Wilson Batista ressaltou que o Brasil tem um dos piores indicadores de acidentes, com 35 mil a 50 mil mortes por ano

Brasil precisa conter acidentes com idosos

Maiores de 60 anos despontam nas estatísticas de trânsito, destaca especialista no Siga Vivo, em Juiz de Fora.

25/06/2012 - 16:00

O Brasil precisa de ações específicas para reduzir os acidentes de trânsito com motociclistas e com idosos. O alerta é do diretor-geral do Hospital de Pronto Socorro de Juiz de Fora, Clorivaldo Rocha Corrêa. Ele participou, nesta segunda-feira (25/6/12), do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, realizado nessa cidade da Zona da Mata pela Assembleia Legislativa de Minas, em parceria com mais de 50 entidades. Segundo o médico, dos 666 óbitos apurados no Estado no primeiro trimestre de 2012, em função de acidentes de trânsito, 149 (22%) são de maiores de 60 anos. “Esse é um novo foco. Essa população está desguarnecida”, enfatiza.

Clorivaldo lembra que a literatura sempre chamou atenção para os acidentes com jovens e, sobretudo, do sexo masculino. Essa prevalência permanece, mas o quadro geral torna necessárias, segundo ele, novas ações voltadas para idosos e também para os motociclistas. Entre janeiro e junho deste ano, o HPS atendeu 836 motoqueiros, contra 351 no mesmo período de 2008. “Os que morreram no local do acidente não entram nessa estatística”, realça o diretor. Os leitos do hospital, segundo ele, ficam ocupados por vítimas de acidentes que poderiam ser evitados com mais investimentos em prevenção.

O evento foi coordenado pelo deputado Doutor Wilson Batista (PSD), que enfatizou o empenho da ALMG para debater temas que representam desafios sociais, como a dívida dos Estados com a União, a necessidade de mais recursos para a saúde e, agora, a violência no trânsito, todos eles tratados em Juiz de Fora. O parlamentar ressaltou que o Brasil tem um dos piores indicadores de acidentes, com 35 mil a 50 mil mortes por ano. Doutor Wilson também preside a Comissão de Defesa do dos Direitos da Pessoa com Deficiência e lembrou que metade dos 2,5 milhões de deficientes em Minas Gerais foram vítimas de trânsito. “Dos R$ 72 bilhões gastos pelo SUS a cada ano, R$ 30 bilhões são para vítimas do trânsito”, completou.

O parlamentar leu mensagem do presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), enfatizando a necessidade de mudanças culturais, além de melhorias de infraestrutura e na legislação, para conter os acidentes, que matam 1,3 milhão de pessoas no mundo, a cada ano.

Dados da região são apresentados por policiais

Durante o ciclo de debates, as autoridades policiais de Juiz de Fora apresentaram os dados sobre acidentes na região. O inspetor Junie Penna, chefe substituto da delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), citou o aumento de acidentes e de mortes na BR-267, em 2012, quando a rodovia recebeu o tráfego da BR-116, interditada para veículos pesados. Por outro lado, segundo ele, as ações da PRF e o acréscimo de soluções de engenharia levaram à redução de acidentes na BR-040. Foram 684 acidentes, com 34 mortes, entre janeiro e abril de 2012, contra 718 acidentes e 42 mortes no mesmo período de 2011.

O comandante da 4ª Cia. Independente de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar, major Renato Preste, também apresentou dados que indicam redução de acidentes no conjunto dos 86 municípios atendidos na região. No caso dos óbitos, caíram de 32, no primeiro semestre de 2011, para 22, em 2012. Segundo ele, isso se deve à parceria entre os órgãos, com investimentos em locais críticos, além de ações na educação. Ubá e Visconde do Rio Branco têm os maiores números de acidentes na região. Outro dado relevante apresentado por Preste é o aumento de 20% no número de armas de fogo apreendidas pela PM nas fiscalizações de trânsito. Já são 48, até agora, em 2012.

No caso do Corpo de Bombeiros, a área de atuação compreende 145 municípios, com 2,4 milhões de habitantes. O major Cláudio Guimarães enfatiza o crescimento de 28% no número de atendimentos a motociclistas em 2012, em relação a 2011. “Das 11.981 ocorrências atendidas entre janeiro e abril deste ano, 47% foram de acidentes de trânsito”, destaca. Doutor Wilson Batista ressaltou que o Brasil precisa de leis mais rígidas para que haja redução no número de acidentes, como vem ocorrendo em outros países.

Frota
– O secretário municipal de Transportes e Trânsito de Juiz de Fora, Márcio Gomes Bastos, salientou o crescimento da frota na cidade, de 8% a 10% ao ano, nos últimos três anos, enquanto a população cresce ao ritmo de 1% a 1,5%. Ele também apresentou dados de acidentes na cidade, inclusive entre idosos, e os investimentos nos principais corredores de tráfego. A Avenida Rio Branco, por exemplo, foi remodelada com foco na segurança, segundo o secretário. Ali foram registrados 756 batidas e atropelamentos em 2011. A cidade de 520 mil habitantes tem 78 agentes de trânsito.

Na fase de debates, moradores fizeram intervenções e sugestões sobre problemas específicos da cidade e ainda sobre temas gerais, como a propaganda das chamadas drogas lícitas, como o álcool, que também repercutem nos acidentes de trânsito. Suely Fátima de Abreu e Manoel Emídio de Lima questionaram a localização de faixas de pedestres e o tempo do sinal, que impede a travessia de idosos. Eles são pais de André, atropelado e morto aos 14 anos, numa faixa de pedestre da Avenida Rio Branco, em 2011. Os debates sobre o trânsito prosseguirão à tarde. Na mesa estava ainda a presidente da Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito, Cláudia Ferreira.

Juiz de Fora é a sexta cidade a receber o Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito. Ibiá (Alto Paranaíba) e Divinópolis (Centro-Oeste) serão as próximas cidades do interior a discutir o tema, antes da etapa de Belo Horizonte, no Plenário da Assembleia, nos dias 5 e 6 de julho. Entre os objetivos principais do evento estão: difundir a realidade da violência no trânsito; apresentar o impacto desses acidentes; debater as causas e possíveis soluções para o problema; articular agentes públicos; e sensibilizar a sociedade, por meio da educação e da mobilização, para um comportamento mais seguro no trânsito.

O evento é fruto da parceria da ALMG com mais de 50 entidades envolvidas com a questão do trânsito e conta com cinco comissões permanentes engajadas na sua realização: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.