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Memória e Poder

Jornalismo: Paulo Markun

29/04/2017

Em 45 anos de jornalismo, Paulo Markun nunca permaneceu mais que dois anos em um mesmo veículo de comunicação. Ao longo da carreira, acumulou passagens rápidas por dezenas de redações, entre elas: O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, TV Globo, TV Bandeirantes. Contudo, à frente do programa Roda Vida, da TV Cultura, ele ficou uma década. "E já faz 10 anos que saí e as pessoas ainda se lembram dessa minha passagem. Alguma marca eu devo ter deixado", diz Markun. Entre 1998 e 2007, ele mediou mais de 300 entrevistas do Roda Viva. Nesse tempo, passaram pelo programa os ex-presidentes José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva; figuras polêmicas da política nacional como Antônio Carlos Magalhães, Roberto Jefferson e Paulo Maluf; convidados internacionais do porte de Hugo Chávez, Evo Morales e Gay Talese; além de artistas como Gilberto Gil, Elza Soares e Zubin Mehta. Um dos momentos mais marcantes, recorda Markun, foi a discussão com o ex-general do regime militar Newton Cruz. "Ele achou que os entrevistados o estavam pressionando muito, recusou-se a responder as perguntas e ficou alterado. Certa hora tive que intervir e dizer a ele que a cadeira do Roda Viva era mais confortável do que aquela em que eu havia me sentado no DOI-CODI, quando fui torturado pela ditadura militar", conta Markun. Jornalista profissional desde 1971, a carreira de Markun começou antes de cursar a Faculdade de Comunicação e Artes, na Universidade de São Paulo (USP). As primeiras pautas foram para um jornal do movimento estudantil secundarista, na década de 1960. "Foi quando me despertei para a política". Depois, editou jornais e panfletos para o Partido Comunista Brasileiro, ao qual foi filiado até 1975, quando foi preso pelos militares. "Houve uma caça aos comunistas da TV Cultura na época. Fomos presos eu, o Vladimir Herzog e mais um colega. No meu caso, a prisão envolveu a condição de torturarem a minha esposa na cela ao lado, para que eu ouvisse os gritos. É uma situação que eu suspeito que poucas pessoas conseguem superar". No programa, Markun ainda fala do processo de redemocratização do país; faz uma avaliação dos governos de FHC e Lula, foco do livro de sua autoria "O Sapo e o Príncipe"; e conta as dificuldades que enfrentou como gestor e jornalista de TVs públicas em São Paulo e Brasília. Aos 64 anos e longe das redações, ele hoje se dedica à produção independente. Já dirigiu mais de 60 documentários e é autor de dezenas de livros-reportagens e biografias.