Nesta mesma linha, Geraldo Faria Martins exaltou o trabalho da
Comissão da Assembléia. "A atuação política e legislativa compõe este
processo de busca constante da qualidade na prestação de serviços e
produtos". Ele lembrou que está tramitando na Assembléia matéria que
cria o Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, para onde devem
convergir os recursos oriundos da aplicação das penalidades contra os
infratores.
Campos alerta para entrada de empresas internacionais
O coordenador do Procon Municipal, Rodrigo Botelho Campos, voltou
sua fala para a questão da internacionalização do capitalismo. Ele
manifestou a preocupação do órgão municipal com a fiscalização sobre
os inúmeros fornecedores externos que possam entrar no país, com a
abertura gradual do mercado e com o processo de globalização da
economia. Rodrigo Campos chamou atenção para o Encontro das Américas,
que se realiza em maio, mostrando que deverá haver uma pressão
internacional para que esta abertura seja feita o mais rapidamente
possível. A tendência, segundo ele, é de que as empresas
internacionais tentem enfraquecer ou modificar o decreto para
facilitar a entrada de novos produtos.
O coordenador do Procon defendeu a criação do Conselho Municipal
de Defesa do Consumidor para formular a política municipal neste setor
e para gerir o fundo municipal, cujo projeto de criação está em
tramitação na Câmara dos vereadores. Acrescentou, ainda, que o novo
decreto fortalece os Procons, mas alertou que este fortalecimento não
deve ser utilizado como um instrumento de perseguição ao empresariado.
"É necessário que as entidades empresariais e os reclamantes passem a
sinalizar para a necessidade de estruturas equilibradas de relações de
consumo", concluiu.
Movimento busca consciência do consumidor
Ainda na reunião sobre o decreto que regulamenta o Código de
Defesa do Consumidor, a representante do Movimento das Donas de Casa,
Maria do Céu Paixão, falou do trabalho direto das donas de casa no
processo de formação da consciência do consumidor, não só quanto aos
direitos, mas também em relação a seus deveres. Ela citou o sucesso do
trabalho de divulgação da lista de profissionais autônomos idôneos e a
luta, junto aos diversos escalões do governo, para não permitir
aumentos abusivos de tarifas públicas. Por outro lado, Maria do Céu
mostrou-se preocupada pelo fato de os consumidores não exigirem a nota
fiscal, que pode ser o seu maior instrumento de defesa, no caso de
sentirem-se lesados.
Requerimento é aprovado
Ainda na reunião, foi aprovado requerimento da Comissão para que
seja feito apelo ao governador e ao secretário de Segurança Pública
para viabilizar a reivindicação feita pelo Procon Municipal quanto à
instalação, junto àquele órgão, de uma divisão da Delegacia de Ordem
Econômica. Participaram da reunião os deputados Geraldo Nascimento
(PT), presidente; Ambrósio Pinto (PTB), e José Militão (PSDB).
Responsável pela informação: Rodrigo Lucena - GCS - 031-2907800