A exemplo de outros encontros do ciclo, participantes defendem educação para diminuir a violência no trânsito

Especialistas voltam a defender a educação para o trânsito

Investimentos nessa área foram reivindicados durante ciclo de debates em Juiz de Fora.

25/06/2012 - 17:56

A importância da educação para o trânsito foi o ponto de consenso entre os especialistas que participaram da Mesa Redonda: Por uma Maior Segurança no Trânsito, que integrou a programação da etapa regional da Zona da Mata do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, realizada na tarde desta segunda-feira (25/6/12) em Juiz de Fora. O ciclo de debates é uma realização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em parceria com outras 50 entidades. No encontro, Iniciativas de órgãos e entidades que têm relação com o trânsito também foram apresentadas.

Para exemplificar o efeito da educação para o trânsito, o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), Chan Kou Wha, lembrou que o número de óbitos é sempre crescente nas estatísticas de acidentes, mas diminuiu no final da década de 1990, com a implantação e divulgação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), voltando a crescer depois. “O código prevê a educação para o trânsito em todos os níveis escolares. Isso não foi feito e estamos colhendo os frutos”, aponta. Ele citou os cursos na área oferecidos no Cefet e afirmou que o assunto deve ser discutido também em outros ambientes para que o cidadão internalize os conceitos. “Temos alunos que usam cinto porque conhecem as leis da física”, exemplifica.

Ana Beatriz Santos Machado Chaves, assessora técnica setorial da Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito de Juiz de Fora, salientou que há uma desconexão entre o CTB e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, inclusive nas nomenclaturas. Assim, a educação para o trânsito fica por conta de cada escola e é tratada esporadicamente. Ela ressaltou a importância da mídia como protagonista nesse processo de educação e citou ações da prefeitura nas escolas, através do projeto Território Escolar Seguro no Trânsito (Test), e também nos centros de convivência de idosos na cidade.

Usando como exemplo os acidentes com o cantor Pedro Leonardo e com a cantora Martinália, o último ocorrido nesse no domingo (24), na BR-040, a gerente de Educação para o Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), Rosely Fantoni, criticou a baixa exigência do País quanto a itens de segurança nos carros. “Os jovens também querem carros com som e não com air-bags”, sintetizou. A falta de educação para o trânsito, segundo ela, força o DER, por exemplo, a instalar radares e redutores de velocidade quando as estradas são reformadas. Entre os problemas detectados pela fiscalização em Juiz de Fora, ela citou o desrespeito à faixa de pedestres, o álcool, o celular e até mesmo o não uso do cinto pelos passageiros no banco traseiro dos carros. Na fase de debates, Roseli criticou a impunidade dos crimes de trânsito no Brasil.

Mobilidade deve ter como referência a pessoa com deficiência

Ao abordar a mobilidade urbana, a presidente da Somar Brasil – Associação de Atenção a Pessoa com Deficiência –, Thaís Altomar, defendeu que essas pessoas, além dos idosos, sejam usados como referência nas intervenções no tráfego e trânsito. A Somar Brasil, segundo ela, participa de campanhas e faz o corpo a corpo com deficientes e não deficientes. “Mesmo com tantas leis para proteger a pessoa com deficiência, elas não são cumpridas”, criticou. Thaís enfatiza a educação, mas também prega uma punição para os responsáveis por acidentes. “Eles deveriam ficar nos hospitais, acompanhando as vítimas de acidentes”, sugere.

O subsecretário de Mobilidade Urbana de Juiz de Fora, Carlos Eduardo Meurer, afirmou que houve avanços nessa área, mas que os desafios permanecem. Hoje, segundo ele, 60% da frota de coletivos da cidade está adaptada para deficientes, assim como dez táxis. O subsecretário enfatiza, porém, que o planejamento urbano, que deve buscar a redução do número e do tempo dos deslocamentos para reduzir acidentes, não é prioridade nas cidades brasileiras. Ele cita estudo feito em São Paulo, que aponta a velocidade, o álcool e as ultrapassagens como responsáveis pela metade dos acidentes. “Temos priorizado ações nessas áreas”, aponta. Carlos cobrou ainda recursos do Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito, originados de multas, que, segundo ele, nunca chegaram a Juiz de Fora.

A atuação dos Serviços Social e Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest-Senat) em Juiz de Fora foi apresentada pela coordenadora de Desenvolvimento Profissional da instituição, Gisele de Castro Franco. Voltadas para os trabalhadores da área de transporte, as ações incluem capacitação, qualificação e blitz educativa, entre outras. Segundo ela, há também atendimentos psicológicos, sobretudo para cuidar da dependência química e do estresse. “Profissionais que ficam no trânsito estão susceptíveis a isso”, realça. O Sest-Senat desenvolve ainda projetos para estudantes e para a terceira idade.

Siga Vivo – Entre os principais objetivos do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito estão: difundir a realidade da violência no trânsito; apresentar o impacto desses acidentes; debater as causas e possíveis soluções para o problema; articular agentes públicos; e sensibilizar a sociedade, por meio da educação e da mobilização, para um comportamento mais seguro no trânsito. O evento ainda será levado a Ibiá (Alto Paranaíba) e Divinópolis (Centro-Oeste) antes da etapa de Belo Horizonte, no Plenário da Assembleia, nos dias 5 e 6 de julho.

O evento é fruto da parceria da ALMG com mais de 50 entidades envolvidas com a questão do trânsito e conta com cinco comissões permanentes engajadas na sua realização: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.