Para solucionar os problemas referentes à mobilidade urbana, os investimentos no transporte público são apontados como imprescindíveis
Para Ivair Nogueira, é preciso discutir alternativas para o problema, que vai além da dificuldade nos horários de pico
O presidente da BHTrans acredita que a mobilidade urbana na Capital irá melhorar com BRT e metrô
Pontualidade, superlotação e pouca oferta de horários de alguns ônibus estão entre os desafios do transporte

Transporte público de qualidade é fundamental para trânsito

Órgãos apontam maiores desafios do transporte coletivo na RMBH e indicam futuros investimentos na Capital.

Por Ana Flávia Ferreira Junqueira
08/04/2013 - 18:47

“Uma boa cidade não é aquela onde os pobres andam de carro, mas sim aquela onde até os mais ricos usam o transporte público”. A frase, do consultor em estratégias urbanas e ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, Enrique Peñalosa, ilustra a importância de se pensar em políticas públicas que tragam melhorias para o transporte coletivo.

Para solucionar os problemas referentes à mobilidade urbana, os investimentos no transporte público são apontados como imprescindíveis. Esse é um dos temas do evento Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, previsto para ser realizado no fim deste semestre pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que também está produzindo uma série de matérias sobre o assunto. As reuniões preparatórias para a organização do encontro, que se iniciaram em março, também estão sendo realizadas neste mês.

O deputado Ivair Nogueira (PMDB), presidente da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da ALMG, ressalta que essas discussões são fundamentais. “Dessa forma, estamos nos organizando para planejar políticas públicas que assegurem o direito de ir e vir do cidadão. Discutir e implantar ações que não sejam excludentes, mas que contemplem todo e qualquer cidadão que precisa e deseja viver em uma cidade melhor”.

Para o deputado, é preciso discutir alternativas para a questão da mobilidade urbana, pois os problemas do setor vão além da dificuldade de transitar nos horários de pico. “A Comissão de Transporte tem recebido diversas demandas pertinentes à questão e irá realizar audiências públicas com o objetivo de discutir e tentar avançar na melhoria da mobilidade urbana em Minas Gerais. Incluem-se aí também a implantação do rodoanel metropolitano, a duplicação da BR-381, a criação e expansão das linhas do metrô, a estadualização de rodovias federais para facilitar as intervenções e a questão do pedágio da rodovia MG-050”, destaca.

Passageiros - A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) relata que, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), há 660 linhas de ônibus, que fazem parte de sete consórcios de empresas de transporte público. Esses ônibus transportaram, em 2012, mais de 260 milhões de passageiros nos 34 municípios que compõem a RMBH.

Já de acordo com a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), diariamente são transportados mais de 1,5 milhão de passageiros pelo transporte coletivo convencional da Capital. O sistema suplementar, executado por microônibus, transporta 122 mil usuários por dia útil.

Geralda Modesta é uma dessas usuárias do transporte público na RMBH. Moradora de Santa Luzia, trabalha diariamente em Belo Horizonte. Ela é uma das que fazem coro às reclamações sobre o serviço prestado pelas empresas e  sobre o trânsito. Geralda perde aproximadamente quatro horas por dia no trânsito, entre o tempo de espera pelo ônibus e o tempo para se deslocar para o trabalho e, depois, voltar para casa. “Eles falam que o ônibus passa de 10 em 10 minutos, mas é mentira. Às vezes, demora uns 40 minutos só para ele chegar”, afirma.

Especialistas defendem transporte coletivo

Para o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Alexandre Cordeiro, incrementos no transporte coletivo são capazes de trazer melhorias para a mobilidade urbana. “O transporte coletivo de qualidade gera inclusão social e democratização do espaço. A sustentabilidade gera humanização”, disse ele, durante o Seminário Internacional de Mobilidade Urbana realizado em Belo Horizonte.

O presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, acredita que a solução para a crise da mobilidade urbana são os investimentos em transporte público. Ele ressaltou, também durante o seminário internacional, a implantação do Transporte Rápido por Ônibus (BRT) nas Avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos e na area central de Belo Horizonte e também a ampliação do metrô.

“Belo Horizonte dará importantes passos para melhorar os problemas da mobilidade urbana com os corredores contemplados com o BRT, que vai transportar 700 mil pessoas/dia, com a modernização e ampliação da linha 1 do metrô (Eldorado/Vilarinho) e com a construção de novas linhas que atendam Barreiro/Nova Suíça e Lagoinha/Savassi”, afirmou Ramon.

Carros - Enrique Peñalosa, que participou da Rio+20 no ano passado, comentou que, ao pensar sobre qualidade de vida nas grandes cidades e sobre mobilidade urbana, deve-se refletir sobre qual cidade que as pessoas desejam viver. Segundo Peñalosa, as melhorias dependem das medidas que deem menos espaço para o carro, o que passa, prioritariamente, por decisões políticas.

Órgãos apontam desafios para o transporte público

A integração física e tarifária, a pontualidade, o aumento da velocidade média e da acessibilidade ao transporte e o financiamento da infraestrutura. O fortalecimento do planejamento e da coleta de dados, a produção de informações, a integração com outros modais e com a gestão como um todo, além da superlotação de alguns ônibus e da pouca oferta de horários em alguns locais. Segundo a Secretaria de Estado Extraordinária de Gestão Metropolitana (Segem), esses são os maiores desafios do transporte coletivo na RMBH.

A BHTrans acrescenta a esses fatores o desrespeito à legislação de trânsito e a predominância da utilização do transporte individual também como dificultadores para a questão da mobilidade na Capital.

Ainda de acordo com a Segem, somente após a conclusão da Pesquisa Origem e Destino RMBH 2012 é que haverá indicadores atualizados sobre a mobilidade urbana na região e ações para o setor. Os últimos dados referentes ao assunto disponíveis são de 2001. Já foi encerrada a fase de coleta de dados dessa pesquisa. Neste momento, são feitas conferências e correções das informações do banco de dados. Depois dessa etapa, serão iniciadas as atividades de consolidação e de produção de análises técnicas.

A Segem explica ainda que a Agência RMBH, em parceria com a Setop e com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), está elaborando o Plano de Mobilidade que tem como principais diretrizes a priorização do transporte coletivo, a multimodalidade, a promoção da mobilidade sustentável e o tratamento da logística urbana.

Investimentos em BH - A BHTrans informa que a prefeitura da Capital desenvolveu o Plano de Mobilidade Urbana, que propõe a implantação de uma rede estruturante do transporte público constituída de metrô e sistema BRT, de intervenções no sistema viário para eliminar gargalos e criar alternativas de ligações perimetrais. Além disso, o plano considera a criação de uma rede de ciclovias e a melhoria das condições de caminhadas para pedestres.

Segundo a empresa, atualmente esse plano introduz o sistema BRT, com investimentos de mais de R$ 800 milhões. E também a implantação das vias 210 e 710, a ampliação do Boulevard Arrudas, a construção do novo terminal rodoviário e os projetos de expansão do metrô.

A próxima matéria da série sobre mobilidade urbana será publicada na quinta-feira (11/4).