No período da tarde, o Debate Público Turismo Criativo e Oportunidades de Desenvolvimento para o Setor em Minas Gerais foi presidido pelo deputado Rômulo Viegas

Cidadão é fundamental no desenvolvimento do turismo criativo

Papel do morador local na experiência turística é considerado indispensável para o sucesso do modelo.

25/11/2013 - 18:46

O papel do cidadão na consolidação do turismo criativo foi destacado durante o Debate Público Turismo Criativo e Oportunidades de Desenvolvimento para o Setor em Minas Gerais, realizado pela Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (25/11/13).

Esse ponto foi destacado pela professora associada do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG, Ana Flávia Machado. Ela afirmou que, antes de se pensar no turismo, é preciso que a população esteja confortável com o território e com as atividades nele desenvolvidas. “Só receberá bem quem se sentir bem naquela casa”, ponderou. Para isso, ela ressaltou, como ponto fundamental, a integração entre a produção local e o planejamento do poder público.

A necessidade de garantir ao cidadão do local condições que permitam a ele atender ao turismo de forma adequada também foi levantada pela analista técnica do Sebrae, Mônica Alencar. “A hospitalidade é fundamental. Se o lugar não é bom para o cidadão, ele jamais será bom para o visitante”, completou.

O debate foi presidido, no período da tarde, pelo deputado Rômulo Viegas (PSDB). O requerimento para sua realização é de autoria do deputado Gustavo Perrella (SDD), presidente da Comissão de Turismo.

Secretário de Porto Alegre apresenta experiência da cidade

O secretário municipal de Turismo de Porto Alegre, Luís Fernando Moraes, mostrou o modelo de turismo criativo trabalhado naquele município. De acordo com ele, o turismo criativo não é fazer criatividade dentro do turismo, mas sim oferecer ao visitante a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo, por meio da participação ativa em cursos e experiências de aprendizado baseados nas características locais.

“O turismo contemplativo é o oposto do turismo criativo. Neste último o turista passa a ser o protagonista do processo. Além disso, é característica fundamental do turismo criativo a interação com a população local. É insubstituível o choque cultural; o turista ter contato com o residente é uma vivência única”, ressaltou.

Luiz Felipe Moraes ainda destacou que Paris é a principal cidade no mundo a desenvolver o turismo criativo. Segundo ele, na capital francesa, existem mais de 400 cursos oferecidos para turistas, que permitem experimentar aspectos da cultura local.

Já em Porto Alegre, são ofertadas oficinas ligadas à cultura gaúcha, como de danças folclóricas e de produção de charque, além de oficinas ligadas à cultura de uma forma mais ampla, como de grafite e de pintura acrílica com o artista Brito Velho.

Poder público – o papel do poder público no fomento do turismo criativo foi destacado pelo diretor de Desenvolvimento e Monitoramento do Ministério da Cultura, Luís Antônio Gouveia. Para ele, cabe aos entes políticos adequar os marcos legais às particularidades do turismo criativo.

“Temos que ter uma política de exceção cultural como existe na França. Temos que tratar os desiguais com desigualdade”, destacou, ao ser questionado sobre como conciliar tradições como o fogão a lenha e a colher de pau com as exigências da vigilância sanitária.

Além do trabalho a ser realizado em relação à legislação brasileira, Luís Antônio afirmou que cabe ao poder público criar e distribuir informações sobre a economia criativa; fomentar e prestar assistência aos empreendedores criativos; e assessorar esses empreendedores para se organizarem em associações ou cooperativas.

O mesmo posicionamento foi adotado pela secretária adjunta de Estado de Turismo, Silvana Melo do Nascimento. “Cabe ao governo fomentar o desenvolvimento dos empreendedores voltados para o turismo criativo”, destacou.

Estudo mapeou cidades com tendência ao turismo criativo

A professora da UFMG Ana Flávia Machado apresentou estudo que tentou registrar a formação de clusters (conjunto de empreendimentos que possuem características semelhantes e que estão localizadas em um mesmo território) ligados à economia criativa e, com isso, podem desenvolver o turismo criativo de forma mais fácil.

Nesse estudo, foram identificadas cidades com três tipos de perfil distintos – cidades eminentemente criativas (grandes centros urbanos cosmopolitas); cidades criativas no sentido de interação e geração de produção intelectual (grandes cidades e cidades universitárias); e cidades com maior participação de trabalhadores na área artística e com gasto per capita com cultura mais alto.

“Esse último grupo, para mim, é a menina dos olhos. Em Minas Gerais temos duas cidades: Cataguases e Itambé do Mato Dentro. Mapear essas cidades permite o planejamento e a inclusão da população no processo de desenvolvimento do turismo criativo”, destacou.

Minas Criativa - O debate público também contou com a apresentação do projeto Minas Criativa, da Secretaria de Estado de Turismo. A gerente do projeto, Marina Pacheco Simião, explicou que um os objetivos é proporcionar inclusão social por meio da economia criativa. Marina enfatizou também que o projeto visa a fortalecer a identidade de Minas, contribuir para a geração de oportunidades de desenvolvimento por meio do turismo criativo, aumentar o fluxo de turistas e a geração de emprego e renda.

Nesse sentido, ela afirmou que foram escolhidos dois setores que se destacam no Estado para serem explorados dentro do conceito do turismo criativo: moda e gastronomia. Este último já está sendo trabalhado desde o fim de 2012. “Minas Gerais é o terceiro destino mais procurado na internet, e a gastronomia mineira é o tema mais buscado no Estado”, afirmou.

Por fim, a gestora enfatizou que a falta de informações sobre o assunto é uma grande dificuldade para que o tema seja discutido mais a fundo e os desafios possam ser superados. Na tentativa de resolver esse problema, Marina Pacheco sugeriu que as universidades invistam em pesquisa, incentivando tanto os professores quanto os alunos a buscarem soluções.