Para o coordenador do Nucletrans, o BRT em implantação em Belo Horizonte não vai resolver a questão da mobilidade urbana na Capital
Os ônibus são normalmente o meio de transporte mais utilizado no transporte público
A extensão do metrô de Belo Horizonte é de 28,2 quilômetros

Modos de transporte coletivo disputam espaço

Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, em formatação pela ALMG, vai abordar o sistema público.

Por Ana Flávia Ferreira Junqueira
11/04/2013 - 18:25

Ônibus, monotrilho, Transporte Rápido por Ônibus (BRT), Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), metrô. São diversas as opções de transporte coletivo, apontado por especialistas como a solução para os entraves da mobilidade urbana. Segundo o advogado, professor da Fundação João Pinheiro (FJP) e autor do livro Comentários à Lei de Mobilidade Urbana - Lei nº 12.587/12 - Essencialidade, sustentabilidade, princípios e condicionantes do direito à mobilidade, Geraldo Spagno Guimarães, acontece, atualmente, no Brasil, uma grande disputa entre os diversos modais.

“Cada um defende aquele que corresponde ao seu interesse. Mas é preciso considerar que cada um é adequado a uma realidade social, econômica e topográfica”, salientou o professor, durante a quinta reunião preparatória para o evento Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, que será realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a partir deste primeiro semestre, e que vai tratar do tema do transporte público, entre outros. A Assembleia também está produzindo uma série de matérias sobre o assunto.

Especialistas apontam que os transportes urbanos brasileiros precisam de mudanças que acompanhem o crescimento populacional das cidades e as novas dinâmicas econômicas. São vários os modos de transporte público, mas qual melhor se adapta à realidade de cada município? Qual a diferença entre eles?

Para o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Alexandre Cordeiro, em cidades maiores, a opção de transporte sobre trilhos é das mais apropriadas. “É certamente a mais eficaz, porque carrega mais gente em menos tempo, ocupando menos espaço e gerando mais economia”, afirmou, durante Seminário Internacional sobre Mobilidade Urbana, realizado em Belo Horizonte.

O deputado Ivair Nogueira (PMDB), presidente da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da ALMG, ressalta que os tipos de transporte público devem se complementar para haver melhorias no trânsito. “O BRT, de que muito se tem falado, não pode ser visto como um substituto do metrô, mas um complemento para atender, de fato, toda a nossa demanda, assim como deve ser considerado o monotrilho ou a proposta do trem metropolitano”.

BH precisa de uma rede maior, aponta especialista

O coordenador do Núcleo de Transporte da Escola de Engenharia (Nucletrans) da UFMG, Ronaldo Guimarães Gouvêa, ressalta que toda cidade precisa de uma rede de transportes e que a complexidade dessa rede varia de acordo com o porte do município. “Belo Horizonte precisa de uma rede mais complexa com modos diferentes de transporte se complementando, sobretudo tendo em vista uma região metropolitana com mais de 5 milhões de habitantes. Essa rede tem que contar com modos de alta, média e baixa capacidade”, diz.

Segundo Gouvêa, o modo predominante na Capital é o ônibus a diesel, que é de média capacidade. “Em Belo Horizonte, já deveria haver um sistema de alta capacidade, um metrô subterrâneo com três ou quatro linhas. O que é chamado de metrô aqui é, na verdade, um trem metropolitano”.

Para o coordenador do Nucletrans, o BRT em implantação em Belo Horizonte não vai resolver a questão da mobilidade urbana. “Nada contra o BRT, mas ele tem sua especificidade. Não dá para resolver com ele a demanda que é para o metrô. O BRT deveria ser usado em um corredor secundário como a Avenida Pedro II”. Gouvêa diz que seria mais importante uma linha 2 do metrô, do Barreiro à Nova Suíça, e uma linha 3, que fosse da Pampulha à Savassi, o que ofereceria um sistema de transporte com capacidade compatível. Ele explica que o BRT transporta cerca de 20 mil pessoas/hora e o metrô, de 70 a 80 mil passageiros/hora.

Em relação ao monotrilho, Gouvêa salienta que ele tem um papel limitado em termos de política de mobilidade. “É apropriado para ligações que não passam em áreas urbanizadas. É mais turístico do que de alta capacidade. Atenderia, por exemplo, uma ligação entre a Cidade Administrativa e Confins”.

Técnica - O coordenador da Câmara Temática Mobilidade Urbana do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), Oswaldo Dehon, coloca que a opção pelos modos de transporte público leva em consideração questões técnicas. Segundo ele, é preciso verificar os deslocamentos urbanos e o custo-benefício e efetividade dos modos.

Dehon explica que considerar apenas a questão da capacidade de um modo de transporte coletivo é insuficiente. “Tem que levar em conta também a operação”, diz. Sobre os diversos modos, o coordenador fala que são sistemas aprovados em vários locais do mundo. “Mas é preciso ver a questão do custo. E isso tem a ver com as desapropriações necessárias para a implantação de determinado transporte e também com questões ambientais. Não se pode considerar apenas o custo do quilômetro do meio de transporte, por exemplo”, complementa.

Segundo ele, é complicado escolher qual o melhor modal para Belo Horizonte. “Antes disso, precisamos conhecer a Pesquisa de Origem e Destino que está sendo elaborada para conhecer o perfil do usuário do transporte e como ele se desloca”.

Em relação ao BRT, Dehon afirma que será preciso esperar o início das operações para que haja condições de se ponderar sobre esse modo. “O BRT, por enquanto, é uma aposta. Mas alguns técnicos falam que ele dará conta da demanda”, salienta. “A área da mobilidade é complicada, porque há muitos interesses. Mas é preciso considerar o interesse público”, finaliza.

Diferenças entre tipos de transporte coletivo

Os ônibus são eficientes em rotas de curta e média distância, sendo normalmente o meio de transporte mais utilizado no transporte público. Apesar disso, não comportam grande quantidade de passageiros. Além disso, causam mais poluição, devido à necessidade de mais veículos serem disponibilizados para o transporte eficiente de passageiros em uma rota. Para aumentar a capacidade do sistema, muitas cidades estão aderindo à construção de vias exclusivas para ônibus.

O monotrilho, por sua vez, consiste em uma ferrovia de um único trilho, em oposição às ferrovias tradicionais, que têm dois trilhos paralelos. Um dos mais antigos monotrilhos do mundo, o de Wuppertal, na Alemanha, foi construído em 1901 e ainda se encontra em funcionamento. Os monotrilhos modernos são propulsionados por energia elétrica. A principal vantagem é que necessitam de menos espaço para o transporte de passageiros. São também mais baratos quando comparados com os sistemas de metrô, mas têm menos capacidade.

Já o BRT é um modelo de transporte coletivo de média capacidade. Nasceu de uma concepção brasileira do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, que o implantou, primeiramente, na capital paranaense e também em Goiânia. São veículos articulados que trafegam em canaletas específicas ou em vias elevadas. Várias cidades do mundo adotaram o BRT como um meio de transporte público também mais barato de se construir do que o metrô.

De acordo com os estudos “Perspectivas de Alteração da Matriz Energética do Transporte Público por Ônibus” e “Avaliação Comparativa das Modalidades de Transporte Público Urbano”, disponíveis no site da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a implantação desses corredores de transporte coletivo surge como uma excelente alternativa, por diversos motivos. Um deles é o aumento da velocidade de tráfego e a otimização da frota, que propiciam uma redução importante das emissões de poluentes. Além disso, o BRT é apontado como uma alternativa também devido ao custo de implantação, prazo, retorno do capital investido, redução do impacto ambiental e retorno social.

O VLT é um transporte sobre trilhos de média capacidade, movido a eletricidade e que não tem a via totalmente segregada. Seu tamanho permite que sua estrutura de trilhos se encaixe no meio urbano existente.

BRT X VLT - Segundo informações do Portal da Copa do Governo Federal, o VLT tem custo mais alto do que o BRT e implantação mais demorada. Quando o assunto é a emissão de poluentes e o uso de energia limpa, o VLT leva vantagem porque não gera poluição. Além disso, sua capacidade em transportar passageiros é superior à do BRT.

Metrô - É um meio de transporte urbano que circula sobre trilhos. Tem como características ser um sistema de transporte urbano elétrico, independente do restante do tráfego (geralmente subterrâneo), e com tempo de espera reduzido. Atualmente, as maiores redes de metrô do mundo são as de Pequim, com 442 km de extensão, e de Xangai, com 420 km.

O metrô de Nova York conta com 418 km de extensão e, o mais antigo, o de Londres, com 408 km. Outros sistemas de grande comprimento são, por exemplo o de Tóquio (292 km), o de Seul (286 km), o de Madri (293 km) e o de Paris (212 km). No Brasil, a maior rede é a do metrô de São Paulo com 74,3 km, seguido pelo de Brasília com 42,38 km, e pelo do Rio de Janeiro com 40,9 quilômetros. A extensão do metrô de Belo Horizonte é de 28,2 km.

A próxima matéria da série sobre mobilidade urbana será publicada na segunda-feira (15/4).