Com.Meio Ambiente promove audiência sobre xistose no Cipó

O coordenador em Minas Gerais da Fundação Nacional da Saúde (FNS), João Carlos Pinto Dias, disse, ontem, durante audi...

10/04/1997 - 02:11

Com.Meio Ambiente promove audiência sobre xistose no Cipó



     O coordenador  em Minas  Gerais da  Fundação  Nacional  da  Saúde

(FNS), João Carlos Pinto Dias, disse, ontem, durante audiência pública

da Comissão  de Meio Ambiente da Assembléia, que, após um rastreamento

de mais  de 30  quilômetros de rios, no complexo turístico da Serra do

Cipó, não  foi encontrado sequer um caramujo hospedeiro do transmissor

da esquistossomose.  O resultado desse trabalho, feito em conjunto com

a UFMG,  indica que  na área  de maior  aglomeração de turistas não há

risco de  infecção da  doença, que,  por outro  lado, existe na região

desde a década de 40.

     A audiência  da Comissão, realizada para discutir as denúncias de

existência  de   focos  de   xistose  na  Serra  do  Cipó,  acabou  se

transformando  num   protesto  contra   a   publicação   de   matérias

jornalísticas que  afirmavam haver risco de contração da doença no rio

Cipó, cujas  cachoeiras atraem milhares de turistas todos os finais de

semana. Representantes  dos donos  das pousadas  e das  prefeituras de

Jaboticatubas e de Santana do Riacho disseram que o turismo, principal

atividade desses  municípios, perdeu cerca de 70% do movimento, após a

veiculação das denúncias.

     Segundo o  representante da  Fundação  Serra  do  Cipó,  Maurício

Cravo, as  piores conseqüências foram sociais. "Uma coisa é você falar

na queda  do fluxo  de turistas,  a outra é dizer do enorme desemprego

que ela  causou", disse. Ele questionou a quem cabe o ônus da prova de

uma acusação  como essa,  uma vez  que "a  comunidade é  quem está  se

mobilizando, enquanto o acusador continua reforçando as denúncias".

     Saneamento

     Apesar da  crítica às  reportagens, os participantes da audiência

pública reconheceram que o episódio expôs a precariedade do saneamento

básico na  região. Para  o coordenador  da FNS,  o problema da xistose

deve ser  visto não pelo lado do turista, mas do ângulo do morador das

regiões  mais   carentes  do  Estado.  Segundo  ele,  Minas  Gerais  é

recordista em  casos de  pacientes infectados,  com cerca de 800 mil a

1,5 milhão  de casos,  somente na  década passada. Disse, porém, que o

tratamento da  doença avançou muito e que os casos graves reduziram-se

quase a zero.

     Ainda  segundo  João  Carlos  Pinto  Dias  a  discussão  sobre  a

existência ou  não do  foco  de  xistose  na  Serra  do  Cipó  "chegou

atrasada", já que ele é conhecido desde a década de 40 e já havia sido

monitorado pela  Fundação, que  trabalha há mais de 15 anos na região.

Reiterou, contudo,  que o  problema ocorre  entre  os  moradores,  que

frequentam locais  mais propícios  à infecção, como as lagoas e grotas

da região, a que os turistas geralmente não têm acesso.

     Turismo é desordenado

     O representante do Ibama, Jader Pinto Ribeiro, alertou, durante a

audiência pública, para o problema da falta de ordenamento do turismo.

Segundo ele,  o órgão, que tem uma sede no local, já vem realizando um

controle há  alguns anos, num trabalho feito junto com a comunidade, a

fim de preservar o potencial do ecoturismo na Serra.

     Por sua  vez, o representante da Fundação Serra do Cipó, Maurício

Cravo, disse  que o  poder público  não exerce  qualquer ação efetiva,

desde a  criação da  Área de  Proteção Ambiental  (APA)  do  Morro  da

Pedreira. Para  ele, a  Serra do Cipó vem sendo vítima de perseguição.

Disse que  a comunidade vem se mobilizando e fazendo fossas cépticas e

lembrou que  situação do saneamento básico e do ordenamento do turismo

é a mesma, ou pior, nos demais parques do Estado.

     A representante  da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente

(Amda), Maria Dalce Ricas, também acusou o Estado pela inexistência de

uma política de proteção dos recursos hídricos. Ela também sugeriu que

a Comissão  de Meio  Ambiente da Assembléia e demais órgãos envolvidos

na discussão dos problemas da Serra do Cipó enviem uma correspondência

ao jornal  Estado de  Minas, a  fim de  solicitar o mesmo espaço usado

para divulgar  as denúncias,  para que  as autoridades possam fazer os

esclarecimentos necessários.  A sugestão foi aceita pelo presidente da

Comissão, deputado Raul Lima Neto (PPB).

     ACM contratou biólogo

     Também falaram,  durante a  reunião, o  presidente da  Associação

Cristã de  Moços (ACM), Geraldo Majella Barreto, que mantém um camping

no local,  e o  representante da  Fundação Estadual  do Meio  Ambiente

(Feam), Demerval  Alves Laranjeira.  O presidente  da ACM  entregou um

dossiê completo  sobre o  caso e  sobre a ocupação irregular na Serra,

mostrando inclusive  loteamentos clandestinos  na região. Também disse

que contratou  um biólogo  para inspecionar  a área  do Camping Véu da

Noiva, de  propriedade da Associação, onde não foi encontrado qualquer

indício do caramujo hospedeiro do vetor da doença.

     Já o  representante da  Feam disse que as condições de saneamento

da região do Cipó são de fato precárias e que o órgão está traçando as

estratégias para atuar no local. Segundo ele, a Feam não tem estrutura

para atender  pequenos estabelecimentos  e por isso está orientando os

municípios  a  fazer  o  controle  ambiental.  A  sugestão  é  que  as

prefeituras  exijam,   como  condição   para  emissão   do  alvará  de

funcionamento, um  laudo  de  especialista  aprovando  as  instalações

destinadas ao lançamento de lixo e esgoto.

     Os deputados  Raul Lima  Neto, presidente  da  Comissão,  Ronaldo

Vasconcellos (PL)  e Antônio  Roberto (PMDB)  também falaram  sobre  a

importância da  mobilização da comunidade e da realização da audiência

pública, a  fim de  alertar as autoridades públicas sobre os problemas

da esquistossomose  em todo  o Estado  e  suas  conseqüências  para  a

população. Falaram,  ainda, da  deficiência de  saneamento básico  nas

regiões mais  pobres e  da intenção de informar corretamente a opinião

pública acerca da situação do rio Cipó. Também participou da reunião o

deputado Anivaldo Coelho (PT). Os deputados deverão fazer uma visita à

Serra do  Cipó para inspecionar "in loco" os problemas ambientais e de

saneamento básico.

Responsável pela informação: Rodrigo Lucena - GCS - 031-2907800