Lei de Cultivares é criticada por especialistas na Alemg
O Projeto de Lei 1.457/96, do Governo Federal, conhecido como "Lei de Cultivares" - de proteção a variedades comercia...
22/11/1996 - 03:10Lei de Cultivares é criticada por especialistas na Alemg
O Projeto de Lei 1.457/96, do Governo Federal, conhecido como "Lei de Cultivares" - de proteção a variedades comerciais de todas as plantas, como sementes para produção de alimentos - deve ser melhor discutido pelo Congresso com a sociedade, pois é prejudicial à agricultura brasileira. Essa foi a tônica das análises feitas nesta quinta-feira por especialistas em pesquisas agrícolas e parlamentares, durante reunião da Comissão de Agropecuária e Política Rural, realizada a pedido do deputado Almir Cardoso (PT). A "Lei de Cultivares", explicou Adriano Campolina de Oliveira Soares, da Rede de Intercâmbio de Engenharia Alternativa, estabelece que as variedades de plantas terão de ser registradas (uma espécie de patente) e sua utilização dependerá de autorização por parte de seus proprietários. Isso resultará rapidamente no aumento do preço de sementes e fortalecimento do monopólio das empresas produtoras. Pressões internacionais - O relator da primeira proposta da "Lei de Cultivares", deputado federal Padre Roque (PT-PR), criticou a pressa do Governo Federal em aprovar a sua proposta no Congresso e disse que isto é resultado de pressões feitas por grupos ligados à pesquisa agropecuária e produção de sementes, principalmente multinacionais do Grupo dos Sete, que reúne os sete países mais desenvolvidos do mundo. Após apresentar substitutivo que alterava substancialmente a primeira proposta, no primeiro semestre, Padre Roque viu a proposta ser retirada de tramitação, sendo reapresentada em seguida pelo Governo Federal. Na avaliação do parlamentar federal, o Brasil precisa de uma "Lei de Cultivares", já aprovada nos demais países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai), pois significa a inserção do País no contexto de globalização de patentes na área de produção e pesquisa agrícola. O seu protesto, ressaltou, é porque a atual proposta em tramitação no Congresso atende mais aos interesses da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e de grandes produtores de sementes, principalmente multinacionais, em detrimento de empresas de produção de sementes nacionais e de pequenos e médios produtores rurais. "O Brasil vai exportar divisas e importar tecnologia", afirmou. Adriano Soares também disse que o maior impacto da "Lei de Cultivares" não será a cobrança de 3% de royalates pelas empresas produtoras de sementes, mas sim a monopolização total do setor no País. Segundo ele, existem 1.500 companhias neste setor no mundo, sendo que somente 24 delas respondem por 50% do mercado global, e, destas, oito são multinacionais. Benefício ao País é mito - David Lawrence Hathaway, da Organiação Não Governamental (ONG) Assessoria de Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA) afirmou que existe o mito de que o projeto vai beneficiar o País, o que, em sua opinião, não é verdade. Ele disse que da forma como está proposta, a legislação vai causar a eliminação de pequenas, médias e até grandes empresas de produção de sementes brasileiras, que atualmente são mais de 1.000. Da mesma forma, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Visconde do Rio Branco (MG) e integrante da Rede Sementes, que reúne 20 ONGs, José Maria Santos, disse sentir-se envergonhado "como brasileiro" devido à imposição da legislação por países industrializados. Ele afirmou que o Governo Federal não tem demonstrado sensibilidade com os pequenos rurais e a elas não restará outra alternativa, no caso da aprovação da "Lei de Cultivares", senão descumprí-la, utilizando plantar não registradas (sementes). O presidente da Comissão de Agropecuária e Política Rural, deputado Paulo Piau (PFL), se posicionou favorável a uma maior discussão do PL e disse ter ficado muito preocupado com suas implicações. Ele leu requerimento, que ainda será submetido a votação para, em seguida, ser enviado ao presidente da Câmara Federal, solicitando que a "Lei de Cultivares" não seja votada sem maior discussão com a sociedade. Já a deputada Elbe Brandão (PSDB) criticou a falta de discussão do PL com setores organizados da sociedade e disse ter ficado "apavorada" com os resultados que a "Lei de Cultivares" apontados pelos especialistas durante a reunião da Comissão. Na avaliação da deputada, não existe federalismo no País, pois um projeto de tamanha importância deveria ser debatido não só no Congresso mas também em todos os Estados. Participaram da reunião os deputados Paulo Piau (PFL) - presidente, Olinto Godinho (PL), Elbe Brandão (PSDB), Marcos Helênio (PT), Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB) e Ailton Vilela (PSDB), além de outros representantes de entidades ligadas à agricultura. O deputado Almir Cardoso não participou por estar de licença médica. Já o relator do PL na Câmara Federal, deputado Carlos Melles (PFL), não compareceu sob alegação de que o projeto seria votado nesta quinta-feira, o que impediria sua saída de Brasília. Padre Roque, no entanto, disse que o PL foi retirado de pauta na noite desta quarta-feira.
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