Em visita, deputados constataram que a água que escorre do último dique construído pela Samarco, o S-3, não tem sinal visível de resíduo mineral
Parte de muro colonial anexo a capela de grande importância para o povoado seria alagada

Samarco quer construir dique em Bento Rodrigues

Projeto é apontado como melhor alternativa para evitar novos vazamentos de rejeitos de minério.

20/06/2016 - 19:52 - Atualizado em 21/06/2016 - 09:38

A principal aposta da mineradora Samarco para impedir um novo vazamento de suas barragens de rejeitos, em Mariana (Região Central do Estado), é a construção de um novo dique no povoado de Bento Rodrigues, subdistrito daquele município que foi destruído pelo rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015. O local foi visitado, nesta segunda-feira (20/6/16), pela Comissão Extraordinária das Barragens da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O novo dique, chamado S-4, não alagaria a área onde se erguiam as casas de Bento Rodrigues. O lago, segundo os técnicos da Samarco, poderia chegar a até 10 metros dos restos da Capela de São Bento, de 1718, edificação de maior importância histórica do povoado.

Inundaria, no entanto, parte de um muro colonial, anexo à capela, e por isso o projeto enfrenta resistências dos órgãos estaduais que garantem a preservação do patrimônio histórico.

De acordo com o gerente-geral de Engenharia da mineradora Samarco, Reuber Koury, se o projeto do dique for liberado até o início de julho, é possível construí-lo ainda antes da próxima estação chuvosa, que se inicia no final do ano. “Se isso não ocorrer, não temos uma alternativa que seja tão eficiente na contenção”, afirmou o dirigente da empresa.

Atualmente, a direção da Samarco garante que não há mais vazamentos da barragem de Santarém, aquela que fica mais abaixo no complexo da Mina Germano. Durante a visita desta segunda (21), os deputados puderam verificar que a água que escorre do último dique construído pela empresa, o S-3, é limpa, sem sinal visível de resíduo mineral. O temor dos técnicos, no entanto, é em relação ao período chuvoso, que poderia extrapolar a capacidade de contenção desse novo dique.

Para garantir que não haja problemas, a Samarco executa atualmente várias obras, em todas as barragens. Na de Fundão, que rompeu em 2015, está sendo construído um novo dique, chamado “eixo 1”, que deve ser concluído até o final de novembro. Na barragem de Germano, continuam as obras de reforço dos diques de Sela, Selinha e Tulipa, sendo que este último ainda apresenta um fator de segurança de 1,47, abaixo do ideal (1,5).

Na barragem de Santarém, mais baixa, a opção foi construir um novo dique, doze metros mais alto que o atual, que aumentará a capacidade de contenção da barragem de 2,1 milhões de metros cúbicos para 2,9 milhões de metros cúbicos. Essa obra também está prevista para ser concluída em novembro. Por fim, será feito também um “alteamento”, ou seja, uma elevação do último dique, de S-3, que foi construído após o desastre de 2015.

Esse alteamento é necessário para impedir que esse novo dique seja assoreado ainda esse ano, segundo o gerente Reuber Koury. “Se não fizermos nada, podemos ter esse lago assoreado no próximo período chuvoso”, alertou o gerente, em conversa com os deputados. Esse lago é que garante a contenção da lama, atualmente. O ideal, no entanto, segundo a própria direção da Samarco, seria a construção de um dique suplementar em Bento Rodrigues.

Rio Gualaxo - Ainda que o dique de S-3 tenha conseguido reter os rejeitos da mina, os deputados puderam verificar que a água do Rio Gualaxo, que fica abaixo das barragens, continua poluída. Segundo informações da Samarco, isso acontece porque há muito rejeito acumulado na calha do rio e em suas margens. A cada chuva, a cor da água escurece um pouco mais.

Para impedir que esse rejeito continue a escorrer para os Rios do Carmo e Doce, a empresa pretende construir diques suplementares ao longo do Rio Gualaxo. Esses projetos ainda estão sem prazo ou locais definidos.

Deputados percorreram vale do Rio Gualaxo

Além de visitarem a Mina de Germano e Bento Rodrigues, os deputados da Comissão Extraordinária das Barragens também percorreram todo o vale do Rio Gualaxo entre o distrito de Paracatu de Baixo (em Mariana) e o município de Barra Longa (Zona da Mata), onde foi realizada uma reunião com moradores.

De acordo com o relator da comissão, deputado Rogério Correia (PT), a intenção é concluir e divulgar o relatório final no dia 30 de junho, de forma que ele possa ser votado pela comissão no dia 7 de julho. Antes disso, a comissão ainda fará uma audiência pública, no dia 23 de junho, para ouvir representantes dos órgãos oficiais encarregados das investigações do desastre e do crime ambiental.

“O relatório terá análises e sugestões, inclusive de projetos de lei, que vão tratar de questões como a definição do conceito de atingidos por desastres desse tipo e da proibição de barragens a montante”, afirmou Rogério Correia.

PDV - Outra questão que preocupou os deputados é a ameaça de demissão que se impõe aos funcionários da mineradora Samarco. A empresa inicia, no dia 26 de junho, um processo de demissão voluntária (PDV). A meta é reduzir em 1,2 mil o número atual de trabalhadores, que hoje está em 3 mil. O prazo do PDV vai até julho.

A deputada Marília Campos (PT), que também participou da visita à Samarco, se disse apreensiva com a situação desses trabalhadores. “Mais de mil trabalhadores serão demitidos e isso nos preocupa porque essas pessoas, ainda que indenizadas, terão dificuldade para ser alocados no mercado de trabalho, em função da crise que vivemos”, afirmou.

Retomada - A direção da Samarco garantiu que, se a empresa for autorizada a retomar suas atividades, os trabalhadores demitidos terão prioridade na recontratação. Já há um pedido oficial da mineradora para retomar 60% da produção da mina, mudando a destinação do rejeito produzido. Esse material, segundo a empresa, passará a ser despejado na cava de Alegria Sul, que fica a noroeste da sede da empresa, na bacia do Rio Piracicaba, no lado oposto às atuais barragens de rejeito.

O deputado Thiago Cota (PMDB) defende a retomada das atividades, desde que tomados os devidos cuidados e providenciadas as necessárias reparações. “Temos que continuar fiscalizando, cobrando, mas é muito importante que a empresa tenha uma rota de saída, que ela volte a operar, porque essa é uma região mineradora. Precisamos fortalecer esse segmento que garante tantos empregos”, afirmou. Também participou da visita o presidente da comissão, deputado Agostinho Patrus Filho (PV).

Consulte o resultado da visita.