A leitura é uma das opções que pode ajudar a distrair, acalmar e enfrentar o isolamento social - Arquivo ALMG

Especialista alerta sobre cuidados com a saúde mental

Tecnologias virtuais, leitura e meditação podem amenizar solidão e angústia provocadas por crise do coronavírus.

27/03/2020 - 11:03

Angústia, medo, ansiedade, irritabilidade e solidão. Estes são apenas alguns dos sentimentos que a pandemia do coronavírus tem despertado nas pessoas. Diante dessa crise de proporções mundiais, é preciso se manter vigilante e procurar alternativas para minimizar esses sintomas que, dependendo da intensidade com que se manifestam, podem afetar a saúde mental

A necessidade e o tipo de ajuda a se buscar precisam ser avaliados de forma individual, já que cada pessoa é impactada de uma maneira. O alerta é da coordenadora do Núcleo Psicossocial (NUP) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Danielle Teixeira Tavares Monteiro, que é assistente social e doutoranda em psicologia. A ajuda pode vir de uma pessoa próxima, num primeiro momento, ou de um profissional de saúde, se a situação se agravar.

Nesse período de crise e de isolamento social, ela defende que é importante tentar manter a rotina, na medida do possível, com horários para alimentação e sono definidos, uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos, mesmo que de forma leve.

A boa conversa com os amigos – desde que virtual e para falar de assuntos que não sejam apenas relacionados à crise – também continua sendo uma “dica de ouro” na avaliação de Danielle. 

Ela pondera, ainda, que a solidão imposta pelo isolamento não é de todo ruim: “Está nos obrigando a conviver mais com nós mesmos e com as nossas famílias. O confinamento é uma oportunidade para ampliarmos essas relações, o diálogo e o apoio de forma geral”.

Redes sociais ajudam a enfrentar confinamento

Para amenizar os impactos do isolamento social, medida primordial para conter a propagação do vírus e que exige sacrifício por parte da população, Danielle Monteiro afirma não haver uma regra geral ou uma “receita de bolo”, já que as pessoas são diferentes. Nesse caso, o melhor a fazer é conhecer as possibilidades e descobrir o que funciona melhor para cada um

As redes sociais têm oferecido alternativas criativas e solidárias para enfrentar o confinamento, na avaliação da coordenadora do NUP. Ela destaca que, no Instagram, por exemplo, profissionais de diversas áreas têm disponibilizado serviços gratuitos, como yoga, dança, meditação e contação de história para crianças. “Psicólogos, psicanalistas e nutricionistas também têm realizado atendimentos on-line. Além disso, museus liberaram visitação virtual e universidades estão oferecendo cursos gratuitos”, acrescenta. 

A tecnologia se apresenta como uma aliada na medida em que ajuda a superar o tédio do isolamento e diminui a distância física, aproximando entes queridos que foram obrigados a se separar para evitar o contágio da Covid-19. No entanto, a profissional de saúde alerta para os efeitos negativos do excesso do uso da tecnologia, mesmo sem o confinamento, que pode levar ao chamado tecnoestresse.  

Segundo ela, conversas de vídeo devem ser estimuladas nesse momento, mas o uso do celular à noite, por exemplo, é contraindicado, pois o consumo de informação gera excitação cerebral, podendo atrapalhar o sono. 

Dessa forma, no fim do dia, o melhor é optar por atividades que acalmem, recomenda a coordenadora do NUP. “Leitura, música, meditação. O importante é buscar aquilo que funciona melhor para cada um”, defende. E atenção: tentar encaixar um hábito que não se gosta na rotina, neste momento, pode ter efeito negativo. “Tem pessoas que não gostam de ler, por exemplo, e se sentem obrigadas porque um amigo lê muito. Isso pode gerar mais ansiedade”, alerta.

Ela explica que, nesse período de isolamento, descobrir novos hábitos e gostos é importante, desde que eles não sejam impostos. “As pessoas são diferentes e é importante respeitar as escolhas individuais de amigos e parentes. Imposição é diferente de descoberta”, destaca.

Como apoiar quem está frágil

Para ajudar, no curto prazo, os mais sensíveis e afetados pelas consequências da crise do coronavírus, Danielle Monteiro sugere ouvir e falar sobre as angústias, sem perder o foco nas diferenças que permeiam a realidade de cada um.

“Um bom ouvinte não é aquele que busca uma resposta do tipo: ‘Isso vai passar’ ou ‘Não fique assim’, mas uma pessoa que acolhe e se solidariza com o sofrimento do outro”, explica. Também é importante identificar se a pessoa precisa de uma avaliação especializada e, nesse caso, encaminhar para o profissional adequado. 

Crianças e idosos - É preciso, ainda, tratar do coronavírus e de suas consequências de forma apropriada com os idosos . Ela defende que a maneira mais eficaz de sensibilizá-los é explicar sobre os riscos com clareza e objetividade, e falar da importância que eles têm para suas famílias, sem gerar alarme maior do que o necessário.

Danielle Monteiro também defende um diálogo aberto com as crianças, para engajá-las na prevenção à doença, e tranquilizá-las de que esta situação não vai durar para sempre. “A validação dos sentimentos é fundamental para que elas percebam que o adulto sabe o que estão sentindo e que elas não estão sozinhas nesse processo”, acrescenta. 

Serviços - Confira, neste vídeo, dicas para abordar a crise do coronavírus com as crianças. Neste outro vídeo, há orientações sobre como lidar com o isolamento social. Em Belo Horizonte, o SOS Apoio Emocional, formado por ONGs que já ofereciam o serviço de escuta profissional, disponibilizou uma linha telefônica aberta (31-98399-4602) para atender emergências ou casos graves de pessoas angustiadas com as consequências impostas pela Covid-19.