Impactos na saúde física e mental dos moradores de Brumadinho serão avaliados durante 20 anos - Arquivo ALMG

Estudo vai monitorar efeitos de tragédia em Brumadinho

Garantia de recursos para pesquisa é tópico do fórum que vai propor um Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.

12/03/2020 - 14:30

Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, será objeto do primeiro estudo de longo prazo realizado no Brasil com foco em populações afetadas por desastres causados por mineradoras. O acompanhamento, que tem previsão de durar 20 anos, vai medir os efeitos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão sobre a saúde física e mental e o comportamento dos moradores.

A relevância de pesquisas como essa, que trazem novos parâmetros para a gestão de serviços públicos, e a necessidade de se garantir investimentos na área integram as discussões do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência: por um desenvolvimento inclusivo e sustentável. O evento vai recolher sugestões em todo o Estado para o Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento da presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, deputada Beatriz Cerqueira (PT), o fórum terá, nos próximos dias, os encontros regionais das regiões Norte e Nordeste, em Montes Claros; Jequitinhonha e Mucuri, em Araçuaí; e Vales do Aço e do Rio Doce, em Ipatinga.

Inscrições – As inscrições on-line para todas as audiências no interior já estão abertas no Portal da Assembleia. Elas se encerram às vésperas de cada um dos encontros, mas os interessados também podem se inscrever presencialmente, no dia e local de cada evento.

Em Montes Claros, o encontro será na segunda-feira (16/3/20), no Auditório do Prédio 6 (Centro de Ciências Biológicas) da Unimontes, no Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro (Avenida Rui Braga, s/n, Vila Mauricéia). As inscrições on-line ficarão abertas até as 15 horas desta sexta-feira (13).

Na sexta-feira (20), o fórum chega a Araçuaí. As discussões serão realizadas no Auditório do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (BR 367, km 278, s/n, Zona Rural). Participantes podem se inscrever no Portal da Assembleia até as 15 horas do dia 18/3.

Já a etapa regional de Ipatinga será no dia 23/3, com inscrições on-line até 15 horas do dia 20. O encontro será realizado no Auditório "D" do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (Rua Maria Silva, 125, Veneza).

As reuniões duram todo o dia e envolvem o trabalho em grupos para discussões de subeixos temáticos do Plano Estadual. Dois encontros regionais já foram realizados e outros quatro ocorrerão em abril, antes da etapa final em Belo Horizonte, agendada para 27 a 29 de maio.

Pesquisa deve auxiliar a gestão do SUS

Pesquisadores da Fiocruz Minas estão à frente do estudo que vai avaliar a saúde dos moradores de Brumadinho pelas próximas décadas. Além de dados mensuráveis por exames de laboratório, como níveis de colesterol ou pressão arterial, o estudo vai abordar também eventuais mudanças comportamentais, como tabagismo e alcoolismo, e o nível de estresse pós-traumático, que pode levar a transtornos psicológicos.

O ineditismo da iniciativa está, justamente, no acompanhamento de longo prazo, conforme destaca o biólogo e doutor em saúde pública Sérgio Peixoto. Segundo ele, há levantamentos pontuais, como um relatório produzido após o rompimento da barragem de Mariana (Região Central). “Mas os estudos internacionais apontam que 15 anos após uma tragédia assim, as consequências persistem”, aponta.

O pesquisador da Fiocruz Minas e também professor da UFMG detalha que o trabalho em Brumadinho foi demandado pelo Ministério da Saúde, com o propósito principal de preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) para essas demandas futuras, a partir da produção de informações que auxiliem na gestão.

“R$ 20 milhões foram destinados pela pasta para os quatro primeiros anos da pesquisa. Sem o investimento, seria inviável”, reforça.

A amostra do estudo terá 4 mil pessoas, com idades a partir de 12 anos. A pesquisa pretende cobrir todo o município e, por isso, acompanhará moradores de áreas que foram diretamente atingidas pela lama e também os residentes em regiões não atingidas.